Revista da ESPM JAN-FEV_2007
99 JANEIRO / FEVEREIRO DE 2007 – R E V I S T A D A E S P M Sobre espiritualidade uma palavra – transcendente – que acho importante e vai até um pouco além do sentido. “O termo vem do latim spiritus, que significa sopro de vida, quer dizer, alguma coisa que está ligada a energia, e é um modo de ser e sentir que ocorre pela toma- da de consciência de uma dimensão transcendente, sendo caracterizada por certos valores, identificados com relação a si mesmos, aos outros, à natureza, à vida e ao que quer que se considere o último”. Então, acho que espiritualidade vai bem além do que temos falado aqui – é alguma coisa que a pessoa sinta que tem conexão ao cosmos, ou seja lá o que for. E aí esses valores que estamos falando passam a es- tar subordinados a esse conceito. As organizações, evidentemente, dentro da globalização, para sobre- viverem, espiritualizadas ou não, têm de cortar custos, ser produtivas etc. Então, sendo dirigente de uma empresa que tem valores espirituais, em que medida vou aceitar demitir pessoas e substituí-las por máquinas que vão gerar uma produtividade maior, a um custo menor? Mas não gostaria de ver aquelas pessoas, que perderam seus empregos, debaixo da ponte... Aí vem a pergunta, além da definição bonita que li: como adaptarmos isso ao mundo real – e como eu sobrevivo? JR –A sua definiçãode espírito conduz a um sentido de bem. E foi dito aqui que o espírito pode ser do mal. MARIO – Faltou dizer isso. O título da minha tese é “Da dimensão espiritual das marcas”, e a espiritualidade pode ser humanizante ou fetichizada. O Saddam Hussein tinha lá sua espi- ritualidade. RODRIGO – Se entendermos que a espiritualidade pode manifestar-se e sustentar-se num contexto de diver- sidade, há como um alinhamento de harmonização entre todos que participam. Isso poderia ser uma evidência da efetiva espiritualidade, que é o que se falou do cosmos e aí é necessariamente o bem. Quando há uma unanimidade, um sentimento de totalidade, de plenitude, segu- rança, harmonia, paz, amor, está-se manifestando a espiritualidade. Quando são situações com pes- soas fanáticas que atuam como que dominadas por um espírito maléfico, poderíamos considerar como uma perversão, um fetiche, algo que não está no campo da espiritualidade, embora esteja no campo de forças da natureza. O que gostaria que debatêssemos seria a espirituali- dade como algo que tem a ver com o bem, com o superior, o elevado. Nesse sentido, em uma organiza- ção, todos os participantes – ou a maioria – são predominantemente movidos por esse clima, e seus par- ticipantes podem estar dando as suas contribuições individuais de forma positiva. Até o capitalismo vai além da ética. A ética é algo normativo, ao passo que a espiritualidade não tem forma. AUGUSTO – Não sei se é um jul- gamento e não vou defender. Talvez o trabalho seja falarmos sobre, em vez de dar uma definição. Também não farei julgamento sobre bem e mal, porque caímos nisso e não se sai mais, porém concordo com o Rodrigo na questão do alinhamento. Precisamos abrir mão da nossa ar- rogância, de ter controle e poder classificar e determinar todas as coisas que vimos e tentamos medir. Por um lado a medida é importante mas, por outro, dá a idéia de que existe um processo de controle e que o ser humano pode controlar isso ou aquilo. Quando os negó- cios e o que fazemos têm alma, há uma beleza especial, demonstram algo que não é necessariamente explicável – é um tenor que canta uma música específica que nos toca diferente porque é feito com algo mais, e é esse a mais que também é procurado nos negócios. Se o gestor é bom, como ele é com esse algo a mais? Dentro das empresas há muito do desenvolvimento pessoal, mas também o que se pode fazer pelo outro, no sentido de criar espaços para os outros entrarem em con- tato com esses temas e essa prática. Há vários caminhos. Por que não apresentá-los, de uma forma não doutrinária, para que cada pessoa possa escolher o seu? Se olho para o desenvolvimento das pessoas e do negócio, temos de criar espaço para as duas coisas. Por outro lado, se o único objetivo do empresário é criar dividendos – e por isso suga tudo que é possível daquele grupo de pessoas – isso também joga contra, num certo momento, não só com a empresa dele a médio e longo prazos, mas também com um processo maior. GRACIOSO – Gostaria de trazer ao “FALAR DE ESPIRITUALIDADE NA ERA DA GLOBALIZAÇÃO É JOGO DURO.”
Made with FlippingBook
RkJQdWJsaXNoZXIy NDQ1MTcx