RJESPM 10
16 JULHO | AGOSTO | SETEMBRO 2014 revista de jornalismo ESPM | cJR 17 4. Aplicar velhos métodos em novas situações Um vídeo apócrifo circula pela inter- net, mostrando políticos emsituações embaraçosas. Uma fotoépostada apre- sentando uma jovembrasileira supos- tamente atacada por skinheads nos arredores de Zurique, Suíça. (De tão exemplar, esse caso virou estudo em sala de aula.) O que ocorreu? Quem estava ali? Quem clicou a foto ou fez a filmagem? Quando, emque circuns- tâncias? As regrinhas básicas do pri- meiro ano de qualquer curso de jor- nalismo que se preze ajudam, e con- tinuarão ajudando muito. 5. Incorporar as novas narrati- vas em prol dos objetivos finais de uma reportagem: o furo, o lide, o ambiente, a luz sobre os fatos, o servir ao leitor Nas décadas de 1980 e 1990, fizemos nas redações umenorme esforço (tam- bém acompanhado de enormes ten- sões) para integrar texto, foto e arte. Esses dois últimos elementos de edi- ção se consolidaram como editorias transversais no processo jornalístico: estão a serviço e imbricadas comtodas as demais. Lá naquele início, usamos fotos e quadros apenas como ilustra- ção, e isso já tinha o seu peso. Levou um tempo para integrarmos esses ele- mentos emprol do resultado do traba- lho. Hoje estamos na mesma fase pre- liminar, quando o assunto é narrativa multimídia. Usamos vídeos, infográfi- cos animados eoutros recursosde inte- ratividade –mesmo as interações com as redes – ainda como penduricalhos. Falta entender quando e como esses novos elementos devem ser usados, e integrá-los ao processo produtivo da reportagem, desde o preparo da pauta. 6. Contar histórias Os meios se tornaram digitais, mas a vida segue analógica. Do lado de lá da tela, grande ou pequena, de mesa ou de bolso, tem um ser humano e seus cinco sentidos. Não haverá boa e bem contadahistória quenão será lida. Essa apreciação pode até começar empou- cos caracteres pinçados emuma reco- mendação de umseguidor, mas quan- tos decidirãomergulhar nas profunde- zas da reportagemintegral?Não todos, claro.Mas serãoaindamuitos, ecreiam: esses são o mesmo “tipo” de leitor de sempre, os que decidirão se deliciar com o todo. Essa segmentação sem- pre existiu, ela só está mais evidente. 7. Não esquecer de ser analógico As novas tecnologias colocam o quar- teirão, a cidade e o mundo na mesa de trabalho. As redes sociais fazem a repercussão das reportagens ocorrer de forma instantânea e intensa. A voz dos leitores ecoa dentrodas redações – oupelomenos deveria.Mas nada subs- titui estar no local do entrevistado, do evento, damanifestação.Mas também não basta a presença física, se me dis- traio olhando para o sistema de men- sagens e deixo de captar o que ocorre à minha volta. Épreciso estar , outra vez com grifo. Perceber nuances, expres- sões, ambientes, cores e cheiros. Ana- logicamente. Para depois pintar e bor- dar, literalmente, nos meios digitais. 8. Dosar velocidade e prudência Na dúvida, não poste, não repercuta, não recomende. Evite decidir pelo clamor da multidão a tuitar. Credibi- lidade foi e sempre será o patrimônio a ser buscado e preservado. 9. Entender de tecnologia Estar ciente das possibilidades de inte- ração, de narrativas e de difusão do trabalho jornalístico para a audiência. Essa é a forma demanter essa transpo- sição das essências jornalísticas para os novos meios de difusão. 10. Revisar esta lista de tempos em tempos Como seria escrito este texto daqui a alguns anos? Que novidades teremos até lá? As tais essências jornalísticas ainda estarão empauta? Arrisco dizer que sim, e firmemente.Mas vai depen- der das gerações que hoje editam e acreditamna sua capacidade de trans- plantar as células-tronco, que contêm o DNA do jornalismo, para o futuro. ■ ricardo gandour é diretor de conteúdo do Grupo Estado e membro do Conselho Editorial da Revista de Jornalismo ESPM . Os ciclos frenéticos vão contribuir para confirmar certas essências ou são sintomas de que seremos ultrapassados?
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