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24 JULHO | AGOSTO | SETEMBRO 2014 revista de jornalismo ESPM | cJR 25 é alienante é ter o próprio drone. É frustrante que as pessoas não enxer- guem que essa é uma ferramenta de poder. Mas o público não crê que os interesses da mídia estejam alinha- dos com os seus.” Não ajuda em nada que a palavra “drone” tenha conotação militar e abarqueuma taxonomiaabsurdamente ampla. Como observam entusiastas da tecnologia, a única coisa que um drone como o MQ-9 Reaper, usado pelas Forças Armadas americanas (um avião de milhões de dólares capaz de transportar mísseis Hellfire), tem em comum com o quadricóptero de iso- por e plástico Parrot, popular entre os civis, é que ambos voam. Uma parlamentar que conhece bem os dois tipos de drone é a sena- dora americana Dianne Feinstein, uma crítica da ideia de que os céus devem ser completamente abertos. Em janeiro, Feinstein topou comuma engenhoca dessas na janela de casa. Durante uma audiência do comitê do Senado sobre o futuro da aviação não tripulada, a senadora contou que um grupo que protestava contra a bis- bilhotagem praticada pelo governo tinha despachado o drone para voar sobre sua casa. “Fui até a janela dar uma olhada para ver quem estava lá fora. Topei com um drone na janela, olhando paramim”, comentou Feins- tein. “Que tipo de câmera ele trazia? Que tipo de microfone? Uma pessoa determinada podia ter acoplado tam- bém uma arma de fogo? São pergun- tas que exigem resposta. Ainda que a tecnologia de drones civis esteja na infância, o problema da privacidade já é considerável.” Um pouco de legislação Praticamente todos os estados da fede- ração americana estão discutindo as questões levantadas por Feinstein. Nove já aprovaram leis para regula- mentar o uso de drones. No Estado de Connecticut, parlamentares apresen- taramumprojeto de lei que endurece a pena por crimes cometidos comdro- nes, incluindo dez anos de prisão por voyeurismo, perseguição e assédio, e até20peloempregodeumdronecomo arma mortal. “Um drone pode servir para uma série de coisas incríveis – longe de nós querer proibir alguém de usar um drone de forma produtiva –, mas há potencial para abuso”, diz o depu- tado estadual James Albis, do Partido Democrata. “É umdebate quemuitos estados estão travando, seja qual for sua coloração política. É fascinante ver essa diversidade de diálogos.” Enquanto a legislação de Connecti- cut busca proteger o direito do indiví- duo à privacidade, estados como Fló- rida, Illinois, Montana, Oregon e Ten- nessee estãomais preocupados emcoi- bir excessos por autoridades de segu- rançapública.NoTexas, por outro lado, a ênfase do debate é proteger proprie- tários de terra da bisbilhotagemaérea de ambientalistas ou grupos de defesa dos direitos de animais. A preocupa- ção surgiu quando uma aeronave ope- rada remotamente registroupor acaso, ao voar ao longo de um rio no Texas, grandes volumes de sangue de suí- nos de ummatadouro próximo sendo derramados numafluente. Quando as imagens vieram a público, o local foi fechado e a empresa denunciada por despejo ilegal de resíduos industriais. Em resposta, o legislativo do Texas aprovou umprojeto de lei que estabe- lece sanções penais para quem tirar fotos de propriedades particulares sem permissão do dono usando umveículo aéreo não tripulado operado por con- trole remoto. Margot Kaminsky, dire- tora executiva do Information Society Project e professora de direito na Yale University, considera problemática a nova lei. O interessante, hoje, é saber “como equilibrar odireitodo fotógrafo, garantido pela primeira emenda [ da Constituição americana ], como direito à privacidade da pessoa fotografada”, diz Kaminsky. “Os estados estão ten- tando achar esse equilíbrio.” Pelo mundo é assim Emoutros países, a tecnologia encon- tra um clima jurídico mais favorá- vel. Como uma visita ao YouTube irá mostrar, nos últimos anos jornalis- tas-cidadãos e repórteres tradicio- nais usaram drones para cobrir pro- testos na Polônia, Ucrânia, Tailândia e Venezuela – volta e meia contradi- zendo a versão oficial sobre o tama- nho das manifestações. No ano pas- sado, na Turquia, a polícia derrubou um drone que filmava um protesto na praça Taksim, um episódio regis- trado emvídeo e postado no YouTube (a queda do drone, que por alguma razão pode parecer um ser capaz de ter sensações, teve um efeito pertur- bador, como se a polícia tivesse aba- tido um pássaro em pleno voo). Meios de comunicação no Brasil, emEl Salvador e noMéxico já usaram drones para cobrir protestos, eleições e engarrafamentos. No ano passado, na África, um jornalista digital que- niano criou o projetoAfricanSkyCam. Até aqui, o SkyCam tem uma equipe de drones em um jornal em Nairóbi, mas a ideia é estender o projeto piloto – apoiado pela Knight Foundation – ao resto do continente. A emissora britânica BBC come- çou a investir a sério em drones no ano passado. Hoje, já tem três mode- los. O equipamento é usado para pro- duzir imagens vívidas de aconteci- mentos como os ocorridos no Brasil às vésperas da Copa do Mundo. “O [ drone ] permite o registro de imagens de uma perspectiva única e dá a capa- cidade de transição entre tomadas. É como num sonho, aquela sensação de estar voando sobre as coisas, que anti- gamente só o cinema tinha condição de fazer”, diz Tom Hannen, produ- tor sênior de inovação da BBCGlobal Video Unit. A BBC prefere chamar o drone de câmera voadora. EmboraHannen não descarte o uso de drones na cobertura jornalística no futuro, a BBC vem avançando deva- gar, emparte porque no Reino Unido – onde a utilização é permitida mas estritamente regulada – a agência de aviação civil exige a apresentação de um plano de voo com antecedência, o que inviabiliza o uso na maioria das situações da cobertura diária. Nos Estados Unidos, a impressão é que a experimentação está fortemente concentrada no meio acadêmico. No começo do ano, a New York Univer- sity (NYU) ofereceu um curso de jor- nalismo com robótica aérea no pro- grama Interactive Telecommunica- tions Program(ITP), umprojeto inter- disciplinar de pós-graduação volta e meia comparado ao Media Lab do Massachusetts Institute of Techno- AR.Drone Parrot ( ao lado ) e DJI Phantom são modelos muito usados nos Estados Unidos ARQUIVO CJR

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