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30 JULHO | AGOSTO | SETEMBRO 2014 revista de jornalismo ESPM | cJR 31 Na virada de 2013 para 2014, um drone foi novamente utilizado pela TV Folha para filmar engarrafamen- tos no litoral paulista. Foram mos- tradas filas de automóveis de turis- tas que tentavam ir ou vir das praias da Baixada Santista durante os feria- dos de final de ano. Normalmente as redes de televi- são utilizam helicópteros para levar à audiência esse tipo de imagem. Com os drones, a captação revelou com mais realismo e proximidade a situa- çãode caos e desespero entre osmoto- ristas, que chegaram a passar mais de cinco horas para percorrer traje- tos que normalmente não ultrapassa- riam 50 minutos. Mais recentemente, a TV Folha empregou novamente umdrone para filmar e ter uma perspectiva mais ampla da situação geral do chamado sistema Cantareira, que engloba um imenso reservatório de água empre- gado no abastecimento de boa parte da cidade de São Paulo. Como a cidade está sob ameaça de racionamento de água, a opção pelo drone foi bem-sucedida aomos- trar imagens que deram uma dimen- são realista do risco de o reservató- rio secar antes da chegada da época das chuvas na região, quando normal- mente sua capacidade é recuperada. Aqui, novamente, vale a compara- ção com imagens captadas por heli- cópteros. Como os drones permitem voos mais baixos e em velocidades menores, foi possível captar cenas bastante dramáticas demargens secas e de outros elementos que atestavam o risco de chegar ao fim a reserva de água do sistema Cantareira. Mas foi durante os protestos de junho de 2013 que a utilização dos aparelhos teve grande efeito ao dimensionar a mag- nitude das manifestações. E serviu para aproximar os telespectadores dos manifestantes de forma absolu- tamente inusitada. Todas as redes de televisão, e a pró- pria Folha , empregaramhelicópteros para captar imagens aéreas das pes- soas e das ruas ou de regiões inteiras que elas estavam ocupando. Os drones também fazem isso, embora de forma limitada, já que não podemsubir a alturas equivalentes às de helicópteros. No entanto, sua van- tagemestá justamente empoder voar baixo, e discretamente, oferecendo uma perspectiva bastante realista e próxima do que se passa no local. No caso das imagens que foram ao ar, a opção da TV Folha foi a de fazer um“mix” entre o que foi captado com helicóptero e drone, fornecendo uma perspectiva mais geral do que se pas- sava nas ruas. Nessas ocasiões, os drones utiliza- dos pelaTVFolha foramdevidamente identificados comadesivos indicando o nome da Folha . Oobjetivo era garan- tir que não fossem confundidos com equipamentos da polícia, que estava diariamente nas ruas em confronto com os manifestantes. Umaspecto curioso é que ainda não existe no Brasil uma regra da Agência Nacional de AviaçãoCivil (Anac) para a utilização civil desse tipo de equi- pamento. Só agora a agência começa a se debruçar sobre o assunto. ■ fernando canzian é repórter especial da Folha de S.Paulo . a tv folha, departamentode video- jornalismo da Folha de S.Paulo , foi pioneira entre os grandes veículos de mídia ao empregar drones na cober- tura das manifestações de junho de 2013 no Brasil. Alémdesses veículos aéreos não tri- pulados (vants, no Brasil), foi também utilizada de forma inédita a tecnolo- gia do Google Glass para captar ima- gens dos protestos do ponto de vista dos manifestantes. O equipamento, que à época não estava disponível no Brasil, chegou a São Paulo pelasmãos da jornalista Fernanda Ezabella, cor- respondente da Folha em Los Ange- les, uma das primeiras a adquirir o Google Glass no mundo. Ao longo dos últimos meses, a TV Folha usou drones em seis ocasiões. Emtodas elas, foramcontratadas pes- soas especializadas que já fazem há algumtempo o uso desse tipo de equi- pamento para os mais diversos fins. Isso porque, embora se assemelhema brinquedos de aeromodelismo, os dro- nes são relativamente difíceis de ope- rar, alémde levaremcâmeras embuti- das que enviam imagens a um moni- tor no solo. Eles tambémforamusados emsitu- ações em que sobrevoaram milhares de pessoas, o que não dava margem para muitos riscos. A TV Folha alugou esses equipa- mentos e contratou operadores a um customédiodeR$ 2.000 cada um, mas o preço varia bastante dependendo do tempo de utilização. Emuma das experiências, omodelo utilizado foi um DJI Phantom, ope- rado pela empresa GoCam, especiali- zada em captar imagens aéreas. Esse equipamento temum raio de alcance de 300metros, pesa cerca de 600 gra- mas e possui bateria que proporciona autonomia de voode cerca de 15minu- tos. A escolha do modelo pequeno e leve visava reduzir danos às pessoas em caso de queda. As três primeiras ocasiões de uso do artefato foram durante os protes- tos de junho de 2013. Em outra opor- tunidade, ele foi utilizado para cap- tar imagens aéreas na Cracolândia, bairro degradado do centro de São Paulo onde se aglomeramdependen- tes de drogas. Nesse caso, a experiência mostrou de forma nunca vista nas TVs como os grupos de viciados se movimen- tam pelas ruas da Cracolândia. Além disso, forneceu uma perspectiva bas- tante próxima do estado de deterio- ração das ruas, edifícios e das insta- lações urbanas da região. Veículos aéreos não tripulados dão mais realismo e proximidade aos acontecimentos em terra, mar e ar Perspectiva em mutação enquanto isso no brasil... Fernando Canzian TV Folha usou drones na cobertura das manifestações de junho de 2013 FOLHAPRESS

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