RJESPM 10
32 JULHO | AGOSTO | SETEMBRO 2014 revista de jornalismo ESPM | cJR 33 a redação do buzzfeed , assim como a de qualquer outro meio da nova geração, é a antítese da tradicional. Um letreiro em neon festeja a marca registrada do site, a lista de curiosidades. Quem chega para o primeiro dia de trabalho é brindado pela recepcionista com um mole- tom e uma sacola de pano estampada com uma das clás- sicas manchetes irreverentes do site. As salas de reunião que circundama redação levamo nome daqueles posts de gatos que se tornaram virais: Shironeko, Princess Mons- ter Truck, Winston Bananas. Aqui, o velho receituário de jornais não temvez. Numa reunião pela manhã na qual se discutia como cobrir o discurso feito pelo presidente ao Congresso todo mês de janeiro para anunciar suas prioridades para o ano – o discurso do Estado da União –, só duas coisas inte- ressavam: conseguir imagens de qualquer bola fora que alguém gravasse com o aplicativo de vídeo Vine e dar um texto mostrando que ninguém está nem aí para o Estado da União. Ben Smith, diretor de redação do site e único de paletó entre os 29 ali reunidos, pede à equipe que produza mais conteúdo no formato de testes, os chamados “quizzes”. “Sei que vão tirar sarro, que vão dizer que o site só sabe dar testes”, afirma Smith. “E olha que o que estamos fazendo é só o começo.” O BuzzFeed não é mais um pequeno site mambembe. É uma organização jornalística grande, rentável, influente. Os vídeos virais que solta – emgeral, semnenhuma checa- gemprévia – vira emexe são armação. É o tipo de erro que deleita as carpideiras da velha guarda, loucas para afirmar certa superioridade ética.Mas, àmedida que vai crescendo –nos dezminutos que aguardei na recepção umdia desses, quatro pessoas se apresentarampara o primeiro dia de tra- balho –, o BuzzFeed não está só contratando mais redato- res de títulos geniais e produtores que entendem a gestalt de amantes de gatinhos. Osite decidiuque já não basta cor- rigir erros “depois” de publicados, pelomenos não no caso dos posts mais populares. Decidiu que faz sentido, tanto jornalística quanto comercialmente, garantir ao leitor que aquilo que publica é verídico. Daí estar adotando – e con- tratando – o símbolo supremo das inchadas redações de meios impressos do passado pré-digital: editores de texto. Há quase duas décadas, uma guerra cultural divide jor- nalistas. Mas o que parecia ser uma diferença entre gera- ções acabou se provando um racha sobre o próprio pro- pósito daquilo que fazemos. Toda a troca de farpas e o flagrante antagonismo entre velhos paladinos do ofício impresso e jovens cérebros por trás demeios digitais desa- guou num debate sobre valores: a velha guarda se consi- derava pautada pela busca da verdade, por certa capaci- dade de detectar o que o cidadão precisaria saber para ser umpleno participante da democracia; a função do jorna- lista seria chegar aos fatos e levá-los ao leitor, que saberia como tirar melhor proveito da luz que lançávamos. Já os NowThis News produz de 40 a 50 vídeos por dia, quase todos baseados em conteúdo viral Sem faltar com a verdade Sites reveem valores para harmonizar agilidade, irreverência e credibilidade. Já não basta corrigir erros “depois” de publicados por marc fisher Sean Hemmerle
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