RJESPM 10
36 JULHO | AGOSTO | SETEMBRO 2014 revista de jornalismo ESPM | cJR 37 mos evitar termos limitadores como ‘repórter’ e ‘editor’.” Toda quarta-feira – ou “MojoWed- nesdays”, como o dia foi batizado no jornal –, os repórteres do Record são orientados a sair da redação e ir se misturar com o público que cobrem. Lauren Boyer, 25, se instala num McDonald’s diferente toda semana e usa redes sociais para avisar aos lei- tores que está às suas ordens. Tem semana emque ninguémaparece; em outras, acaba conseguindo umamaté- ria ou uma fonte nova. Quando terminou a faculdade, não era assim que Boyer imaginava o futuro. “A única coisa que queria era fazer matérias e ver meu nome no jornal”, lembra. Hoje, contudo, está fascinada pelo desafio de misturar reportagem tradicional com o toque pessoal que acrescenta ao postar ao vivo no Twitter durante uma audiên- cia pública disputada, por exemplo. Boyer tenta seguir os mesmos padrões em toda plataforma. Se alguém faz um comentário difama- tório numa dessas audiências, por exemplo, não coloca no Twitter – assim como não o publicaria no jor- nal impresso. No entanto, émais solta em mídias sociais do que no Record . É mais autêntica, e gosta disso. Não significa ser menos rigorosa, só usar uma voz diferente, explica.Mas acres- centa: “Para trabalhar desse jeito é preciso ter muito mais cuidado, pois cometer um erro na internet é facílimo”. Na redação do Record , tanto vetera- nos quanto novatos dãomuita impor- tância à verdade e a padrões. Mas a ambição do jornal hoje é menor, sua cobertura diária, menos abrangente. Os editoresmemostraram, comorgu- lho, exemplos do estelar trabalho que haviam feito recentemente: uma série sobre diabetes; umadmirável projeto de longo prazo para narrar as agruras de veteranos de guerra na volta a casa. Mas qualquer noção de uma cober- tura completa e regular das cidades da região, a principal função do Record no passado, simplesmente se perdeu. Na corrida para produzir conteúdo sobre vários temas para várias plata- formas – e diariamente –, o jornalista não tem tempo para mirar tão alto. A carga cada vezmaior inevitavelmente derruba a qualidade, constata Paulo Kuehnel, fotógrafo do Record desde 1984. No dia em que falamos, Kueh- nel postou um vídeo sobre um homi- cídio seguido de suicídio, um sobre o tempo e outro sobre uma corrida de trenós puxados por cães, além de fotos sobre cada fato. “A gente diz que a grande prioridade é a exatidão, mas somoshumanos ehoje todomundo faz 20 coisas aomesmo tempo”, informa. Orgulhoso do trabalho que faz, Kuehnel sabe exatamente quantas pessoas viram o vídeo sobre o homi- cídio: 1.684 nas primeiras seis horas. Outras 793 viramo vídeo de uma der- rapagem na neve. E 106 o da corrida de trenós – só nos primeiros 25minu- tos. “Émuito”, declara. “E está ótimo, sobretudo para vídeos sem grande produção.” Uma razão para o Record poder se dedicar inteiramente ao noticiário local é que a controladora do grupo opera algo chamado Thunderdome: uma equipe de cerca de 50 jornalistas que a Digital First instalou em 2012 no 25º andar de um edifício comer- cial emWall Street. Essa redação pro- duz o grosso do conteúdo “não local” para cada um de seus jornais: cobre assuntos nacionais e internacionais; edita vídeos para o site de cada jor- nal; redige matérias sobre gastrono- mia, saúde e tecnologia; e cobre aquilo que está ocorrendo no momento, as notícias de última hora, que os ame- ricanos chamamde “breaking news”. Mas a equipe não é como a redação central de uma empresa jornalística tradicional. Na Thunderdome, não há repórteres especializados cobrindo eventos importantes no dia a dia. A equipe é um exemplo da definição digital do jornalismo: o que faz, basica- mente, é agregar e reembalar omate- rial de agências, de outros fornecedo- res de conteúdo e de jornais locais. “Se pegamos umamatéria do Washington Post , não vamos reeditá-la”, detalha o editorMike Topel. “Ameta é enrique- cer o conteúdo como digital.” Produ- tores da Thunderdome também ficam atentos às últimas notícias e a memes que estão fazendo furor na internet, para que todos os sites da Digital First nos Estados Unidos possam refletir o que está acontecendo no momento. Impresso e digital em sintonia Diretor de redação da Digital First, Jim Brady revela ter criado a Thun- derdome emparte para ajudar as reda- ções do grupo a virar um lugar no qual a disputa entre impresso e digital se tornasse irrelevante. A equipe é for- mada, em sua maioria, por veteranos do meio impresso; a ideia de Brady é que essa turma case a tradição de completude, verificação e autoridade do impresso coma agilidade e a sinto- nia com os interesses do público que imperam no digital. “A briga segue”, explica. “Mas estáperdendo força, pois o pessoal do digital foi parar em pos- tos de liderança e todo mundo desco- briu que a agregação temseus limites. Além disso, gente dos dois lados hoje sabe que émelhor chegar emsegundo do que dar algo errado.” Sean Hemmerle O BuzzFeed está em campanha para ganhar a confiança de um público cada vez mais exigente
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