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38 JULHO | AGOSTO | SETEMBRO 2014 revista de jornalismo ESPM | cJR 39 Quando o Twitter está fervilhando com imagens de um levante, uma revolução ou um incêndio que seja, a Thunderdome recorre ao Storyful, que checa a veracidade do que sai em redes sociais. A equipe de 18 fun- cionários do Storyful monitora redes sociais, YouTube e outras fontes de vídeo para saber que imagens e repor- tagens estão populares. Em seguida, tenta checar se omaterial é autêntico e passa os resultados ameios de comu- nicação, seus clientes. “Se não há nada em agências e vemos que o Storyful está investigando a imagem, se puder- mos achar um jornalista idôneo que tenha tuitado a imagem, postamos”, diz KarenWorkman, editora adjunta de breaking news da Thunderdome. Orçamento enxuto Enquanto aThunderdome se vira para criar simulacrosdeumprocessodeche- cagem que já não cabe em seu bolso – nem no de outros veículos de comu- nicação –, um fato permanece inalte- rado: a maioria do conteúdo que está reunindo foi produzida originalmente por terceiros. A Thunderdome tem uma única repórter, Bianca Prieto, que veio do jornal Orlando Sentinel . Bianca gosta de romper comtradições – o que é bom, pois a repórter volta emeia tem de editar o que ela própria produz. O jeito é improvisar: “Quando termino uma matéria, imprimo o texto, pego uma caneta vermelha e leio tudo de novo. Depois, peço a ajuda de colegas: abro o Skype e pergunto se alguém ali pode dar uma lida na coisa”. Na sexta-feira que passei na Thun- derdome, uma reportagem que fiz para o Washington Post , onde tra- balho, estava sendo feita para a edi- ção de domingo do jornal. Depois da conversa com Bianca, enquanto checava minhas mensagens, desco- bri que cinco editores tinham per- guntas ou sugestões sobre a matéria: o editor queme pautara, umeditor de texto, o editor do caderno, outro edi- tor do caderno e o editor da edição de domingo. Essa abordagemredundante – atipicamente densa, pois o texto sai- ria na primeira página num domingo – tranquiliza o autor, mas não é garan- tia de perfeição. Quatro horas depois de o texto sair no site, um dos prin- cipais personagens da matéria recla- mou que eu colocara sua família em risco ao dar detalhes demais sobre o local onde ele morava – decisão que não gerara nenhuma discussão entre os seis de nós que tinham lido deti- damente o texto antes da publicação. Isso posto, há dias em que não me importaria em trabalhar sob o lema de Mike Topel, do Washington Post : “Antes de postar, uma boa lida basta”. Agilidade sempre foi parte do jor- nalismo. A corrida para dar um furo antes dos outros já fez muita maté- ria ser publicada sem uma apuração sólida. Qual, então, a novidade nos critérios das novas redações? É uma questão de intenção: nos primórdios do jornalismo digital, o ofício evitou impor suas escolhas e valores ao lei- tor; a ideia era buscar a sintonia com os interesses dopúblico. Ultimamente, no entanto, editores demeios digitais vêmapregoando umpreceito da velha escola: o que o leitor quer é orienta- ção e credibilidade: quer saber o que é fato, o que é verdade. E o jornalista, até emmeios comverba curta e equipe sobrecarregada, pode expor a verdade e checar os fatos. Segundo Robyn Tomlin, editora da Thunderdome, embora velhos proce- dimentos tenhamsido abolidos, valo- res tradicionais ainda regema opera- ção. “Já que todo mundo aqui tem o DNA do meio impresso, certas nor- mas são arraigadíssimas.” Enquanto Tomlin profere essas palavras, Work- man e outros dois produtores – não há editores de texto ali – entram numa discussão acalorada sobre quando é certo escrever “Terra” commaiúscula. A NowThis News é uma empresa pequena – poucomais de 20 produto- res e editores acotovelados emmesas de laminado branco numa redação no segundo andar de um edifício no sul de Manhattan. Essa equipe gera de 40 a 50 vídeos por dia – clipes de seis segundos para o site Vine, spots de dez segundos para o Snapchat, ver- sões de 15 segundos para o Instagrame vídeosmais longos (30 segundos a um minuto) para o Facebook e a internet. Quando o governador de New Jersey (Chris Christie) declarou numa cole- tiva de duas horas que não era um “valentão”, a NowThis colou segun- dos da entrevista a três ou quatro tre- chos emvídeo commostras da trucu- lência do governador e, emuma hora, postou o resultado, com 15 segundos no total, no Instagram. “Tudo o que fazemos é irreverente, mas não descuidado”, declara o dire- tor de redação, Ed O’Keefe, 36 anose veterano da ABC News. “Tiramos o que é supérfluo, o que distancia [ o público ]. A geração YouTube sabe que a notícia evolui. É crua, nem sempre é correta, mas é instantânea.” A velha e a nova escola Aí está a diferença fundamental entre a velha escola e a nova. Ainda não vi, no meio impresso, um editor que dis- sesse algo parecido em voz alta. Mas já ouvi uma série de editores – gente que pena para descobrir como com- petir digitalmente – aceitar a ideia de que postar algo rapidamente pode ser mais importantedoquechecar àexaus- tão os fatos. Não se trata de encampar a amoralidade da imprensa marrom. O’Keefe é umjornalista sério que tenta achar umpadrãoque funcionenonovo mundo. Não quer enganar o público. Quer, antes, chegar coma versãomais próxima possível da verdade aonde o público está – no celular, agora. Daqui a minutos, essa gente não estará mais ali; terápassadopara anotícia seguinte. A NowThis produz pouco mate- rial próprio; quase todo vídeo vem de emissoras de TV, agências e con- teúdo viral. Logo, seu valor está num formato singular de narrativa visual. A NowThis acrescenta gráficos cha- mativos e uma narração coloquial que mescla opinião e reportagem. Ins- tigante, o formato levou a emissora NBC a comprar uma participação de 10% da empresa em janeiro e a resol- ver usar seus vídeos. “A agilidade é parte da marca”, afirma Ashish Patel, diretor da empresa para redes sociais. “É o que vendemos. Portanto, nossa checagem éultrarrápida, comverificadores inde- pendentes.” Isso significa que “se o [ New York ] Times estiver publicando algo, já está checado”. Uma declaração dessas teria causado furor no WashingtonPost , ondeKatha- rine Zaleski foi produtora executiva antes de virar a primeira editora-chefe daNowThis. Zaleski eraumverdadeiro para-raios na guerra cultural travada no Washington Post . Para ela, a reda- ção devia deixar de girar em torno do impressoeavançaràvelocidadedainter- net. Paracertos repórteres eeditoresdo jornal,seutrabalhoerasinônimodequa- lidade inferior. Olhando hoje, Zaleski não culpa essa turma: “Quando está perdendo circulação, dinheiro e ami- gos, a pessoa se concentra em intangí- veis – na reputação, em padrões. Era a isso que se agarravam”. Por outro lado, “organizaçõesdavelhaguarda têm, sim, de sermais cautelosas. No Washington Post , aprendi como é precisopaciência para fazer um jornalismo de primeira. Nas novas organizações, simplesmente nãoháverbapara isso. Paciência requer receita”, acrescenta. A NowThis pretende produzir mais conteúdo próprio e se empe- nhar mais para checar a veracidade de cada vídeo. Até lá, o jeito é apos- tar numa velha manobra do jorna- lismo: esquivar-se. Quando pensaram em postar um vídeo viral de um urso entrando numa loja de conveniência e pegando um copinho de iogurte, os produtores da NowThis suspeita- ram que a qualidade do material era boa demais para vir de um usuário qualquer. Em vez de postar o vídeo, a equipe sondou o público para saber Organizações como a NowThis News criam valor com material de emissoras de TV, agências e conteúdo viral. O segredo está no formato da narrativa visual
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