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40 JULHO | AGOSTO | SETEMBRO 2014 revista de jornalismo ESPM | cJR 41 se era real ou armação (descobriram que era um trecho de um comercial do iogurte Chobani). Em setembro, a NowThis postou o vídeodagarotaque cai ao fazer omovi- mento da dança “twerk” e põe fogo na própria roupa – incrível demais para ser verdade, a sensação viral era uma armação do apresentador de TV americano JimmyKimmel. “Achamos que fosse verdade”, declara a produ- tora Sarah Frank. Quando a farsa foi descoberta, “demos um texto infor- mando que tínhamos caído na pegadi- nha”. De acordo comos executivos da NowThis, o público se contenta com essa transparência, mas eles também admitem que gostariam de achar um jeitode simplesmente evitar que erros do gênero fossem cometidos. Frank, que aos 31 anos de idade já passou por Newsweek e New York Magazine , acha revigorante trabalhar num lugar que está sempre testando até onde a notícia pode ser diver- tida e pessoal sem esbarrar na rea- ção defensiva que colegasmais velhos da Newsweek exibiam: “Você vai man- char a imagem da revista!” Segundo Sarah, que está coordenando a nova relação com a NBC, todos entendem que, para a NowThis manter a criati- vidade, é preciso evitar regras rígidas e sistemas hierárquicos que possam tirar a agilidade da produção. Sean Mills, novo presidente da NowThis, assumiu emdezembro. Veio do jornal satírico TheOnion , onde des- cobriu que o público jovemdesdenha de muitas convenções da narrativa: âncoras, texto com pirâmide inver- tida e neutralidade hoje parecemuma paródia do Onion . Mills afirma, con- tudo, que a credibilidade vinculada a certos nomes da velha mídia ensina a novos meios uma bela lição: a ver- dade ainda importa. Talvez não haja uma relação direta entre cair no trote do “twerk” e perder audiência, mas Mills acha que evitar o erro é essen- cial para a imagem da marca. O que ele ainda não encontrou é o equilíbrio ideal entre opinião e informação sim- ples e pura, entre conteúdo próprio e agregação, entre checar fatos e deixar o público se virar sozinho. ParaMills a ideia é gerar confiança. Nãohá recursos para checar tudo, mas a resposta está na transparência: “Se não dá para ter certeza, basta dizer que não foi possível checar”, afirma. “O novo consumidor gosta de estar a par desse processo.” Transparência é fundamental Emmuitasredaçõescomequipeenxuta, transparência é a palavra de ordem – diga ao leitor o que não dá para fazer (checar a autenticidadedevídeos, diga- mos) e ponto. Mas, àmedida que cres- cem, novos meios podem descobrir que o sucesso ajuda a resolver parte dos problemas. Shani Hilton, 28 anos, saiu de uma afiliada da rede NBC na capital ame- ricana e do Washington City Paper e foi para o BuzzFeed comumamissão: “Assumi a meta de injetar mais DNA da velha escola neste lugar”, declara. Diretora adjunta de redação, Hilton subiudeumpara três onúmerode edi- tores de texto (outros virão). Aprodu- tores céticos, ela informa que é possí- vel checar emelhorar o conteúdo sem desacelerar muito a máquina. “Eles têmde sentir que não estão sendo obs- truídos, ou não dará certo”, explica. Editores de texto hoje conferem tudo o que sai nas listas dos dez mais do BuzzFeed – um sinal palpável de que umpúblicomaior pede mais res- ponsabilidade e cautela. “Se algo vai ser viral, queremos que esteja cor- reto”, pondera Hilton. “Mas tem gente aqui que não se considera jor- nalista, então há todo um processo de aprendizagem.” Hilton pede que os produtores entrem em contato com autores do conteúdo viral que postam. “Peguem o telefone”, diz. “Em vez de apenas conseguir tráfego, tentem influen- ciar a conversa.” “Até bempouco tempo, oBuzzFeed era visto como um lugar para encon- trar coisas divertidas”, esclarece Ben Smith, chefedeHilton. “Masnãocomo um lugar no qual dava para confiar. Agora, estão vendo [ o site ] como um lugar no qual é possível se informar”, completa.Mas issoexigeoutra cultura. NãoqueSmith, que veiodo sitePoli- tico, vá desacelerar ometabolismo do BuzzFeed. “Se seus leitores jáestãocer- cados disso, esperar é abdicar da res- ponsabilidade”, explica. Smith refle- tiu sobre o fato de o site ter apontado o suspeito errado na correria que se seguiu ao ataque combomba namara- tona de Boston. Sua conclusão? “Foi um erro feio, mas quando acontece algo dessamagnitude a coisa é sempre um caos total. A solução é ter mais e melhores repórteres, para não depen- der da CNN.” O BuzzFeed ainda vai espelhar o que as pessoas veem na internet, mas não cegamente. Para atingir um público que aceita o anonimato mas desconfia de motivos e fontes, Smith acha que umBuzzFeedmaior precisa de uma abordagemmais sutil na edi- ção. Textos rotineiros, que não geram polêmica, ainda são postados direta- mente por produtores. Já se o con- teúdo faz acusações sérias, “quere- mos que seja à prova de bala”. Para tanto, alguém fará uma edição detida e outros editores darão uma olhada informal. Já grandes reportagens e investigações do próprio site passa- rão por umprocesso de edição e che- cagem de fatos por terceiros. Mas Smith rejeita “normas rígidas, como ‘é preciso ter duas fontes para publicar algo’. É fácil achar nove fon- tes que digam a mesma coisa e ainda assim soltar um erro. Prefiro confiar em jornalistas espertos e no Twitter”, corrigindo a notícia à medida que for se desdobrando. Aabordagemiterativa,emboracapte bemo espírito da internet, ainda irrita muitos jornalistas da velha guarda; numa crítica ao BuzzFeed (“The Tru- thiness of BuzzFeed”), AndrewSulli- van, um influente comentarista inglês radicado nos Estados Unidos, disse que a ética do “postar primeiro, checar depois” fere o pacto entre jornalista e leitor. Seria uma irresponsabilidade do BuzzFeed ter publicado, durante o feriado americano de Ação de Gra- ças, o falso relato de uma briga entre um produtor de TV de Hollywood e umamulher que se queixava do atraso num voo, disse Sullivan, sob a tese de que entretenimento e jornalismo ocu- pam“esferas nitidamente separadas”. Depois que a farsa foi exposta, o BuzzFeed postou uma nota infor- A Thunderdome mantém uma equipe para embalar e fornecer notícias nacionais para várias redações Sean Hemmerle
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