RJESPM 10
4 julho | agosto | Setembro 2014 revista de jornalismo ESPM | cJR 5 O comportamento da imprensa brasileira durante a Copa do Mundo de 2014, do momento em que se definiu que ela seria realizada aqui até a derrota no Mineirão, foi errático e simbólico de vários de seus problemas crônicos atuais. em 2007, quando a fifa formalizou o país como sede da competição, e nos anos imediatamente seguintes, auge do otimismo eufórico do segundo governoLula, jornais, revis- tas e emissoras de TV embarcaram sem constrangimen- tos no ufanismo incontido de uma supercopa do hexa que vingaria 1950. Não se tratava apenas de surfar na onda do público, que – supunha-se – iria se engajar totalmente no entusiasmo da Copa do Brasil. Apenas isso já teria sido nefasto demais para a imprensa, pois o seu papel social não é ir a reboque do que sua audiência deseja. À imprensa cabe dialogar comseus consumidores de um modo que ela e eles se influenciemreciprocamente e apon- tem caminhos e alternativas que uma e outros não seriam capazes de contemplar por si sós. É assim que ela ajuda a sociedade a conversar e buscar consensos. Mas alémdo vício, que parece estar se tornando hegemô- nico, de cada veículo se tornar mera caixa de ressonância a amplificar como eco as preferências e opiniões dos que o assistemou leem, ainda houve o perigo de outra tendên- cia crescente e deletéria para a imprensa: o estreitamento dos muros que separam igreja (redação) e estado (publi- cidade) no traçado da estratégia dos meios. ACopa doMundo é uma extraordinária oportunidade de aumento de receitas para todo o conglomerado de mídia de um país que hospeda esse evento, que há muito dei- xou de ser esportivo para se transformar num bilionário aparato de negócios, nem todos lícitos ou éticos, como se tem comprovado. Para poder maximamente usufruir dessa possibilidade de faturar muito em tempos cada vez mais difíceis para a indústria, a imprensa não viu maiores problemas em embalar a grande “ola” nacionalista engendrada por governo, patrocina- dores, Fifa e suas adjacências. Mas em junho de 2013, quando os protestos de rua contra os gastos rea- lizados na copa pegaramo país de sur- presa, estabeleceu-se o impasse, já que os leitores e espectadores se posiciona- vamdo lado oposto ao da Fifa e todos os seus autorizados a ganhar dinheiro. Da contradição resultou uma cober- turapor vezes esquizofrênicadoensaio da Copa das Confederações, que aca- bou encontrando uma fórmula um pouco inusitada de tentar conciliar os opostos: separar a seleção da Copa. O time nacional, “o Brasil”, podia ser elogiado sem nenhuma peia por- que ele era amado pelo povo; o outro Brasil, do governo e submetido à Fifa, podia ser malhado também semcontenções, pois era con- tra este que gritavam as ruas. Felipão podia dizer que havia convocado Júlio César só porque os jornalistas não queriam que ele fosse convo- cado, jurar que com o seu grupo iria até para o inferno: muito poucas vozes na imprensa se levantaram para cri- ticar o “escrete canarinho”. Do mesmo modo, as agências publicitárias recomenda- vam aos clientes que colassem as suas marcas à da sele- ção, não à da copa. Ao ficar claro que haveria copa e possivelmente sem nenhuma catástrofe de organização ou infraestrutura, e com a equipe nacional nos campos, apesar de trancos e barrancos, caminhando aparentemente rumo ao tão sonhado título, as coisas se acomodaram de novo na zona de conforto. E voltamos ao discurso do “nós”, da primeira pessoa do plural majestático, em que tudo se funde como numa grande família, bemao gosto de Scolari: o povo, o governo, a seleção, os anunciantes, tudo “é tóis”. Até que veio a Alemanha comsua blitzkrieg de 8 de julho, que vai ficar no calendário da história do futebol como o de infâmia pior do que o 16 de junho. E a imprensa rea- giu como se tivesse sido um 11 de setembro verde e ama- relo: “fiasco, humilhação, massacre, vergonha, catástrofe, pânico, achincalhe, cicatriz, pífio, trauma, escombros, desonra, desastre...” Depois da catarse e de ter recomendado enfaticamente que o futebol do Brasil precisa ser repensado, renovado, reconstruído, a imprensa tambémdeveria parar paramedi- tar sobre o que fez nesta copa e como vai agir nas futu- ras copas de futebol e em todos os assuntos que cobrir. ■ A Copa do Mundo é nossa editorial presidente J. Roberto Whitaker Penteado vice-presidentes Alexandre Gracioso, Elisabeth Dau Corrêa, Hiran Castello Branco e José Francisco Queiroz diretoria Flávia Flamínio (diretora-geral da espm Rio de Janeiro), Richard Lucht (diretor-geral da espm Sul), Luiz Fernando Garcia (diretor da Graduação da espm São Paulo) e Licínio Motta (diretor da Pós-Graduação da espm São Paulo) conselho editorial J. Roberto Whitaker Penteado (presidente), Eugênio Bucci (secretário), Carlos Eduardo Lins da Silva, Caio Túlio Costa, Carlos Alberto Messeder, Janine Lucht, Judith Brito, Maria Elisabete Antonioli e Ricardo Gandour redação da revista de jornalismo espm diretor de redação Eugênio Bucci editor Carlos Eduardo Lins da Silva editora-associada Ana Paula Cardoso diretora de arte Eliane Stephan editora-assistente Anna Gabriela Araujo assistente de arte Elisa Carareto Alves coordenadora editorial Lúcia Maria de Souza tradução Ada Félix e Mário Bucci revisão Bia Mendes assistente de produção Ruan de Sousa Gabriel A Revista de Jornalismo espm é uma publicação trimestral da ESPM, com conteúdo exclusivo da Columbia Journalism Review endereço Rua Doutor Álvaro Alvim 123 - Vila Mariana - São Paulo - SP - CEP 04018-010 editorial 11 - 5085-4643 e-mail rj@espm.br informações 11 - 5085-4508 e-mail revista@espm.br assinaturas assinatura@espm.br | www.espm.br diretor da columbia graduate school of journalism Steve Coll presidente Victor Navasky diretora de redação e publisher Elizabeth Spayd editor Brent Cunningham editora-associada e de produção Christie Chisholm editor-associado Kira Goldenberg equipe de redação Liz Cox Barrett, Greg Marx, Michael Meyer (Agência de Notícias) auditoria Dean Starkman (Kingsford Capital Fellow), Ryan Chittum (Editor Adjunto), Martha Hamilton (Auditora) editores-assistentes Alexis Sobel Fitts, Edirin Oputu editores colaboradores Ben Adler, James Boylan, Curtis Brainard, Julia M. 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Mais uma vez, a ESPM cumpriu o seu papel, fiel aos princípios que nos foram legados pelos seus fundadores.” Francisco Gracioso
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