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76 JULHO | AGOSTO | SETEMBRO 2014 revista de jornalismo ESPM | cJR 77 tenas de imagens de fotogra- mas diferentes para criar uma imagem fictícia (como o grande aeroporto inexistente, cheio de aviões fotografados em lugares diferentes do mundo e que nun- ca estiveram na mesma pista ao mesmo tempo). Esta é a primeira vez que tan- tas fotos são reunidas em um mesmo volume quase obsessivo, sem qualquer tratamento. Cada foto é marcada conforme a sua coordenada exata do lugar, co- mo se fosse uma receita para um outro piloto que queira conferir pessoalmente a imagem exta- siante. Para saber mais, acesse: www.aereasdobrasil.com.br/ ■ para ler e para ver leão serva Abastecimento de Boeing e Airbus no Aeroporto Internacional de Guarulhos LIVRO Aéreas do Brasil – fotografia panorâmica de Cássio Vasconcellos Com medo de arder no fo- go do inferno, pecadores ricos, como traficantes de escravos e agiotas, faziam grandes doa- ções à Igreja em troca de missas diárias para o resto dos tempos. Pagavam, também, para tentar garantir o perdão ou a perpe- tuação de sua memória. Em A Economia da Salvação , o jorna- lista baiano Biaggio Talento nar- ra inúmeros casos desse tipo de negócio que ele pesquisou nos anais da história da Bahia, as- sim como nos arquivos de jor- nais antigos. São casos como o do ex-es- cravo africano Joaquim de Al- meida, que ficou rico no tráfico negreiro em parceria com o ne- gociante pernambucano Manoel Aéreas do Brasil Cássio Vasconcellos Editora BEI, 2014 236 páginas A Economia da Salvação Biaggio Talento Editora Primeira Edição/ Assembleia Legislativa da Bahia, 2013 350 páginas Cássio Vasconcellos acaba de lançar o livro Aéreas do Brasil (Editora BEI), com fotografias feitas em voos de helicóptero ao longo de cerca de duas décadas. Em suas 236 páginas, predomi- nam fotos tomadas em sentido vertical, com cenas de causar verti- gem, em que a altura transforma os elementos no chão em minia- turas quase abstratas. Menos frequentes são as clicadas em senti- do horizontal, captando imagens que estão ao longe, como nuvens, montanhas ou o skyline do Rio de Janeiro e de São Paulo, que fo- ram escolhidos para as duas capas do livro. Vasconcellos é um dos mais importantes fotógrafos brasileiros da atualidade, o que não é pouco em um país que dá ao mundo Se- bastião Salgado e Vik Muniz e mais uma cornucópia de talentos. Um conjunto de obras suas foi o grande destaque de fotografia da exposição SP Arte de 2012. Eram composições de diversas ima- gens aéreas, feitas de aeropor- tos, da Ceagesp ou de automó- veis, reunidas em computação em um único e imenso mural. Quando tinha pouco mais de 20 anos, Cássio foi jornalista, como parte de um time de jo- vens fotógrafos levados à Folha de S.Paulo durante um processo de renovação estética conduzido pelos editores Luiz Caversan e Lenora de Barros, com consulto- ria do veteranoDavidDrewZingg. Isso foi na virada dos anos 1980 para os 90, um desses momen- tos felizes da história do jornalis- mo em que um processo de mu- dança é abraçado com mais fa- cilidade por uma nova geração, sem apego a padrões vigentes anteriormente, criando um mo- vimento claro, orgânico, reco- nhecível no tempo, no espaço e nos nomes de seus componen- tes. À época, a Folha trocara to- do o seu equipamento fotográ- fico e, pela primeira vez, havia montado umestúdio na redação. Os novos fotógrafos fizeram muitas inovações estéticas, que coincidiram com a adoção da impressão colorida todos os dias. Vários dos profissionais que por ali passaram se desta- cam hoje no circuito de galerias da fotografia paulistana: além de Vasconcellos, fizeram parte daquele grupo nomes como Ru- bens Mano, Cristina Guerra, Mo- nica Vendramini, Bel Pedrosa e Ed Viggiani. Logo Cássio Vascon- cellos voltou a se concentrar na fotografia artística, que já fre- quentava antes de trabalhar no jornal (sua primeira exposição foi aos 17 anos). Mas, já então e em todo esse tempo, duas paixões infantis, pela fotografia e por voar de helicóptero, uniram-se na ma- turidade para gerar uma pro- dução constante de fotos aé- reas que resultaram no livro. Sua experiência com a fotogra- fia feita durante voos o tornou tambémmuito requisitado para fotos comerciais, publicitárias ou de construtoras, como narra Xavier Bartaburu na apresenta- ção do livro. Alguns de seus trabalhos an- teriores já utilizaram fotogra- mas feitos do alto, por exemplo nos livros anteriores Panorâmi- cas (DBA, 2012) e Aéreas , da sé- rie Fotógrafos Viajantes (Terra Virgem, 2010). Também eram aéreas as fotos usadas para compor as grandes montagens apresentadas na SP Arte de 2013, que juntavam várias cen- livro Pecadores tentando comprar um lugar no céu Cássio Vasconcellos de Almeida, seu ex-proprietá- rio. Ao fim da vida, rico e apa- rentemente arrependido, faz um testamento em que distribui di- nheiro e dá liberdade a vários escravos e escravas, além de pedir que fosse enterrado com “o corpo amortalhado no hábi- to dos religiosos do São Fran- cisco”, “sepultado no convento do mosteiro da ordem” e pediu que rezassem “25 missas de cor- po presente”. O comércio entre pecadores em busca de salvação e os re- ligiosos envolvia como um dos serviços mais caros o enterro dos doadores dentro das igrejas. Um tipo de transação que fica- va ameaçada pela criação de ce- mitérios, o que acabou gerando em 1836 uma revolta na Bahia conhecida como “Cemiterada”. O local, chamado Campo San- to, só viria a funcionar integral- mente, já como parte da Santa Casa de Misericórdia, quase 20 anos depois. Biaggio Talento, que é repór- ter especial do jornal A Tarde e por cerca de 20 anos foi corres- pondente do Estadão em Salva- dor, não se restringe aos casos baianos documentados nos sé- culos da colônia. Seu livro nave- ga por uma extensa literatura de reflexão sobre a relação entre o homem, a morte e as religiões desde os primórdios dos tem- pos, e seu trabalho jornalístico inclui reportagens sobre cemité- rios, seus clientes e os trabalha- dores, até o século 21. ■
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