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78 JULHO | AGOSTO | SETEMBRO 2014 revista de jornalismo ESPM | cJR 79 FOTOGRAFIA A holandesa Claire Felicie publicou, em maio, um ensaio de fotos com os índios xukuru de Pernambuco, hoje 12 mil habitantes que vivem em um conjunto de montanhas na Serra do Ororubá. Segundo o site Povos Indígenas do Brasil, do Instituto Socioam- biental, os registros da etnia datam do século 16, mas diversos em- bates e expropriações fizeram suas aldeias serem quase extintas. Somente quatro séculos depois, em 2001, seu território foi homo- logado como Terra Indígena, instrumento que ajuda a salvaguar- dar as aldeias e cultura dos índios. O ensaio de Felicie procura representar o conflito identitário que os xukurus vivem nos tempos atuais: uma sobreposição de tradições culturais (próprias de uma etnia indígena) com práti- cas da vida moderna. Para ver o ensaio completo acesse: http:// www.foreignpolicy.com/articles/2014/05/13/bem_viver_in_brazil ■ O Réu e o Rei não é uma tra- gicômica trova medieval, mas o nome do novo livro de Paulo Cé- sar de Araújo, omais famoso, po- rém renegado, biógrafo do can- tor Roberto Carlos. O historiador e jornalista ganhou notoriedade depois de escrever a biografia não autorizada do seu ídolo, o livro Roberto Carlos emDetalhes , em dezembro de 2006. Apesar do sucesso, que fez a obra en- trar para a lista dos mais vendi- dos em poucos dias, Araújo foi acusado, ainda no Natal daque- le ano, de violar a privacidade do cantor, que, por esse moti- vo, processou o autor. O livro, que era quase uma hagiogra- fia, virou uma pedra no sapa- to do escritor. Revista livro Democracias autoritárias do século 21 usam imprensa estatal Fotógrafa holandesa faz ensaio com índios xukuru O Réu e o Rei: a tragédia O Instituto Fernando Hen- rique Cardoso (iFHC) lançou, no mês de maio, o volume 3 do Journal of Democracy em portu- guês, com diversos artigos so- bre mídia e política. Disponível em seu site, o número mais re- cente da publicação semestral traz uma reportagem sobre o papel da “mídia estatal” e sua relação com regimes autoritá- rios, em artigo de Christopher Walker e Robert W. Orttung. A tese dos autores é a de que “ve- ículos de comunicação contro- lados formal ou informalmen- te pelo Estado tornaram-se in- dispensáveis para a manuten- ção dos governos não democrá- ticos mundo afora. As mensa- gens que essa imprensa disse- mina – e a apatia que ela provo- ca na população – ajudam a evi- tar a deserção de elites cruciais ao regime e a prevenir que ou- tros centros de poder emerjam na sociedade”. Para tanto, pautam-se em exemplos como os governos da Rússia, Irã e China, explicando suas diferenças e particularida- des – inclusive em relação à in- ternet. Além disso, citam o mo- delo de imprensa estatal – co- mumente difundido na Améri- ca Latina – típico de democra- cias fracas, como as do Equador e Nicarágua. Nesta última, por exemplo, explicam que metade das emissoras de TV do país é do presidente (Daniel Ortega) e de seus três filhos; a família também lançou, recentemente, websites e “centros de trolls”, mecanismo utilizado como in- timidação à oposição. Segun- do analistas políticos, esse tipo de intervenção ajudou Ortega a vencer as eleições de novem- bro de 2011 com 63% dos votos. Mas não é só a América Latina que padece desse conflito de in- teresses. A mídia turca também perdeu grande independência quando os principais donos de órgãos da imprensa começaram a se relacionar comercialmente com o governo. Assim, enquan- to a Turquia viviamomentos ten- sos de confrontação política, a TV transmitia programas de culi- nária ou sobre reino animal. Esse tipo de controle é mais comumnamídia tradicional, mas muitos dos novos veículos não escapam dos governos autoritá- rios. Segundo os autores, os po- deres da internet não podem ser superestimados, dado que a tele- visão ainda reina entre os meios de comunicação. Isto é, nem to- dos têmacesso à rede (no Vietnã, ORéu e o Rei Paulo César de Araújo Cia. das Letras, 2014 528 páginas Journal of Democracy (em português) Vários autores Instituto Fernando Henrique Cardoso/Centro Edelstein Volume 3, 2014 123 páginas Assim, em 2007, Paulo Cé- sar teve de enfrentar dois pro- cessos movidos contra ele pelo “Rei”: um na área cível e outro criminal. Roberto Carlos não ad- mitia uma biografia não autori- zada, não queria ver revelados fatos de sua vida e jogou todo o peso de sua influência em uma disputa judicial desigual, na qual a editora e o autor acabaram to- pando um acordo de rendição: o livro foi retirado de circulação. Quando o debate sobre liber- dade de expressão e biografias não autorizadas foi ressuscitado pelo grupo Procure Saber, a his- tória voltou à tona, sendo umdos exemplos mais citados durante a discussão sobre a lei da censura. Sete anos depois do acordo, o autor decidiu contar sua his- tória, dos 15 anos de pesquisa e redação ao processo judicial e ao acordo de 2007. Lançado em operação discreta pela Compa- nhia das Letras, que temia pos- síveis riscos à produção do livro dado o histórico anterior, ORéu e o Rei rapidamente chegou às lis- tas de mais vendidos da catego- ria não ficção. “Nosso encontro no fórum era uma das etapas do processo criminal: uma audiên- cia de conciliação convocada pe- lo juiz Tércio Pires. Inicialmen- te, o magistrado marcara a ses- são para sexta-feira, 13 de abril – conforme chegou a ser publi- cado no expediente judiciário. Roberto Carlos solicitou, porém, a mudança de data. Como o pró- prio artista admite, tem supers- tição com o número 13, e sem- pre que possível o evita”, conta. A obra ganhou exposição nas vitrines das livrarias, ironica- mente ao lado de lançamentos próprios do culto envolvendo Ro- berto Carlos, como seu livro de fotos e letras inéditas ( Collector’s Book ), ao preço de R$ 4.500, dis- cos e DVDs. ■ 40%da população acessa a web; na Arábia Saudita 55%; e, na Chi- na, 45%). E mesmo os que têm podem ser podados. É o caso do regime russo, que usava, até pouco tempo atrás, técnicas pa- ra afetar o modo como a infor- mação era recebida pelos usuá- rios da web, além de ter sancio- nado, em 2012, uma lei que per- mite ao governo fechar sites com “conteúdo inapropriado”. A mídia alternativa também sofre retaliação: “Atualmente, governos autoritários estão de- liberadamente privando cente- nas de milhões de pessoas de in- formações e análises autentica- mente plurais e independentes”, dizem os autores. Walker e Orttung concluem que o autoritarismo bem-suce- dido “absorve os jornais para dentro do governo”, de modo a reduzir a circulação de ideias, garantindo, assim, a imobilida- de política de seus cidadãos. O leitor que se interessar pe- la agenda da democracia e suas condições ao redor do mundo pode acessar, também, as ou- tras edições do Journal of De- mocracy no site do iFHC: www. ifhc.org.br . ■ junta à discussão em Comitê da Câmara”, “Sistema Solar volta- rá a operar”, “Obama: estímulo salvou depressão”, e assim por diante. Para saber mais, acesse: http://shop.newseum.org/a530/ correct-me-if-i-m-wrong.html ■ livro Se eu estiver errado, me corrija Correct me If I’m Wrong , ou “Corrija-me se eu estiver erra- do”, é o nome do livro da Colum- bia Journalism Review que reú- ne títulos publicados em jornais com gafes, deslizes ou erros. Pu- blicado em inglês, é editado por Gloria Cooper e pode ser com- prado no site da Newseum. As manchetes estão dispostas no livro como surgiramno jornal, Correct Me If I’mWrong Columbia Journalism Review sem serem corrigidas ou altera- das. As resenhas da internet pro- metem várias gafes, chamadas inacreditáveis e algumas risadas. A compilação é boa para aprender que, apesar de bem- intencionadas, algumas man- chetes podem ter duplo sentido e passar amensagemerrada. É o caso de algumas que aparecem nessa coletânea: “Maconha se Claire Felicie leão serva é jornalista, professor do curso de graduação em Jornalismo da ESPM e escritor, autor de Jornalismo e Desinformação (Senac, 2001) e coautor de Como Viver em São Paulo Sem Carro – 2013 . Dirige a agência de conteúdo Santa Clara Ideias.
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