RJESPM 11

revista de jornalismo ESPM | cJR 11 partidos políticos sempre tentam limitar aomínimoaparticipaçãode jor- nalistas em debates entre candidatos. No segundo turno da eleição de 2014, conseguiramsimplesmenteextirpá-los. Mas a voz do repórter é essencial. Dela vêm momentos reveladores e memoráveis: Boris Casoy pergun- tando sobre Deus a Fernando Henri- que Cardoso em 1985 ou George Ber- nard Shaw sobre estupro a Michael Dukakis em 1988. Fazerperguntas instigantesésóparte do trabalho jornalístico em debates. Menoscomum,masessencial, é intervir para estabelecer averacidadedos fatos. Como fez Candy Crowley, da CNN, moderadora do debate em 2012 entre BarackObama eMitt Romney, quando este afirmou que o presidente havia declarado na Casa Branca que o ata- que ao consulado americano em Ben- ghazi, Líbia, havia sido não umato ter- rorista,mas umademonstração espon- tânea de protesto. Opresidente negou. ECrowley aca- bou com o disse não disse: “Eu estava na Casa Branca quando o presidente falou, e ele falou, sim, que o ataque foi um ato terrorista”. ■ faltou alguém para agir como Crowley no último debate presiden- cial do primeiro turno no Brasil este ano, quando Dilma Rousseff afirmou que um dos diretores de fiscalização do Ibama indicado porMarina no pri- meiromandatodeLulahavia sido afas- tado por desvio de dinheiro. Como o jornal O Globo esclareceu, mas só no dia seguinte, nos dois pri- meiros mandatos de Lula, a Polícia Federal fez operações de combate à corrupção no Ibama, que resulta- ram em 70 demissões, mas nenhuma de diretor. Uma boa equipe de pesquisa pode- ria ter levantado essa informação (e outras) durante o debate e a transmi- tido ao moderador, que poderia ter dito a verdade ao público. ■ Nos debates, a voz de repórter é vital No Brasil, faltou intervenção em 2014 o papel do repórter Números fortes 346 milhões foi o total de comentários, curtidas e compartilhamen- tos sobre as eleições na campanha do pri- meiro turno de 2014 no Brasil, o maior no mundo para eventos desse tipo los jornalísticos podem e devem exercer o papel de fisca- lizador do que é veiculado na propaganda. Podem alocar após cada bloco de anúncios de candida- tos tempo proporcional para corrigir equívocos, distor- ções, fantasias ou difamações transmitidos na véspera. É verdade que jornais e revistas já fazem um pouco disso no Brasil. Mas, para ter eficácia, esse processo teria de ser sistemático e atingir maximamente as pessoas que assistiram à propaganda enganosa. Os veículos poderiameles próprios realizar a checagem ou se valer do trabalho de organizações não governamen- tais idôneas e apartidárias ou de universidades. Há diver- sos bons exemplos de iniciativas similares pelo mundo. Nos EstadosUnidos, já é consagrado o trabalho realizado desde 2003 pelo FactCheck.org, mantido pela Annenberg School for Communication e financiado pela Annenberg Foundation, que desmentiu diversos anúncios nas cam- panhas presidenciais americanas de 2008 e 2012. O Poli- tiFact.com, iniciado em2007 pela publicação Congressio- nal Quarterly , é agora operado por umgrupo de empresas jornalísticas americanas de diversas cidades. Outro exemplo, o FactCheckEU.org, criado em janeiro de 2014 pela organização semfins lucrativos NumbersEU e financiada pela Stiftung Mercator, atua não só em épo- cas de campanhas eleitorais. NoReinoUnido, oFactCheckdoCanal 4 teve importante papel no recente plebiscito pela independência da Escócia. É claro que essas e outras entidades não estão livres de seus próprios erros e de acusações por parte de candidatos ou partidos que se sentemprejudicados pela sua atuação. O FactCheck.org foi brutalmente contestado pelo Partido Republicano em2004 e pelo Partido Democrata em2012. Não há instituições perfeitas. Mas, na luta pela demo- cracia, é com elas que a sociedade pode mais contar. ■ 227 milhões era o recorde anterior, registrado na Índia entre março e maio de 2014, quando foi eleito o pre- miê Narendra Modi 814 milhões é o universo de eleitores na Índia; no Brasil, é de 142 milhões 89 milhões são os usuários de FacebooknoBrasil;naÍndiasão100milhões 18% foi o aumento domercado publi- citário brasileiro no primeiro semestre de 2014emrelaçãoaomesmoperíodode2013 R$ 17, 2 bilhões foi o inves- timento bruto emmídia feito no Brasil no primeiro semestre de 2014 68,9% desse total foi direcionado para a TV aberta 8,6% foi a porcentagem do bolo publicitário para o jornal, a segundamaior

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