RJESPM 11

16 outubro | novembro | dezembro 2014 incorporem o CGU à cobertura dos fatos. No entanto, é muito mais fácil falar do que fazer. No estudo em questão, os autores destacam vários pontos de interesse. 1. Fluxo de trabalho Aredaçãodeveriaterumaequipeexclu- siva para processar o CGU? Ou todo mundo deve ser capacitado para tal e responsabilizado por esse conteúdo? 2. Checagem É considerado o maior dos desafios, sobretudo no caso de notícias quen- tes, de última hora. 3. Autorização Se o vídeo foi obtido por uma rede social ou agência de notícias, ou des- coberto “na internet”, como garantir que a organização jornalística tenha permissão para usá-lo? O que signi- fica “permissão” em termos jurídicos, contratuais e financeiros? 4. Crédito Muito do material gerado pelo cida- dão comum, sobretudo se obtido via agências, não dá crédito ao autor do vídeo (cuja identidade, aliás, pode ser desconhecida). Em certos casos (no conflito na Síria, digamos), a identifi- cação do autor pode colocar em risco o indivíduo. 5. Identificação de fontes Embora “jornalistas acidentais” (gente na cena dos fatos gravando tudo com o celular) criem parte do CGU usado por emissoras deTV, indivíduos eorga- nizações com uma agenda bem defi- nida produzemmuitomais. Amaioria das organizações jornalísticas quer ser transparente como públicono tocante a fontes, mas não sabe ao certo como proceder no caso do CGU obtido de terceiros ou de uma rede social. 6. Ética Que responsabilidade uma redação deve cobrar de indivíduos que sobem umvídeo, de funcionários edopúblico? Como se pode ver, o uso do CGU é complicado. Portanto, quase nunca sai de graça. Pode, aliás, vir a consumir um grande volume de recursos e do capi- tal humano da emissora. Logo, a acu- sação de que o jornalismo televisivo utiliza oCGUpor ser barato, ou grátis, não faz muito sentido. Esse material é usado porque, volta e meia, regis- tra fatos importantes em momentos e lugares nos quais o veículo não tem jornalistas ou colaboradores freelan- cers. Já que tal situação dificilmente mudará para melhor, o uso do CGU vai crescer, e não diminuir. Outra queixa, a de que emissoras de TV dão preferênca a CGU banal – vídeos “virais” de bichinhos, de fenômenos meteorológicos e outras bobagens –, também erra o alvo. O CGU não é um fator importante no “emburrecimento” do noticiário da TV. Segundo os autores do estudo citado, ainda que amaioria do conteú- do que recebam gire em torno desses temas, emissoras de TV não fazem muito uso desse material. Para encerrar, há, obviamente, a inevitável tensão entre profissionais do jornalismo e amadoresmunidos de câmeras, pormais bem-intencionados e esmerados que estes últimos possam ser. Emmuitas redações – sobretudo de televisão, nas quais o vídeo é o prin- cipal produto –, há resistência à utili- zação de vídeo amador. E não só por- que a qualidade possa ser inferior, mas porque reduz a distinção entre ama- dores e profissionais . Em outras pala- vras, poucos jornalistas de TVquerem apoiar concorrentes de baixo custo (ou custo zero) dentro da própria organi- zação. Amenos que se possa criar um conjunto amplamente aceito de prin- cípios para o uso do CGU (similares aos que são admitidos por muitos fre- elancers), a tensão e o nervosismo em redações de TV vão seguir crescendo – assim como a necessidade cada vez maior de usar o CGU. ■ Se quiser continuar existindo, a TV vai ter de criar meios de incorporar o conteúdo gerado por usuários e levar em conta seu apelo para um público mais jovem david klatell é responsável pela área de estudos internacionais da Columbia Journalism School. Auxiliou no desenvolvimento de emissoras de televisão e agências de notícias emPortugal, Suécia, Suíça e China. C M Y CM MY CY CMY K

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