RJESPM 11

20 outubro | novembro | dezembro 2014 como as concessões de infraestrutura, emsetembrode 2013, e as perspectivas de baixo crescimento e outros proble- mas macroeconômicos, em junho de 2014. Consolidada nos últimos 15 anos, acaracterísticadacoberturaemecono- mia – hegemonia das posições neolibe- rais como pano de fundo das análises e mesmo das pautas –, confirmada pelos levantamentos acima mencionados, poderia dar a impressão de derivar da aderência de conteúdo à linha editorial dosveículos.Coincidentemente,aspági- nas dos editoriais publicam análises da cenaeconômicaapartirdevisõesidenti- ficadascomaortodoxiaeconômica, cri- ticandoouelogiandoatitudesepolíticas governamentais combase nessa régua.  Não é essa, porém, a melhor con- clusão a que se poderia chegar cote- jando as posições expressas nas pági- nas dos editoriais e a cobertura das seções de economia. Asmesmas visões dos acontecimentos estão de fato pre- sentes emambas e talvez os editoriais forneçamum “regaço” confortável às escolhas das editorias. Trata-se, possi- velmente, de umelemento que poten- cializa o fenômeno das fontes vicia- das, mas não é, certamente, seu prin- cipal motor.  Fontes viciadas frequentam o noti- ciárionasmais variadas editorias. Uma área particularmente afetada é a de saúde, sobretudo nas pautas relacio- nadas com notícias dos transtornos mentais, seus impactos, abrangência e tratamentos. Pois tambémaqui é avas- saladora a concentração de fontes no mainstream da psiquiatria.  Origem do problema Visões alternativas, inclusive algumas das mais importantes e socialmente bem inseridas, fora da medicina, caso da psicanálise, estão praticamente ali- jadas dos debates reproduzidos oupro- movidos pela imprensa. Não há razão objetiva para essa exclusão, até porque oconhecimentopsicanalítico temvalor científico, o que é reconhecido pelo mundo acadêmicoe comprovadopelas linhas de financiamento à pesquisa em psicanálise oferecidas por instituições de fomento à pesquisa, como oConse- lhoNacional deDesenvolvimentoCien- tífico eTecnológico (CNPq) e aFunda- ção de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), no caso brasi- leiro, e de inúmeras outras, de grande prestígio, mundo afora. O exemplo acima ajuda a argumen- tar que o problema das fontes viciadas não deriva de imposições ou vedações “de cima”. Se, no caso da economia ou, mais ainda, no da política, é fácil ima- ginar que as pautas obedecema ordens ou pelo menos indicações “superio- res”, muito mais difícil é considerar que também a predominância abso- luta das fontes psiquiátricas, nas pau- tas de saúde mental, vem de indica- ções da direção das empresas. Se o tradicional suspeito de sempre não parece ser o verdadeiro vetor das fontes viciadas, onde então é possível localizar a origemdo problema? A res- posta talvez esteja no modo predomi- nantedeproduzirnotíciahojenas reda- ções.Os jornalistas, ao longodasúltimas décadas, foram se tornando cada vez mais passivos diante das informações que podem se transformar emnotícia.  Nãosepodedeterminar, semestudos e levantamentos específicos, a parcela de notícias publicadas com origem em informações transmitidas a jornalistas, por iniciativada fonteoude assessores, emcontrastecomaquelasque são fruto deapuraçãoprópriadoprofissional.Mas é intuitivo que o porcentual seja alto e revelador de prática disseminada. Por múltiplas razões, que vão, entre mui- tas outras, das facilidades propiciadas pela internet – mecanismos instantâ- neos de busca e pesquisa, instrumen- tos de comunicaçãodireta, como redes sociais, e-mails, skypeetc. –adificulda- desdemobilidadeurbana, passandopor ciclos de produção contínuos e multi- plicação de tarefas, a atividade de apu- ração jornalística tornou-se crescente- mente sedentária. Esse formato de produção ensejou tanto anecessidade quanto a oportuni- dadede ampliaçãoda oferta externade fontes de informação. Não por acaso, o mercado de agências de comunicação registrou, nas últimas duas décadas, expansão emescala chinesa. As asses- Está mais do que na hora de adotar procedimentos que assegurem a diversidade de vozes consultadas durante as apurações

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