RJESPM 11

24 outubro | novembro | dezembro 2014 com uma nota curta e grossa: “Sério, gente, chega desse terrorismo”. Embora a página já tivesse mais de 1 milhão de seguidores quando o grão de areia chamouminha atenção, nunca ouvira falar dela e não tinha ideia de quem a criara. O que sabia é que escrever sobre ciência é duro, pois o jornalista precisa transformar teses complicadas numa prosa cau- telosa, volta e meia árida. Escrever sobre ciência para as massas pare- cia quase impossível. Meses antes, eu tinha começado uma pós em jor- nalismo científico, que iniciara com um intensivão de duas semanas em física. Enquantomeus colegas estavam empolgados comas aulas demecânica quântica, o tédio que aquelas fórmulas densas me davam fazia com que me sentisse uma fraude. Tinha medo de ter cometido umgrande erro. Até que, como que de propósito, a IFLS sur- giu no meu Facebook. Os posts eram cativantes. A página declarava, sem nenhuma ironia, que a ciência era algo formidável – e que precisava, urgen- temente, de um apóstolo da era digi- tal para difundir a palavra. Elise Andrewnão correspondia em nada à imagemque eu fazia desse pre- gador. Era uma universitária de 22 anos do interior da Inglaterra, pres- tes a terminar o curso de biologia, sem experiência em jornalismo. Criara a página no Facebook para dividir a pai- xão pela ciência. Dessa simples pre- missa – que deve ser repetida dezenas de vezes por dia no Facebook –, nas- ceu um fenômeno diferente de qual- quer coisa já vista nomundo damídia. Multidão de fãs Desdeque foi criada, emmarçode2012, a IFLS já angarioumais de 17,9milhões de seguidores no Facebook – mais do que Popular Science (2,7milhões), Dis- cover (2,7 milhões), Scientific Ameri- can (1,9milhão) e TheNewYork Times (8milhões) juntos. A página temmais seguidores do que a dos dois comuni- cadores mais aclamados do mundo da ciência: Neil deGrasse Tyson (1,8 milhão), apresentador da série Cosmos , eBillNye theScienceGuy (3,2milhões) –ambos fãsdapáginadeAndrew.Hoje, o império da jovem inclui um site, o IFLscience.com, que temuma equipe e dá notícias, e umprograma de televi- são que deve estrear no ScienceChan- nel ainda este ano. Diferentemente de outros visioná- rios festejados por teremse convertido em verdadeiras marcas da era digital do jornalismo – como Ezra Klein e Nate Silver –, Andrew fez seu nome sem nenhuma ajuda de um veículo de comunicação tradicional. Klein e Silver são descritos como um novo gênero de jornalista – empreendedo- res da nova mídia –, mas ambos con- taram com meios tradicionais para conquistar mais público e credibili- dade. No caso de Klein, o Washington Post ; no de Silver, o New York Times . Já Andrew faz de tudo para evitar a mídia. Raramente tenta aparecer oudá entrevistas – e, quando dá, são noto- riamente curtas. Um pingue-pongue na Wired , por exemplo, se resumiu a cinco perguntas. Até hoje, ninguém traçou seu perfil. O que a moça faz é falar diretamente comos seguidores, compartilhando detalhes de sua vida e um gênero de comentário e cura- doria que soa a um só tempo fami- liar (sarcástico, combativo) e inédito (maravilhado, humilde). É como se o entusiasmo exibido por Andrew – aliado ao tomdespretensioso e à capa- cidade de incorporar o prazer infantil da descoberta – fosse suficiente para tirar milhões de cientófilos do armá- rio, e talvez até produzir mais alguns. Andrew temtudo para virar uma nova espécie de estrela da mídia – se é que já não ocupa esse espaço. Em agosto de 2013, quando decidi O que acontece quando Elise Andrew divulga suas charges na internet set 2012 jan 2013 jan 2014 Número de curtidas da página Beatrice the Biologist no Facebook disparou quando o IFLS começou a compartilhar os quadrinhos dela jul 2014 150k 0k 50k 100k

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