RJESPM 11

revista de jornalismo ESPM | cJR 25 fazer um perfil de Elise Andrew, não tinha ideia de que estava embarcando num projeto que tomaria cerca de um ano. Minha ideia era entrevistá- -la naquele mesmo mês durante uma rápida visita que a moça faria a Nova Yorkpara o IFLSLive!, umevento ins- pirado emsua página que ocorreria no AmericanMuseumofNaturalHistory. O que não podia prever era quanta gente mais estaria interessada ​na mulher por trás do fenômeno doFace- book. Ingressos para o primeiro IFLS Live!, emSydney, naAustrália, tinham esgotado em 45 minutos. Os de Nova York acabaram em cinco. Crachá de imprensa? Impossível, avisou-me um assessor domuseu. Mesmo assim, fui até lá, só para conferir o público. A multidão não tinha nada a ver coma plateia solene que costuma fre- quentar eventos do museu. Como fãs de uma convenção de ficção cientí- fica, o público chegou vestindo cami- setas estampadas com o logotipo da IFLS e piadinhas científicas; alguns levavam tiaras com antenas reluzen- tes. A fila, que começou a se formar horas antes do evento, era gigantesca. Neil deGrasseTyson (vulgo “America’s Scientist”) fez uma aparição surpresa para exibir o trailer de seu remake da série Cosmos , de Carl Sagan. Mas a multidão, como um vídeo do evento no YouTube deixa bem claro, estava lá para ver Elise Andrew – e irrom- peu em gritos e aplausos assim que ela pisou no palco. “Não foi algo do tipo: ‘Vim aqui para aprender alguma coisa de ciên- cia’”, conta Annalee Newitz, mestre de cerimônias do evento. Newitz, jor- nalista especializada na área, que já publicou três livros e contribui para revistas como Wired e The Atlantic , conheceu Andrew quando a página da inglesa no Facebook deu um link para umvelho artigo seu no io9, o site de ciência de Newitz que faz parte da rede do grupoGawkerMedia. Newitz adorou a IFLS – “‘fuck’ é uma das minhas palavras favoritas” – e fez con- tato com Andrew pelo Facebook. Aí nascia uma amizade digital. Estilo sem firulas Perguntei aNewitz –que fez seunome galgando degraus que Andrewbasica- mente saltara – se ela achava que fora convocada para dar credibilidade ao evento. “Minha sensação é que me chamaram porque, convenhamos, a Elise era uma celebridade”, disse. Embora a notoriedade de Andrew pareça ter crescido aos poucos, a coisa toda foi muito rápida. E não só por- que a jovem evitou o aparato todo da fama – mas também porque, no iní- cio, ninguém sabia quem estava por trás da página, que surgiu na internet acompanhada apenas de uma frase de Isaac Asimov: “A exclamaçãomais empolgante da ciência, a que prenun- cia novas descobertas, não é ‘Eureca!’, mas ‘Que curioso…!’.” Surgiramrumo- res de que o divulgador científico e astrofísico Neil deGrasse Tyson esti- vesse envolvido. O estilo sem firulas e provocativo da página não tem o verniz de uma produção cinco estrelas – uma abor- dagem informal e direta que põe o leitor em pé de igualdade e energiza seus comentários. Ummês após criar a página, Andrewdeuuma resposta tipi- camente direta às críticas sobre opala- vrão profanador no nome da página: “Não, nosso nome nunca vai mudar. Nunca. Ainda que quiséssemos, seria impossível. Mas isso é irrelevante, pois não queremos”. Suas frequen- tes diatribes seguiramnamesma veia: “Homeopatia, criacionismo, astrolo- gia etc. etc. e etc. são pura baboseira”, diz uma delas. Até que, emmarço de 2013, Andrew postou sua nova conta no Twitter na página do IFLS. A foto de perfil mos- trava uma jovemruiva de cabelo curto e ar atrevido. A revelação de que a força por trás do IFLS era alguém tão jovem, tão bonita — tão feminina – foi Andrew não gosta de aparecer nem dar entrevistas. Prefere falar diretamente com os seguidores, sobre detalhes da intimidade e outros sarcasmos

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