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revista de jornalismo ESPM | cJR 27 não é fã é ouvido. Quando alguém a chamoude “vagabunda sardenta, libe- ral”, Andrew incorporou a frase a sua biografia no Twitter. Suas contas no Facebook e no Twitter têmuma seção batizada de “crazyoftheday” (“louco do dia”), onde posta comentários viru- lentos na íntegra. Sob críticas Embora o tomdescontraído tenha aju- dado a inspirar o companheirismo dos seguidores, a falta de vínculos profis- sionais de Andrew a deixa vulnerável a críticas. No site Reddit, há grupos totalmente dedicados a dissecar seus posts, que segundo críticos exageram descobertas científicas ao focar ape- nas no maravilhoso que é o resultado, e não empotenciais falhas demetodo- logia. Uma página no Facebook bati- zada de “I Fucking Hate I Fucking Love Science” (“Eu Odeio pra Cacete o EuAmoCiência pra Cacete”) avaca- lha posts otimistas deAndrew. O IFLS definitivamentepriorizaomaravilhoso da ciência em detrimento de debates sobremetodologia e afins, mas não de um jeito irresponsável. E, justiça seja feita, Andrewnão usa seuTwitter par- ticular para influenciar de forma sele- tiva esses debates. Em certa medida, sofre do mal que assola o jornalismo científicocomoumtodo: anecessidade de simplificar e de ignorar as infindá- veis ressalvas ​que tornariamomaterial impenetrável para um leitor comum. Num blog na Scientific American em abril passado, o fotógrafo natura- lista Alex Wild fez uma crítica mais séria a Andrew: a de usar suas fotos sem dar crédito. Na esteira do post, mais gente veio a público comqueixas semelhantes. Curiosamente, Andrew ficou calada nas redes sociais. O silên- cio sugeriu que dominava menos a mídia do que eu começara a achar; soouuma coisadediletante, de alguém que se julga acima de cobranças. Ou talvez tenha sido uma decisão astuta; as críticas foramminguandoeAndrew começou a dar crédito, comdestaque, a todo post usado na página no Face- book e no site. Isso posto, o imenso público de Andrew, em todo seu fervor, pode alterar drasticamente a populari- dade de qualquer coisa que a jovem endosse. Em julho de 2012, a ex-pro- fessora secundaristaKatieMcKissick, que publica tirinhas e charges de ciên- cia numa página no Facebook e num blog chamados Beatrice the Biolo- gist, se atreveu a mandar a Andrew uma charge chamada “AmoebaHugs” (“Abraço deAmeba”). Andrewpostou o desenho no IFLS – e, emquestão de horas, o total de seguidores deMcKis- sick pulou de cerca de 400 para quase 3 mil. “Quase morro”, lembra. No ano seguinte, Andrewcompartilhouvárias outras chargesdeMcKissick, ajudando a elevar seu público para mais de 170 mil seguidores. “Toda vezque ela com- partilha algo, ganhomais 10mil” segui- dores, diz McKissick. A topada com críticos e com a eti- queta jornalística bemcomo a capaci- dade de simplesmente colocar alguém em evidência mostram quão pode- rosa – e polarizadora –Andrewvirou. “Ela tropeçou bastante, mas conse- guiu lidar com isso”, diz Newitz. “Há muita choradeira de jornalistas tradi- cionais – ‘Veja bem, eu tive de apren- der a escrever’, ‘Na minha época não tinha Facebook’, ‘Eu não podia dizer fuck o tempo todo’ –, mas é natural que haja ciúme quando surge uma nova forma de jornalismo.” Formato mais tradicional Se o IFLS é uma nova forma de jorna- lismo – ou se é jornalismo mesmo –, é algo discutível. O fato é que a opera- ção ganhou ares de um veículo mais tradicional com o lançamento de um site emnovembro de 2013. Ao contrá- rioda fundadora, dois dos quatro reda- tores do site já trabalharamcomjorna- lismo.MasLisaWinter,umadasprimei- ras contratadas, veio da base de fãs de Andrew. Emmeados de 2012, Winter, que na época estudava biologia celular na Arizona StateUniversity, ofereceu- -se para fazer a curadoria do conteú- do de outra página que Andrew lan- çaria no Facebook, a “Evolution”. Já formada,Winter – que estava presa ao Arizona pelos três filhos e a carreira militar do marido – vinha penando para achar trabalho em algum labo- ratório quando recebeu uma mensa- gem no Facebook. Era Andrew ofe- recendo um trabalho em tempo inte- gral de geração de conteúdo para um site de ciência que ainda seria lançado. Embora o jornalismo científico cos- tume dar o que é “importante” ou “interessante” de uma descoberta, o IFLS explora “o lado bacana da coisa e

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