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revista de jornalismo ESPM | cJR 33 ou até mais –, já que o processo de produção e publicação de um artigo é muito lento. Entre o fim dos experi- mentos ou do trabalho de campo que levou a resultados que merecem ser divulgados e a publicação propria- mente dita, os pesquisadores gastam pelo menos dois meses escrevendo o artigo (normalmente se faz uma revi- são detalhada de trabalhos semelhan- tesnamesmaáreaparaargumentarque a descoberta apresentada é relevante e inédita e, além disso, todos os parti- cipantes do trabalho leem, dão suges- tões e revisam o texto). Caminho burocrático Depois, os autores enviam-no para uma revista científica, que, se aceitá- -lo de imediato (às vezes as revistas recusam o material, motivando novo processo de submissão), mandará o manuscrito para pareceristas anôni- mos, que normalmente levarão alguns meses para examiná-lo e geralmente pedemdetalhes, explicações ou expe- rimentos complementares, até se con- vencereme daremumparecer favorá- vel à publicação do artigo (às vezes os pareceristas não recomendama divul- gação do texto, motivando os autores a procuraremoutra revista e reiniciarem o processo de análise). Se, depois de quatro, seis, oitomeses, a revista final- mente aceitar o artigo,mais ummês ou dois, às vezes mais, podem correr até o artigo ser lançado. Ou seja: desde o envio domaterial, podemse passar de seismeses, commuita sorte, a umano, até a efetiva publicação. Para os jornalistas, é muito difícil apressar esse ritmo, porque os pes- quisadores raramente falamde resul- tados submetidos a publicação e, uma vez aceitos, muitas revistas, interessa- das no ineditismo, pedem aos autores que não levemnada a público antes do lançamentoda edição. Os jornalistas se tornam reféns dos artigos e das revis- tas científicas também porque os tex- tos que essas publicações enviam nos boletins semanais, antecipando as pró- ximas edições, estão sob embargo, ou seja, não podemser revelados até uma certa data, que coincide com a de sua inclusão na revista científica. Ao soli- citar o recebimento dos artigos ante- cipados, os jornalistas se comprome- tem a cumprir o embargo. Nãoconvémfugirdos artigos–docu- mentos fundamentais para a expressão da ciência, que, é inegável, anunciam descobertas importantes. No entanto, comumpoucomais de esforço e criati- vidade, aparentemente tambémé pos- sível olhar alémdos artigos – para pro- blemas mais abrangentes, que ainda não tomarama forma de textos cientí- ficos – e adotar ou reforçar uma visão crítica e independente, semdeixar de lado os interesses próprios. Os jorna- listas e outros comunicadores da ciên- cia que participaram da Conferência Mundial de Jornalistas de Ciência (WCSJ) em 2009, em Londres, con- cordaram que deveriam manter-se a distância dos artigos científicos e criar matérias mais independentes, o que implica mais diálogo entre editores e repórteres e uma formaçãomais apu- rada sobre os processos de produção de conhecimento científico 1 . Os arti- gos podeminiciar uma pauta, ao levan- tar problemas emostrar alguns envol- vidos. Desse modo, os artigos deixam de ser o foco da reportageme são usa- dos como informação complementar e secundária, caso o leitor queiramais detalhes. As reportagens sobre ciên- Para piorar as coisas, as descobertas que aparecem nas revistas acadêmicas foram feitas há um ou dois anos, pois o processo de publicação é muito demorado

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