RJESPM 11

34 outubro | novembro | dezembro 2014 carlos henrique fioravanti é jornalista e escreve sobre ciência, ambiente e tecnologia desde 1985. Foi repórter, editor e colaborador em jornais (como O Estado de S. Paulo e Valor Econômico ) e revistas do Brasil (como Globo Ciência e Pesquisa Fapesp ), dos Estados Unidos ( Nature Medicine ) e da Inglaterra ( Lancet ). 1 Ver Science and the Media Expert Group. Science and the Media: Securing the Future . 2010. http://webarchive.nationalarchives.gov.uk/tna/+/http: / www.bis.gov.uk/wp-content/ uploads/2010/01/Science-and-the-Media-Securing-Future.pdf/. Acesso em 18 de agosto de 2014. 2 Disponível em https://knightcenter.utexas.edu/pt-br/blog/00-14004-sete- -dicas-do-jornalismo-cientifico-para-encontrar-boas-pautas. Acesso em 18 de agosto de 2014. cia estampadas no jornal americano The New York Times , na Economist e no Guardian (ambos publicações bri- tânicas), são bons exemplos de como abordar assuntos interessantes e, lá no meio, rapidamente, lembrar que os resultados foram divulgados em alguma revista científica. Centros de aperfeiçoamento de jornalistas, como o Knight Center, da Universidade do Texas, Estados Unidos, oferecem possibilidades de ação para fugir da perseguição dos papers , retomando antigas práticas jornalísticas, como manter uma rede de fontes (pesquisadores), que podem ser consultadas de tempos em tem- pos, por e-mail ou pessoalmente, em busca de novidades ou suges- tões de matérias. Outra sugestão é ainda mais óbvia: sair mais da reda- ção (e do computador), circular por congressos, hospitais e laboratórios, perguntar mais, conversar mais com pesquisadores e conhecer melhor a realidade da ciência, o que prova- velmente resultará em pautas mais vivas e interessantes. Um conjunto de lições foi compilado no texto de Isabela Fraga “Sete Dicas do Jor- nalismo Científico para Encontrar Boas Pautas”, publicado em 6 maio de 2013 no site do Knight Center 2 . Práticas jornalísticas No artigo “Um Enfoque mais Amplo para o Jornalismo Científico” ( Inter- com–Revista Brasileira de Ciências da Comunicação , 2013, vol.36, n.2), pude levantar mais algumas sugestões para ampliar o enfoque das reportagens sobre ciência, como valorizar o traba- lhocoletivoemvezdeexaltarumúnico cientista, examinar as circunstâncias e dificuldades da pesquisa e acrescentar uma visão histórica ao paper , normal- mente focado no presente, e associar o resultado apresentado comoutros tra- balhos semelhantes feitos em outros lugares e outras épocas, destacando a história que os une. Muitas vezes não é possível, por falta de tempo, paciência, inspiração ou colaboração do entrevistado, mas em geral podemos ir além do paper . Dessa forma, é possívelmostrar outras coisas importantes, que extrapolamos próprios resultados científicos, como circunstâncias, histórias, situações tris- tes oualegres, os fracassos (sim, os pes- quisadores também falam do que não deu certo!), as conquistas e a agonia dos cientistas para vencer os labirin- tos institucionais e colocar os objetos a que se dedicaram(medicamentos, por exemplo) nas mãos de quem precisa. Oapego aos artigos científicos –pela dificuldade de elaboração de pautas originais, de interesse maior dos lei- tores que os resultados de descober- tas publicadas em revistas científicas especializadas –, somado às dificulda- des de lidar com os variados e geral- mente complicados temas de ciência, alémda redução do número de repór- teres das equipes de ciência, pode ter contribuído para o encolhimento ou extinção da editoria de ciência de jor- nais de grande circulação de SãoPaulo eRiode Janeiro. Por outro lado, opres- suposto equivocado de que as reporta- gens sobre ciência devemestar ligadas aos artigos científicospode inibir repór- teres de jornais regionais a entrarem com mais frequência nos fascinantes e amplos campos da ciência, que vão da cardiologia à botânica, da superfí- cie da Terra aos confins do universo. Certamente podemos pensar e agir além dos papers . ■ O apego aos artigos científicos pode ter contribuído para o encolhimento ou a extinção da editoria de ciência de jornais de grande circulação

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