RJESPM 11

40 outubro | novembro | dezembro 2014 mente utilizada na Guerra Civil Espanhola. O conflito, entre os falangistas do general Franco e a Frente Popular, não produziu somente uma dicotomia entre o fascismo e a democracia, mas também uma sucessão de imagens e profissionais icônicos, entre os quais se destaca o húngaro Endre Friedmann, mais conhecido como Robert Capa. É dele a foto quemostra ummiliciano supostamente sendo atingido, que simboliza o momento decisivo da fotogra- fia, bem como um dos questionamentos mais frequentes da veracidade do meio. Capa, por suas ligações comcelebridades, também ini- ciaria o processo de glamourização do fotojornalista tão utilizado pela indústria cinematográfica, embora a rea- lidade do trabalho não seja nada disso, como vemos pela quantidade de jornalistas que vêm morrendo em confli- tos, que extrapolaramas guerras convencionais e se esten- dem às cercanias domésticas de todos nós. A foto do miliciano causa dúvidas até hoje e repre- senta uma espada de Dâmocles na cabeça de todo foto- jornalista, a dúvida entre tomar partido e a isençãomoral diante de um evento. Contudo, ainda não se provou nada contra o famoso fotógrafo. Em2007, coma descoberta no México de uma caixa contendo cerca de 3 mil negativos seus, esperava-se pôr um fim na controvérsia. Não aconteceu ainda de o húngaro cair de seu pedestal, e a tal “maletamexicana”, comoficou conhecida, comima- gens da guerra daEspanha – atualmente parte do acervodo International Center of Photography (ICP) de Nova York –, só serviu para pôr emquestão uma coisa: se sua compa- nheira, Gerda Taro (morta como ele no front de batalha, só que anos antes, em 1937, na Espanha), era uma profis- sional bemmais talentosa do que se imaginava até então. Ao fotojornalista resta não só a concorrência dos seus pares. Algumas imagens dessa categoria entraram para a história já na guerra do Vietnã, em 1968: o lamentável episódio do massacre da vila de My Lai, onde mais de 300 civis foram assassinados por uma tropa americana. A imagem de homens, mulheres e crianças mortos ganhou cor e as páginas mundiais pelas mãos do sargento Trabalhando para a agência de notícias Associated Press (AP), o ex-mariner Eddie Adams ganhou o Prêmio Pulitzer de 1969, quando flagrou o chefe de polícia do Vietnã, general Nguyen Loan, executando um prisioneiro vietcong em plena rua. O fotógrafo morreu aos 71 anos, em 2004. Execução em Saigon EDDIE ADAMS, vietnã, 1968 Eddie Adams/AP Photo

RkJQdWJsaXNoZXIy NDQ1MTcx