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48 outubro | novembro | dezembro 2014 A dúvida é saber como um site maduro vai competir com startups mais focadas em tecnologia, com mais dinheiro e que não precisam dar lucro a curto prazo tos. A NewYorker subiu radicalmente o preço da assinatura. Ultimamente, investidores do mundo da tecnologia que nunca qui- seram ligação com a criação de con- teúdo perderam a ojeriza pelos ter- mos “editor” e “repórter”. Odivisor de águas foi a venda do The Huffington Post à AOL por 315 milhões de dóla- res em 2011. De lá para cá, BuzzFeed, Vox, Vice, Business Insider e Upwor- thy receberam aportes de investido- res. David Bradley criou a Atlantic Wire e o Quartz. Em vez de abando- nar o Daily Beast pós-Tina Brown, Barry Diller vem injetando mais fun- dos no meio – e investiu também no Atavist, parte da nova safra de sites dedicados a reportagens de fôlego. No momento, a mera promessa de crescimento explosivo vem atraindo dinheiro para projetos de mídia digi- tal: aMedium, que é bancada por dois fundadores do Twitter, levantou 25 milhões de dólares; a ESPN está apli- cando uma grande soma no FiveThir- tyEight, de Nate Silver; a Vox Media se comprometeu a colocar uma cifra de “oito dígitos” no Vox, o novo pro- jeto de Ezra Klein. Há, também, o surgimento de star- tups semfins lucrativos emmodalida- des do jornalismo que, sem tal apoio, provavelmente não seriamviáveis: na cobertura estadual e municipal, na qual o Texas Tribune inovou, e no jor- nalismo investigativo, em que o Pro- Publica e o Center for Public Inte- grity propuseram um novo modelo. Ainda nessa categoria temos Pierre Omidyar, fundador do eBay, que está dispondo de 250 milhões de dólares para a First LookMedia, projeto enca- beçado por Glenn Greenwald. É um volume absurdo de dinheiro; a chance de sucesso seria dez vezes maior com um décimo dessa cifra. MarcAndreessen, o investidormais influente do Vale do Silício, hoje acha que a atividade jornalística tempoten- cial para crescer de “10 a 100 vezes” nos próximos 20 anos. Cinco anos atrás, o curso de jornalismo era uma porta de entrada cara para uma pro- fissão sem futuro. Cursos de jorna- lismo não estavam formando gente com desenvoltura no digital. Agora estão – e a capacitação no jornalismo profissional provavelmente tem, hoje, um valor maior do que em qualquer momento no passado. Há dois pontos de vista distintos sobreoquevemocorrendoaqui. Pouco tempo atrás, FelixSalmon fezuma ava- liação otimista na Politico Magazine (outro excelente lançamento). Salmon sustenta que a explosão do jornalismo de dados simbolizada por Ezra Klein, Nate Silver e David Leohnhardt (que toca o Upshot Project no New York Times ) é realmente promissora. Sal- monacredita que esse jornalismo sério –não ideológico, consistente – cria um ambienteatraenteparaempresas anun- ciantes.Emvezdeconcorrênciademais numnichomuitopequeno, Salmoncon- sidera que a oferta de jornalismo de qualidade gera sua própria demanda. Negócio sustentável A visão pessimista vem do resmun- gão Michael Wolff, colunista do USA Today, que vê um crônico excesso de oferta de conteúdo digital nomercado. Um CPM (custo por mil), em queda, sustenta, não vai pagar os custos do verdadeiro jornalismo. Wolff crê que vivemos uma espécie de corrida para o abismo na qual um tráfego cada vez maior vale cada vez menos. Pegue- mos o Huffington Post. É o maior site de notícias nos Estados Unidos, não

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