RJESPM 11
revista de jornalismo ESPM | cJR 49 remunera amaioria dos colaboradores e segue dando prejuízo à AOL. Fico num meio-termo entre esses dois pontos de vista, emboramais pró- ximododeSalmon. Afebre investidora não significa que, de uma hora para outra, o jornalismo sério tenha virado um grande negócio. Mas a migração de talentos e dinheiro para nossa ati- vidade é, semdúvida, preferível a um êxodo em massa. No fim das contas, creio que a nata da nova safra de sites vai achar um nicho habitável a longo prazo, assim como já o encontraram muitas das publicações tradicionais. A Slate é umcuriosomeio-termo. É como a velha mídia sob certos aspec- tos e desbravadora sob outros. Os últi- mos anos foram de constante expan- são no tamanho de nosso público, de nossa ambição editorial e de nosso faturamento. Hoje, a Slate banca uma equipe de quase cem pessoas. Creio que demonstramos o que sites mais novos e mais festejados ainda têm de fazer: que um conteúdo de qualidade pode funcionar como um negócio. A dúvida é saber como um site madurocomoonossovai competir com startups mais focadas em tecnologia, commais dinheiro e que não precisam dar lucro a curto prazo. Às vezes, acho injustoque tenhamos de trabalhar para dar lucro quando tudo o que se exige das concorrentes é que cresçam. Mas a necessidade de operar no azul nos impôs uma disciplina valiosa e man- témnosso foco no problemamaior da sociedade – a saber, como pagar por um jornalismo de qualidade. A Slate tem, ainda, certas vanta- gens que não trocaria pelas de uma startup: temos uma voz mais forte, uma cultura na qual cada colabo- rador pode se destacar individual- mente e uma estrutura societária que respalda nossos valores jorna- lísticos. Nosso diretor de tecnologia resume muito bem a coisa. Segundo ele, temos uma cultura editorial que se adapta às necessidades do negócio sem ser subserviente a elas. TheHuffingtonPost, BuzzFeed,Vice eoutros sites estão investindona cober- tura jornalística. O problema é que o jornalismo não é o valor e o propósito supremo do que fazem assim como o é para nós. Até aqui, os donos dessas empresas não mostraram que dão ao jornalismo independente o mesmo valor que a família Graham, que con- trolava o Washington Post até a venda a Jeff Bezos, no ano passado, sem- pre deu (a Slate ainda pertence à The Graham Holdings Company). Além disso, dependem demais da figura do fundador. Não háHuffingtonPost sem Arianna, BuzzFeed semJonahPeretti, Gawker sem Nick Denton, Business Insider semHenry Blodget. Emquase todo aspecto queme vem à mente, a concorrência de novos meios digitais fez bem à Slate . De modo geral, foi algo que nos levou a erguer uma cultura emtorno de dados, análises e testes. Um reflexo disso é o crescimento do tráfego, o mais ace- lerado já registrado desde o começo das atividades. Tivemos 31,6 milhões de usuários únicos emmarço, o dobro do volume de setembro de 2013. Para tirar partido demudanças geracionais e comportamentais, tivemos de pen- sar como uma empresa de tecnolo- gia, renovando o projeto gráfico para a leitura em plataformas móveis e o compartilhamento. Diferentemente do que ocorre na maioria das empre- sas tradicionais de mídia, na Slate os jornalistas participam do projeto de criação de um negócio sustentável. Modelo em evolução Nossomodelodenegócios, assimcomo os de concorrentes, segue evoluindo. Historicamente, as publicações mais longevas sempre tiveramvárias fontes de receita – anunciantes e leitores. A Slate depende demais da publicidade. Estamos, portanto, tentando descobrir como obter receita de nossos leitores, mas sem um paywall , pois gostamos de ter um público grande e de parti- cipar plenamente da conversa digital. Nosso último experimento é o Slate Plus, um programa para sócios. Embora sejamos uma empresa voltada ao lucro, o chamariz tem um quê de NPR [ a rádio pública americana ]: apoie o jornalismo que você quer. Mas tam- bém é como o Amazon Prime: esta- mos tododia pensando emalgumnovo benefício a oferecer aos clientes mais fiéis. Ameta é seguir firme por outros 18 anos, nomínimo. Odesafio é pensar como uma startup e aomesmo tempo erguer uma instituição. ■ jacob weisberg é presidente do conselho e diretor de redação do The Slate Group e autor do livro The Bush Tragedy . Seu Twitter é @jacobwe.
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