RJESPM 11
50 outubro | novembro | dezembro 2014 numa palestra aqui no George T. Delacorte Center em 2012, descrevi o que via como uma desabalada carreira rumoàautodestruiçãodigitalnomundo editorial e jornalístico. Critiquei o jar- gão dos vendedores do “conteúdo de livre acesso” e seus aliados noGoogle, no Facebook e no Huffington Post. E convoquei a comunidadede jornalistas e editores a contra-atacar – a lutar para salvar seuofício, e seuganha-pão, rejei- tando o “modeloda publicaçãodigital” em favor do velho sistema de receber um valor justo pelo árduo esforço de cobrir e narrar os fatos. Por ironia, depois de publicada num blog de livre acesso do Providence Journal , jornal para o qual escrevo uma coluna mensal, a palestra virou viral na internet. Obviamente, nãome oponho à existência da internet. Nema Falso ídolo O flagelo do ‘digitalmente correto’ por john r . macarthur “odeio”, como afirmamcertos críticos meus.Arede temlásuautilidade, sobre- tudo comoummecanismo eficiente de organização. Mas duvido seriamente que um dia vá ser um meio eficaz de apresentar uma revista ao público lei- tor. Apesar da violenta reação produ- zida, a favor e contra, minha preleção pouco fez para mudar o panorama financeiro que, a meu ver, está des- truindo o negócio jornalístico. Faná- ticos do conteúdo livre me lançam a pecha de ludita; já jornalistas pressio- nados tendem a me aplaudir. O pior é que, das dezenas de e-mails e bilhetes redigidosdepunhoque recebi, nenhum deles, até onde recordo, veio com um pedido para fazer uma assinatura da Harper’s Magazine . Fiquei desconcertado, já que o obje- tivo da palestra fora, em parte, cons- cientizar o público sobre o drama hoje vivido por jornalistas e editores de revistas e jornais. Minha conclusão foi que a tese precisava de ajustes, e assim surgiumeu ensaio na edição de outubro de 2013 da Harper’s . O obje- tivo desse texto foi persuadir, não pro- vocar. Minha esperança é que fosse deflagrar uma discussão que pudesse levar à restauração da relação funda- mental entre jornalistas e leitores, sem a interferência de anunciantes e livre de demandas de publishers e edito- res pressionados a satisfazer os capri- chos não raro irracionais domercado. Para sustentar minha tese não citei estudos acadêmicos, teses de facul- dades de administração – somente minha própria experiência e o conse- lho dado pelo editorMaxwell Perkins a Ernest Hemingway: “Ao escrever, a única coisa que conta é o absoluta- mente real, mas diante dele a grita- ria toda se dissolve”. Gostaria, aqui, deme estender sobre aquele ensaio. Sob certos aspectos, a coisa só piorou. É umassustador sinal dos tempos saber que, para economi- zar, a revista NewYork , umemblemá- tico semanário, passou a ser quinze- nal, e que a Ladies’ Home Journal , uma publicação mensal lançada em 1883, tenha passado a ter periodicidade tri- mestral. Fiquei ainda mais pertur- bado ao notar que o velho diário da minha faculdade, o Columbia Daily Spectator , pretende virar uma publi- cação semanal e dedicar mais ener- gia ao chamado foco digital. OGoogle segue com a tática da terra arrasada, avançando por territórios de direitos autorais outrora controlados por edi- tores e escritores, enquanto a Ama- zon leva mais livrarias à bancarrota e compra o jornal Washington Post . E o que dizer da esmerada reportagem no número de março/abril da Colum- bia JournalismReview , “Who cares if it’s true?” (publicada na edição nº 10 da Revista de Jornalismo ESPM sob Arquivo CJR/Nigel Buchanan
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