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56 outubro | novembro | dezembro 2014 por chris mossa Fantasmas do Oriente Traumatizada pela farsa das armas de destruição em massa do Iraque, a imprensa hesita ao tratar da violência na Síria acobertura sobre armasquímicasna Síria é, sob alguns ângulos, uma histó- ria de redenção. Para as grandes orga- nizações da imprensa, éuma oportuni- dade de exorcizar os fantasmas rema- nescentes de sua atuação na indução à guerrano Iraque.Nosmeses anteriores ao grande ataque comarmas químicas de agosto de 2013 que matou centenas de pessoas em Damasco, as redações fizeram um esforço para conter maté- rias sobre o assunto, sempre tendo o cuidado de não divulgar informações quando faltassem provas. Quandoomundoquisdetalhes sobre o arsenal químico na região, os jorna- listasnão semanifestaramde imediato, hiperconscientesdas consequênciasde errar. Mas a preocupação dos meios de comunicação sobre como e se esse tipo de armamento tinhas sido utili- zado desviou a atenção dos bombar- deios, da fome ede ataques convencio- nais, responsáveis por 99% das mor- tes na guerrada Síria. Ofoconodesdo- bramento geopolítico das armas quí- micas de certa forma encobriu a ver- dadeira dimensão da tragédia que se desenrolava no mundo real. Na década anterior, os meios de comunicação falaram livremente da probabilidade de SaddamHussein ter armas de destruição emmassa. Essas histórias davamconsistência às alega- ções do governoBush, doReinoUnido e da Organização das Nações Unidas (ONU) de que Saddam tinhamentido sobre seus arsenais químicos, nucle- ares e biológicos e de que ele era um perigo iminente à pazmundial. Foram necessárias uma guerra brutal e uma ocupação sangrenta para provar que o iraquiano não tinha armas de des- truição em massa. No rescaldo daquela guerra catas- trófica, os meios de comunicação do Ocidente tinham produzido uma das maiores barrigas dos últimos dez anos. A imprensa não cometeria o mesmo erro quando surgiram informações de que o famoso arsenal químico da Síria poderia ser usado em plena escalada da guerra civil. Em 20 de agosto de 2012, o presidente americano, Barack Obama, emitiu um alerta em lingua- gem semelhante à utilizada antes da guerra no Iraque: “Nós fomos claros com o regime de Bashar Al-Assad, e com outras pessoas, sobre o fato de que o uso ou o transporte de armas químicas é cruzar a linha vermelha para nós. Isso mudaria meus planos. Isso alteraria minha estratégia”. As redações perceberam clara- mente a comparação. “Considerando a experiência americana na guerra do Iraque, não queremos construir uma argumentação emfavor de umconflito que, analisado comcuidado, possa ter

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