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revista de jornalismo ESPM | cJR 57 se baseado em informações infunda- das”, declarou Peter Gelling, então editor para África e Oriente Médio do site GlobalPost, voltado ao noticiá- rio internacional. Outros repórteres e editores encar- regados da cobertura da guerra da Síria também se mantiveram caute- losos quando relatos desencontrados sobre o emprego de armas químicas surgiram. “Havia uma espécie de con- sensoentrenós deque tínhamos de ser muito cuidadosos”, afirma Joby War- rick, ex-repórter de segurança nacio- nal do Washington Post , que cobriu o período de preparação para a guerra do Iraque. Aexperiênciado Iraquedei- xou claras, para ele e para outras pes- soas no jornal, as armadilhas da cober- tura exagerada e tendenciosa. Emdezembro de 2012, surgiramos primeiros relatos esparsos de ativis- tas sírios e tambémda “mídia cidadã” sobre ataques com gás em pequena e média escala, emumcenáriode guerra civil generalizada, complexa e cadavez maisviolenta. Seráqueessas revelações constituiriam uma violação da linha vermelhadeObama?Normalmente, os meios de comunicação tentariamres- ponder a esse tipo de pergunta sobre guerra ou paz de maneira indepen- dente. Porém, as primeiras informa- ções apareceramemummomento em que os sequestros e a violência dificul- taramas viagens de repórteres ameri- canos e europeus aos territórios con- trolados pelos rebeldes sírios, onde estava o foco dos piores conflitos. Provas inconsistentes Sem testemunhos próprios, jornais e emissoras ocidentais tiveramde apro- veitar vídeos e depoimentos dosmeios de comunicação sírios. Uma análise de relatos de cidadãos e de ativistas sobre ataques químicosnaSíria entredezem- bro de 2012 e junho de 2013 mostrou que, emuma série de casos, várias fon- tes falavamdeummesmoataque.Ainda assim, comoesses canaisocidentaisnão tinhamrepórteres no local, nemmeios de realizar examesmédicos nas supos- tas vítimas, eles por vezes deixaramde divulgar essas informações, em algu- mas ocasiões citaram“alegações” refe- rentes a ataques, e emoutras não fize- ram nenhuma menção a eles. Por fim, emabril de 2013, apósmui- tas alegações de uso de armas quími- cas, oConselhoEditorial do NewYork Times exigiu responsabilidade, classi- ficando as provas contra Assad como inconsistentes e lembrando os leito- res das acusações falsas feitas antes da invasão ao Iraque. O Times tinha sido duramente criticado por não ter questionado direito as “provas” exibi- Em Damasco, combatentes do Exército Livre da Síria usam anti-inflamatório para tratar os efeitos da exposição a armas químicas Arquivo CJR/ Laurent Van de Stockt

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