RJESPM 11
revista de jornalismo ESPM | cJR 59 Muito do que o mundo sabe sobre os combates na Síria vem de vídeos não verificados, posts em redes sociais e canais feitos por gente comum químicas” (“Syria: thehorrificchemical weapons attack that probablywasn’t a chemicalweaponsattack”, nooriginal). IanPannell, repórterdaBBC, entrou clandestinamente na Síria emmaio de 2013. Ele foi para Saraqeb para inves- tigar o suposto ataque de 29 de abril. Pannell se encontrou comvítimas que diziamqueumhelicóptero do governo teria lançadonomínimodois cilindros na cidade. Ele assistiu a vídeos do ata- que e de seus resultados. Entrevistou moradores e combatentes rebeldes, e mandou todo seumaterial para umex- -oficial militar britânico com conhe- cimentos em armas químicas. Esse especialista também analisou pro- vas relativas a outros ataques e acre- ditava que era possível que sarin ou outro neurotóxico tivessem sido usa- dos. A BBC publicou tudo na época, mas deixou uma observação de que era impossível verificar os testemu- nhos das vítimas. Foram dois repórteres corajosos da França que romperam a cortina de fumaça. Jean-Philippe Rémy e Laurent Van der Stockt, do jornal Le Monde , entraram clandestinamente na Síria em abril de 2013 e desapare- ceram por dois meses. Quando vol- taram, trouxeram amostras de urina para ser analisadas por um laborató- rio francês, que confirmou a exposi- ção a armas químicas. Após meses de matérias contidas, o jornal Le Monde afirmou com certeza que armas quí- micas tinham sido usadas. Em 21 de agosto de 2013, cente- nas de pessoas morreramemumata- que químico na periferia deDamasco. Médicos que trataram vítimas sufo- cadas levadas ao hospital concluíram que um agente que atinge o sistema nervoso tinha sido usado. Vídeosmos- trando enterros coletivos de cadáve- res embrulhados correram o mundo. Por fim, a ONU afirmou que a inves- tida utilizara armas químicas, proibi- das por leis internacionais. Hoje, os EstadosUnidos, a Inglaterra, a França e outros governos dizem que as for- ças de Assad foram as responsáveis por essa atrocidade – assim como faz grande parte da imprensa ao relatar o que aconteceu em 21 de agosto. Na direção errada Oataquemudouosrumosdoconflitona Síria. Para evitar uma intervenção oci- dental, Assad concordou emtransferir ocontroledeseuarsenal químicoparaa ONUeenviá-loparadesativação. Assad aparentementerenunciouàsarmasquí- micas para continuar a guerra conven- cional, que já matou 150 mil pessoas e desalojou mais de 9 milhões. Para algumas pessoas que cobri- ram esse conflito, o foco de Obama nas armas químicas é frustrante. “Eles estão destruindo completamente uma cidade de 3milhões de habitantes com as bombas improvisadas que a força aérea de Assad usa”, revela Liz Sly, do Washington Post , sobre Aleppo. “E isso não é proibido, ninguémesta- beleceu nenhum limite, e as pessoas acham que de algum jeito as coisas estão solucionadas porque resolve- ram a questão das armas químicas.” Muitos editores e repórteres ecoam as decepções de Sly. Quando um acordo frágil tirou as armas quími- cas da Síria, o conflito se transfor- mou emuma terrível guerra de atrito. Armas convencionais, como bombas improvisadas lançadas sem nenhum critério pelos aviões em bairros resi- denciais, esmagaram os já traumati- zados sírios. As mortes provocadas pelo armamento comum superamde longe aquelas causadas por armas quí- micas. Recentemente, amídia cidadã síria inundou a internet comconteúdo independente relatandoqueogoverno está fabricando bombas improvisa- das com gás cloro, que provoca asfi- xia, para serem lançadas de helicóp- tero. Os repórteres do Ocidente estão fazendo o possível para verificar essas novas denúncias de atrocidades. Em uma visita à Casa Branca em maio, oministro das relações exterio- res da França, Laurent Fabius, decla- rou: “Temos pelo menos 14 indícios de que armas químicas foram utili- zadas em pequena escala nas últi- mas semanas – especialmente o gás cloro”. Todavia, ele não estabeleceu nenhuma linha vermelha. ■ Texto originalmente publicado na edição de julho/agosto de 2014 da CJR. chris mossa é jornalista freelancer e estuda na Columbia Journalism School. O artigo teve contribuição de John Albert, Pierre Bienaimé, Portia Crowe, Joanna Plucinska, Ameena Qayyum, Younjoo Sang, Marie Shabaya e Manon Verchot. É parte de uma pesquisa disponível em www.reportingtheredline.com .
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