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revista de jornalismo ESPM | cJR 69 perigo iminente? Há alguma rede de proteção? Há outras pessoas a quem possa pedir ajuda?”, pondera. Kotlowitz respeita a abordagem rigorosa de Nazario ao trabalho de apuração, mas em última análise dis- cordadela. Éumadiscussãoqueosdois jornalistas, que trabalharamjuntos no [ Wall Street ] Journal , travaram várias vezes ao longo dos anos. “Eu o teria deixado usar (meu celular)”, declara Kotlowitz. “Sem nenhuma dúvida.” A seu ver, emprestar o celular a Enri- que não teria alterado a compreensão da dificuldade fundamental da jor- nada do garoto pelos leitores, sobre- tudo numa era em que intervenções do gênero podem ser explicadas em notas de rodapé ou anunciadas na pri- meira pessoa. Mas essa é a opinião de um jorna- lista. David Simon considera a ética de Nazario “impressionante e admi- rável”. E acrescenta: “Ela é bem mais disciplinada do que eu teria sido, mas não estou dizendo que o certo sou eu. Sob certos aspectos, tenho certeza de que não sou”. Ofatoéque, apesarde todooesforço feito por repórteres para não influen- ciar um personagem, as esferas mais importantes de poder estão fora do alcance do jornalista. É uma lição que Simonaprendeuquandoumdosperso- nagens do livro TheCorner , umsujeito chamadoGaryMcCullough,morreude overdose enquanto o livro era escrito. “Você está lá, nomundo, com seu blo- quinho de anotações”, afirma Simon. “Sedisser algo, sefizer algo, comosaber se o resultado do livro é realmente o resultado do livro? Talvez não dê para saber, e nada é tão simples. Mas o Gary McCullough me ensinou que é tolice achar que algo vai mudar só porque um sujeito branco de classe média aparece no seu bairro com um bloco de anotações, disposto a escu- tar. Se havia alguém que eu teria gos- tado de ajudar – e ajudei – era o Gary. E não adiantou nada.” ■ alexis sobel fitts é repórter sênior da cjr. nicola pring foi estagiária da cjr. Texto originalmente publicado na edição de julho/agosto de 2014 da CJR.
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