RJESPM 11
revista de jornalismo ESPM | cJR 73 todos, porsetratardeumpaísemquese tema impressãodequeaspessoas “não doam” para “causas” do terceiro setor. OCatarse, que é amaior plataforma de crowdfunding dopaís, conseguiutornar realidade mais de mil projetos, levan- tandoumaquantiasuperiora14milhões de reais. Para entender quemdoa epor quê, o Catarse realizou em 2013 a pes- quisa Retrato do Financiamento Cole- tivo no Brasil, voltada àqueles que já doaram para iniciativas na área. Vale ler o relatório final , resultado de 3.336 entrevistas. Chama a atenção o fato de que 74%das pessoas que doaramrece- bem até 6.000 reais por mês – ou seja, são de classe média, não exatamente o tipo de gente que realiza doações por- que está “sobrando” dinheiro. Doam porque veemali umenorme benefício. Mas qual seria esse benefício?Algu- mas respostas ajudam a entender a questão. Entre os doadores, 26% tra- balham em empresas privadas, mas é grande a quantidade de freelancers (14%), empreendedores (14%) e estu- dantes (13%). Mais interessante ainda: 68%dosempreendedoresentrevistados enxergam potencial de financiamento coletivo em seus negócios; e 81% dos estudantes entrevistados estão inte- ressados emempreenderprojetospró- prios após se formarem. Isso significa que, ao doar para projetos de financia- mento coletivo, eles não estão apenas buscandoaconcretizaçãodaquelepro- jetoeoseubenefíciodireto; estão forta- lecendo uma comunidade e uma alter- nativa econômicada qual elesmesmos podem se valer algum dia. Mas como isso pode beneficiar o jornalismo, ou os jornalistas? Outro dado que salta aos olhos na pesquisa é que 10% dos entrevistados disse- ram trabalhar na área de jornalismo e comunicação, sendo ela uma das três áreasmais recorrentes, ao lado deweb e administração. No caso específico do jornalismo, abre-se aí uma nova fronteira do que seria a participação do público, que vai muito além dos pequenos e restritos papéis que lhe eram permitidos tradicionalmente. Nossa experiência Foi essa questão que nos instigou a construir o projeto Reportagem Pública. Inauguramos a campanha de arrecadação nummomentomuito especial: em junho e julho de 2013, protestos massivos como não se viam havia décadas chacoalharamo Brasil. E, junto com eles, umdos fenômenos mais instigantes do jornalismonos últi- mos anos, o surgimento de coletivos de cobertura cidadã, como o Mídia Ninja, Rio na Rua e BH nas Ruas, que acabaram suprindo uma demanda de informação quente, do front dasmani- festações, ao vivo e sem cortes. Para alémda imediatez da informa- ção edo ineditismodaquela cobertura, oque esses coletivos demonstraramfoi o desejo da população – em especial dos mais jovens – de ver uma cober- turamenos circunscrita aos informes oficiais, mais interessada a voltar às ruas, ao rés do chão, para ouvir as pes- soas. Um jornalismo que descesse do seu pedestal e se identificasse com os manifestantes. Um jornalismo ques- tionador, que denunciasse e perse- guisse impiedosamente o aviltante abuso policial, que não apareceu na coberturada imprensa atéumsegundo momento. E um jornalismo que lhes permitisse fazer parte – seja pormeio de comentários, seja como retransmis- sores pelo compartilhamentode infor- mações e links pelas redes sociais, seja exercendo a funçãode “ninjas” por um dia – de sua elaboração. Por outro lado, a produção desses coletivos era pouco criteriosa em ter- mos jornalísticos, o que deixou claras as limitações desse modelo. Contudo, as iniciativas provaramque havia uma grande demanda por um jornalismo mais aguerrido e crítico no Brasil. A Agência Pública sempre se dedicou a cumprir esse papel na produção de reportagens aprofundadas com distri- buição livre. Chegava a hora de radica- lizar essaexperiência. Apergunta, para nós, era: como combinar o rigor neces- sárioao jornalismocoma colaborativi- dade típica da era da internet?
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