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revista de jornalismo ESPM | cJR 75 o lucro”, de autoria de Paula Saccheta – que estuda o processo de privati- zação de presídios em Minas Gerais –, teve 12 mil compartilhamentos, e o vídeo foi visto por 51 mil pessoas. O mais interessante, para mim, nesse processo, foi o convite à partici- pação do fazer jornalístico em diver- sas etapas do processo. Falta ainda à maioria dos jornalistas a compreen- são de que o jornalismo pós-indus- trial temque ser observado como um processo completo, que vai desde o levantamento de fundos, passando pela seleção da pauta, até a sua dis- tribuição final – e, muitas vezes, tudo isso é feito pela mesma pessoa. Aqui na Pública, nos quase quatro anos de existência, dedicamos muito tempo a compreender esse processo que domina todas as etapas (claro que sempre há o que aprimorar, e novas tendências e soluções vão surgindo). Todos, aqui, compreendem todo o processo e têm aprendido a operar cada estágio. De maneira geral, o barato do cro- wdfunding é que ele permite que se abra qualquer uma das fases, convi- dando a participação de outras pes- soas em diferentes graus e permi- tindo que o projeto seja “abraçado” por elas, de verdade. ■ Lá fora é assim Iniciativas bem-sucedidas em outros países comprovam a viabilidade do modelo do crowdfunding A tendência de financiar jornalismo por meio de crowdfunding não é nova – está nas origens do site Spot.us, o primeiro do tipo dedicado apenas a projetos de reportagens independentes, fundado em 2008 nos Estados Unidos pelo jovem empreendedor David Cohn. O site hoje pertence ao American Public Media e teve mais de 22.350 doadores ao longo desse tempo. O Guardian abriu este ano um canal próprio dentro do site Kickstarter, um dos mais conhecidos dos Estados Unidos. O jornal é responsável por selecionar projetos interessantes, emprestando sua marca a jornalistas que buscam viabilizar o financiamento. “Em contraponto à redução de fluxo e à confusão no negócio de jornalismo, mais de 10 milhões de dólares foram levantados para 2.000 projetos de jornalismo, rádio e podcast no Kickstarter até hoje”, disse o editor do Guardian , Caspar Llewellyn Smith, ao anunciar o novo canal. Mas a mais impressionante campanha de financiamento coletivo veio de um grupo de jornalistas bastante conhecidos apenas em seu país, a Holanda. A equipe que fundou o site De Correspondent, embora bastante jovem, conta com alguns dos jornalistas mais respeitados do país europeu. Para financiar o lançamento do site, cujo conteúdo é aberto para assinantes (chamados de “membros”) e se foca em artigos de opinião e análise, além de reportagens investigativas, o grupo conseguiu levantar mais de 1 milhão de euros de 18.300 pessoas. A regra era simples: quem doasse 60 euros ganharia uma assinatura durante um ano. O anúncio do projeto foi feito durante um programa na TV, e em uma semana mais de 15 mil pessoas já haviam doado. No texto de celebração de 1 ano do lançamento do site, o fundador, Ernst-Jan Pfauth, conta que 11 mil dentre os financiadores iniciais renovaram sua inscrição. Além deles, mais 17 mil se tornaram membros no último ano. Fundamental, escreve o editor, é ver o papel do jornalista não como um sabe- -tudo, mas como um “líder conversacional”, que encabeça uma discussão da qual tomam parte todos os membros do site. “No De Correspondent, acreditamos que os jornalistas têm que trabalhar junto com os leitores, já que cada leitor é um expert em alguma coisa. E 3.000 professores sabem mais que apenas um repórter que cobre educação”, explica. Pfauth resumiu em cinco pontos as lições aprendidas durante esse ano. Todas elas tratam o leitor como parte integrante da produção noticiosa: –Explique como você gasta o dinheiro dos seus membros; –Encoraje os jornalistas a trabalhar junto com os membros; –Seus membros são seus melhores “embaixadores”; –Dedique-se a buscar ativamente aquelas pessoas que já gostam do seu trabalho; –E pense além da sua plataforma quando publicar as suas histórias e alcançar diferentes públicos. ■ NV natalia viana é codiretora da Agência Pública. ELISA CARARETO

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