RJESPM 11
revista de jornalismo ESPM | cJR 79 Emmeio à guerra travada contra o conglomerado demídia Grupo Clarín, a presidente argentina, CristinaKirch- ner, sancionou emoutubro de 2009 a Lei de Serviços de Comunicação Au- diovisual. Em trabalho apresentado no Congresso da Associação Latino- -Americana de Investigadores da Co- municação (http://congreso.pucp.edu . pe/alaic2014/grupos-tematicos/gt-16- -estudios-sobre-periodismo/), em Li- ma (Peru), em agosto, o pesquisador argentino Mariano Ure Mariano Ure (mariano_ure@uca.edu.ar ) apresen- tou estudo sobre benefícios e desvan- tagens da Lei que abriu o sistema de telecomunicação no país. A nova lei permitiu a inclusão de temas importantes à esfera públi- ca, representando mais interesses comuns aos cidadãos, afirma. No entanto, Ure diferenciou o meio pú- blico do estatal. Apesar de os meios públicos facilitarem o surgimento de novos canais, eles podem ficar reféns da posição do governo, tor- nando-se armas de “publicidade política”. Para manter caráter pú- blico, esses meios devem ter inde- pendência em relação ao governo. A pesquisa vai acompanhar os ca- nais nos próximos anos. Outro trabalho apresentado no Congresso, dos brasileiros Jo- sé Tarcísio Oliveira Filho e Iluska Maria Coutinho (iluska@globo. com.br) , observou essa questão na TV Brasil. Segundo o estudo, a emissora evitou se aprofundar no caso da compra da refinaria da Pe- trobras em Pasadena (EUA). Sua única reportagem sobre o assunto no período observado foi uma en- trevista do ministro José Eduardo Cardozo atacando a oposição. ■ Pecado Original Graciela Mochkofsky Editora Planeta, 2011 420 páginas pesquisas Mídia oficial, entre público e estatal Obra sobre a Argentina escapa do maniqueísmo Em um país dividido como a Argentina, é difícil ouvir vozes que não sejam maniqueístas, politica- mente a favor do governo ou contra ele. Pecado Original, Editora Planeta, de Graciela Mochkofsky, encontra uma posição equidistante para fazer um retrato crítico dos dois lados que se enfrentam no embate descrito no subtítulo da obra: Clarín, osKir- chner e a Luta pelo Poder . Na Argentina, como no Brasil (de forma mais suave), a disputa política entre governo e oposição passa pela construção de um cenário de ataque à imprensa como “partido político”. E lá, onde o Clarín é um imenso oligopólio, a construção desse fantas- ma foi mais fácil para o casal Néstor e Cristina Kir- chner, ao longo dos seus trêsmandatos sucessivos. A autora escreve como quem narra um roman- ce, seu texto tem o ritmo das melhores obras do novo jornalismo americano. O livro não tem índi- ce, e os capítulos curtos contam cenas específicas sempre relevantes para a construção do enredo. A obra, só disponível em edição argentina, se divide em três momentos: (1) a partir do início dos anos 1950, acompanha o caso de Roberto Noble e sua amante Ernes- tina (depois mulher) enquanto ele funda e faz crescer o jornal Clarín , até se tornar o maior jornal do país, quando ele morre e deixa a em- presa como herança para a mulher e filha legítima de outro relacio- namento; (2) com o marido morto, Ernestina afasta a enteada da he- rança e adota dois bebês, enquanto o Clarín mantém relacionamen- to estreito com a ditadura militar que governa o país de 1976 a 1983; (3) coma redemocratização, começamas buscas pelos filhos dos pre- sos políticos assassinados, adotados ilegalmente por casais no país, enquanto têm início as divergências entre o Clarín e os presidentes, especialmente Carlos Menem e depois Néstor Kirchner e sua mulher, Cristina. Nos embates com os políticos peronistas, surge a acusação de que os filhos adotados por Ernestina depois da morte do marido eram roubados de presos políticos assassinados. Graciela Mochkofsky é uma premiada autora de livros de não fic- ção e foi editora do site El Puercoespin de jornalismo independente, atualmente “em pausa” por falta de dinheiro. Ela vive agora em Nova York. Para a reportagem do livro, ouviu tantas fontes que gastou 12 páginas ao final para agradecer e explicar de onde tirou cada infor- mação usada no livro. Ao final da leitura é possível ter uma compre- ensão maior sobre a Argentina e sobre a guerra entre o governo e a imprensa, sem cair em um dos polos que dividem as opiniões do país como os jogos entre Boca Juniors e River Plate. ■ livro
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