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80 outubro | novembro | dezembro 2014 credencial luiz egypto O exercício da crítica Observatório da Imprensa atinge maioridade cumprindo o papel de fomentar a discussão sobre a mídia e tornar esse conteúdo disponível para consulta meuprimeiroencontro pessoal com AlbertoDinesocorreuem1992, quando eu era editor da revista Imprensa , onde ele assinou uma seção sob a retranca “Observatório”. Dines morava emLis- boaeestavadepassagemporSãoPaulo. Noprimeiro textodeleque editei, rece- bido no papel térmico de ummoderno aparelhode fax, pesquei umaexpressão que me encantou: “Circo da notícia”. Insisti que este era o nome mais apro- priado para a seção que então se inau- gurava, mas Dines resistiu, afirmando e reafirmando seu interesse emfixar o nome “Observatório”.Nãocompreendi muitobemas suas razões,mas aquiesci. O que mais importava era o teor dos seus artigos, ricos emanálises acuradas e comuma pegada que remetia àhistó- rica coluna “Jornal dos Jornais”, publi- cada aos domingos na Folha de S.Paulo , entre julho de 1975 e setembro de 1977, tida como marco inicial da crítica de mídia na imprensa brasileira. Sua insistência em manter o cha- péu “Observatório” fundava-se em dois motivos que só mais adiante fui entender. O primeiro tinha a ver com o projeto – que havia algum tempo ele acalentava – de criar uma entidade, um instituto, alguma instância formal que pudesse contribuir para o apri- moramento dos padrões de excelên- cia da imprensa do país por meio de debates, seminários e cursos de pós- -graduação. O segundo motivo, mais poderoso, tomou forma a partir de uma conversa que durou todo umfim de semana, em Lisboa, entre Dines e o linguista e poeta Carlos Vogt, então reitor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Naquele encon- tro gestou-se o Laboratório de Estu- dos Avançados em Jornalismo (Lab- jor), um “centro de pesquisa e acom- panhamento crítico da mídia” vincu- lado ao Núcleo de Desenvolvimento da Criatividade da Unicamp. À dupla juntou-se o professor JoséMarques de Melo e o evento fundador do Labjor foi o seminário “A Imprensa emQues- tão”, realizado em abril de 1994, em Campinas, logo transformado emlivro publicado pela Editora da Unicamp. Vinte anos depois, o Labjor exibe um portfólio robusto de iniciativas relevantes ( http://www.labjor.unicamp . br/ ), entre as quais a de incubar e tra- zer à luz o projeto do Observatório da Imprensa . Emmeados de 1995, agora morando em São Paulo, Dines estu- dava alternativas para produzir uma publicação que pudesse ampliar o alcance das reflexões nascidas das atividades de observação sistemá- tica da mídia levadas a cabo no Lab- jor. O empecilho maior eram os cus- tos. Como atrair recursos para mon- tar uma redação e bancar os investi- mentos em papel, gráfica e distribui- ção? A superação do impasse veio por intermédio do jornalistaMauroMalin, pesquisador do Labjor, que lembrou estar em curso, havia pouco mais de um ano, a implantação do serviço de internet comercial no Brasil. A nova plataforma, argumentava, poderia abrigar um veículo jornalístico peri- ódico, com base em uma redação vir- tual, e eximi-lo dos custos de instala- ções físicas, processos industriais de impressão e logística de distribuição. Ele estava certo. A primeira edição do Observatório da Imprensa chegou à web em abril de 1996. Emparelhado com o desen- volvimento da internet, começou com periodicidademensal, depois quinze- nal, emseguida semanal, até opresente fluxode atualizações diárias. Teve uma versãomensal empapel, gratuita, que circulou entre agosto de 1997 emarço de 2000. Ganhou uma variante tele- visiva, semanal, que está no ar desde maio de 1998 na rede pública de tele- visão. E estreou, em maio de 2005, um programa de rádio transmitido de segunda a sexta-feira por emisso- ras públicas e universitárias. Ao contrário da mídia jornalística tradicional, que nasceu analógica para depois migrar para a web, o Obser- vatório da Imprensa fez o caminho inverso. Seu DNA é de bits, não de átomos. Com 18 anos de presença regular na internet, o Observatório é um veículo jornalístico diversifi- cado e plural cuja pauta primordial é a crítica da mídia; e, em concomi- tância, um fórumde debates emque a cidadania discute a mídia com a qual interage no dia a dia. Seu banco de dados, de livre acesso público, reúne o maior acervo de conteúdos relati- vos à crítica de mídia disponível em língua portuguesa. Não é pouco. Hoje, como antes, o projeto pressupõe que “o jornalismo é um exercício crítico permanente ao qual todos devem ser submetidos, sobretudo o próprio jor- nalismo”. Dines dixit . ■ luiz egypto é redator-chefe do Observatório da Imprensa (www.observatoriodaimprensa.com.br) .
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