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8 JANEIRO | FEVEREIRO | MARÇO 2015 tudo em dia carlos eduardo lins da silva Eu sou Charlie (mais Brown do que Hebdo) charlie brown inspirou o batismo do Charlie Hebdo . O grupo de humoristas liderado por François Cavanna e George Bernier produzia nos anos 1960 a revista mensal Charlie (que editava tiras, entre elas Peanuts , de Charlie Schulz) e o semanário Hara-Kiri Hebdo , este com a per- sonalidade cáustica que o caracterizava. Em1970, emexemplodas incoerências típicas da relação entre o Estado francês e o direito à liberdade de expres- são, Hara-Kiri foi censurada por debochar da morte do general Charles de Gaulle (comamanchete “Baile trágico emColombey: ummorto”, em referência à cidade onde o militarmorrera). Apublicação trocou então de nome, para Charlie Hebdo , de modo a se diferenciar da irmã mensal, homenagear Schulz e zombar de De Gaulle. Após o massacre de 7 de janeiro de 2015, propagou-se a frase “Je Suis Charlie” para manifestar solidariedade aos mortos. A expressão também serviu de mote para um amplo e muitas vezes acalorado debate entre jornalistas sobre a extensão dessa solidariedade, em especial se ela deveria justificar a reprodução dos cartuns considerados blasfemos por muçulmanos radicais. Não faltaram acusações de hipocrisia aos que, embora se dissessem Charlie, acharam melhor não publicar os desenhos mais agressivos, ou para não expor suas empre- sas e funcionários a risco de violência ou porque sua linha editorial não comporta esse tipo de humor. Mas o que significa declarar que alguém é outro? A mais antiga utilização desse recurso retórico é a de Cícero em Verrem : “Civis romanus sum” (“Eu sou um cidadão de Roma”), colocada na boca de um homem prestes a ser crucificado por umgovernador da Sicília, para proclamar seu direito de ser julgado pelas leis do Império Romano, Cartum do escritor e editor britânico Magnus Shaw, tuitado por ele com a mensagem “A terrible day for all cartoonists. #JeSuisCharlie” Magnus Shaw

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