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revista de jornalismo ESPM | cJR 9 é difícil imaginar estilos de humor mais antagônicos do que os dos Charlies: o debochado Hebdo e o ingênuo Brown. Mas a tira Pea- nuts , de Charlie Schulz, talvez por ter sido a mais famosa do mundo (no auge, nos anos 1970, tinha 355 milhões de leitores diários em2.600 publicações de 75 países e em 21 línguas), despertou os instintos de humoristas agressivos. Em 1986, JimReardon, quemais tarde também teve seu período de fama como umdos criadores de Os Simpsons , fez o curta-metragem Tragam-Me a Cabeça de Charlie Brown , no qual Snoopy, Linus, Lucy, Schroeder e os outros personagens tentam matar Brown para ganhar uma recompensa, mas é ele quem acaba matando a todos e outros mais, inclusive Mickey e Popeye. O filme termina com uma nota em que Reardon pede, ironica- mente, a Schulz que não o processe por difamação: “Isso nos faria pas- sar anos nos tribunais, e você já temmetade do dinheiro domundo, enquanto eu não tenho nada”. Para quem quiser ver: https:// www.youtube.com/watch?v=A15v 4tTab0Y. que incluía a Sicília, com todas as garantias inerentes a essa condição, que o governador não lhe dava. Muito diferente foi amaneira como JohnKennedy usou a fórmula em 1963, junto ao recém-construído Muro de Berlim. “Ich bin einBerliner” queria dizer queKennedy se colocava no lugar dos berlinenses, os quais, por isso, sabiam que podiamcontar comele (e como país que ele liderava). Ser Charlie é umconceito ainda umpouco diferente dos dois anteriores, pois Charlie não é pessoa nem país. Char- lie é a representação do direito de se expressar livremente, não importa se o expressado aborreça, insulte, ofenda. Muitos jornalistas responderam “Eu não sou Charlie”, provavelmente porque interpretarama frase no sentido de Cícero: ao se identificar com o Charlie Hebdo a pessoa se identifica com o que a publicação faz e com os juízos de valor que ela expressa emrelação a religiões e instituições. Claro que não é necessariamente assim. Ser Charlie não implica compartilhar estilo, métodos ou ideias do Charlie Hebdo . Mas exige, sim, não ceder ao que Timothy Garton Ash chama de “veto assassino”, ou seja, à chantagem de quemameaça: “Se você disser o que eu não quero ouvir, eu mato você”. Seja o assassino potencial quem for. Por isso é que todas as publicações domundo que defen- dema liberdade de expressão deveriamter republicado os cartuns do Charlie Hebdo . Porque quem se recusou a fazê- -lo mostrou-se vulnerável a intimidações similares, que podem vir tanto de extremistas islâmicos quanto (como tem ocorrido) de líderes de cartéis de drogas (México e Colômbia), mafiosos (Itália), políticos (Brasil). Ser Charlie não quer dizer agir como Charlie Hebdo . Alguns vão ser Charlie e agir como Charlie Brown. Mas garantem que Hebdo e todos ajam como quiserem. ■ Peanuts foi vítima de humor escatológico HUMOR Fontes: Digiday, Institute for Communication Technology Management, CIGI-Ipsos, Pew Research Center, Columbia Journalism Review Números fortes é quanto cada membro da geraçãomillennial nos Esta- dos Unidos vai gastar com conteúdo de mídia em 2015 U$ 750 60% 87% 41,5% é o número de pedidos de remoção de links rece- bidos pelo Google entre junho e dezembro de 2014, após a aprovação da lei do direito de ser esquecido na União Europeia por dia é o tempo de mídia digital que, em média, cada americano consome por dia 15 horas 182.604 dos brasileiros achamque acesso a internet deve ser um dos direi- tos humanos básicos (comparado com 38% dos alemães, 37% dos americanos e 13%dos japoneses) dos americanos se dizem mais bem-informados agora do que há cinco anos, por causa da internet desses pedidos foram aten- didos pelo Google Todos são iguais, mas alguns são mais iguais a lógica orwelliana se aplica na França. Dias após o establishment francês ter se solidarizado com o Charlie Hebdo e exaltado os princí- piosde liberdade, ohumoristaDieu- donnéM’balaM’bala foi detido por terbrincadocoma tragédiademodo considerado antissemita. As leis na França proíbem “dis- curso de ódio”, categoria em que o cômico foi incluído, e separam o direito de atacar ideias e institui- ções do fato de atacar pessoas indi- viduais e propagar ódio. A linha entre ume outro é tênue, subjetiva. Certa está a revista The Econo- mist : “O único discurso que pode ser coibido é o que claramente pode causar graves danos, mas não danos emocionais”.

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