RJESPM 12

revista de jornalismo ESPM | cJR 11 no dia 19 de novembro de 2014, a revista TheNewRepublic comemo- rouseucentenárioemgrandeestilo. Num formidável jantar de gala em Washington, o ex-presidente Bill Clinton discursou para louvar a publicação, semprecampeãdascau- sas liberais, o maior jazzista vivo, WyntonMarsalis, tocouo Parabéns paraVocê antes de dar seu show, e a ministra da Suprema Corte ameri- cana, RuthBaderGinsburg, coman- douo brinde comchampanhe fran- cês e pediu mais cem anos de vida para o grande título. Mas entre os jornalistas da reda- ção da New Republic , estrategica- mente colocados pelos dirigentes emmesas distantes das centrais no Mellon Auditorium, o clima era de velório. Os convidados de honra não sabiam, mas uma crise sem precedentes estava em seus estágios finais, e se tornou pública dias depois. Tão séria que as edições dos meses de dezembro e janeiro não saíram. A hecatombe pode ser um péssimo sinal para o futuro do jornalismo sob o comando dos jovens magnatas que se fizeramna internet. Chris Hughes, umdos formadores do Facebook, comprou a deficitária New Republic , sím- bolo do “velho jornalismo”, em2012, deu-lhe uma formi- dável injeção de dinheiro e prometeu manter os valores tradicionais da profissão. Mas, após curta lua-de-mel, começou a se chocar com os editores da velha guarda, até o embate de dezembro, quando vários se demitiram, revoltados com as ordens para tornar o veículo mais “contemporâneo”. Após os líderes, quase todos os jornalistas renunciaram. Agora, é esperar para ver seHughes temmesmo ummo- delo viável de bom jornalismo para o centenário título. ■ Agoniadeuma revista carlos eduardo lins da silva é livre-docente, doutor e mestre em comunicação; foi diretor-adjunto da Folha e do Valor . The New Republic Rolling Stone Uma lição de mau jornalismo num campus universitário Reprodução Outragranderevistaamericana, a RollingStone , símboloda contracultura dos anos 1960, deu show de incompetência na cobertura de um incidente na Universidade de Virginia. A revista publicou reportagememque acusava umgrupode estudantes, comonomede alguns deles, de ter estupradouma aluna. A repórter tinha ouvido apenas a suposta vítima, e ne- nhumdos acusados. Apolícia e a direção da universidade acre- ditaram na matéria e chegaram a anunciar punições. Sóque tudosecomprovouuma fraude, inicialmente revelada por outra reportagem, esta do jornal TheWashington Post . As au- toridades policiais e as universitárias isentaramde responsabi- lidade os suspeitos. A revista reconheceu todos os erros. O editor-chefe, JannWenner, queestánocargodesdequea revista foi fundada, em 1967, e é considerado um herói do jornalismo dequalidade, pediu à escolade jornalismoda ColumbiaUniver- sity para apurar as falhas estruturais que levaramao desastre e prometeu mudanças para que nada parecido volte a ocorrer. Nada disso, porém, deve evitar os processos que os prejudi- cadosdevemmover contraa revistaouas críticasqueentidades feministas têm feito contra ela pelos prejuízos que o caso pro- vocou contra as campanhas para que mulheres vítimas de es- tupro denunciem seus algozes. ■

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