RJESPM 12

revista de jornalismo ESPM | cJR 19 que mimetiza em tudo um site de jornal local. Com uma diferença que o leitor só vai perceber se olhar com atenção: das reportagens aos edito- riais, é tudo produzido pela compa- nhia de petróleo Chevron, que tem uma refinaria na cidade e um longo histórico de conflito com a comuni- dade e seus representantes. O Standard , título derivado da gigante que gerou a Chevron, omono- pólio Standard Oil, foi criado pela agência de relações públicas Singer Associates. Seu editor-chefe é contra- tadoda Singer. Osite foi bastante ques- tionado, desde o lançamento, por jor- nais de São Francisco – embora tenha sido tambémmencionado como uma saída para a crise dos jornais locais nos Estados Unidos. Mas foi um site ligado à Universidade de Berkeley, cidade ao lado, que abriu campanha para desmascarar a Chevron e seu jor- nal, de olho nas eleições municipais. No fim, os candidatos financiados pela companhia de petróleo acaba- ramderrotados emnovembro, o novo prefeito creditoumuito de sua vitória aos jornalistas-estudantes – e a histó- ria deles foi parar na mídia nacional americana. De maneira geral, o caso Richmond Standard , que segue no ar, transformou-se num alerta sobre os riscos da publicidade nativa, comsuas reportagens descaradamente emfavor da Chevron e até contra um concor- rente. Alerta que vale também para Brasil e outros países. Expansão do modelo John Lloyd programou uma visita a São Paulo para este início de 2015, para levantar como a aproximação entre RP e jornalismo está se dando por aqui. Seu livro aborda, além de Estados Unidos e Reino Unido, três países comdesenvolvimento distinto do fenômeno, França, Rússia e China. No primeiro, afirma o estudo, a velha resistência ao modelo americano e capitalista nas comunicações veio cedendo ao longo das últimas déca- das – e hoje, por exemplo, no marke- ting político, não se pode mais falar em exception française . Nos dois últimos, hámaior presença estatal. Na Rússia, onde foi correspon- dente do FT , Lloyd se concentra na “poderosa máquina de RP instalada no Kremlin”, opondo “a grandeza da Rússia” e dopresidenteVladimir Putin aos Estados Unidos e à Europa Oci- dental. Na China, “os líderes, mesmo sem ter que enfrentar eleições, preci- sam levar em conta o sentimento do público”, o que torna as relações tam- bém importantes, sempre mostrando o presidente Xi Jinping em busca de “unidade e harmonia, as velhas ideias do confucionismo”. Quanto ao Brasil, sua expectativa é encontrar tendências semelhantes àquelas que identificou nos Estados Unidos e Europa Ocidental. “As agên- cias de relações públicas se tornando mais poderosas, usando mais a inter- net, com mais recursos. Agora estão produzindo notícias, criando novos canais online, sites. Ou seja, o jorna- lismo é cada vezmais comandado por RP. Essa é a realidade, eu acredito, em todo lugar onde a mídia é forte.” ■ nelson de sá é ex-colunista da Folha escritor e coordenador do blog de teatro Cacilda . Na era digital, os gatekeepers vêm sendo substituídos por profissionais de RP e não pela audiência cidadã

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