RJESPM 12
22 janeiro | Fevereiro | marÇo 2015 nalistas. “Pensaria duas vezes antes de substituir o jor- nalista por um punhado de ferramentas e aplicativos na internet e deixar cada um de nós criar nossa própria nar- rativa com base nisso”, diz. “O jornalista exerce o papel importantíssimode interpretação –digere e depura a infor- mação e apresenta os fatos com uma camada narrativa.” Os próprios hackers reconhecema diferença. “Às vezes, nos círculos de dados abertos, perdemos o todo de vista; pensamos mais nos dados do que nas questões por trás deles”, pondera Elnaz Moshfeghian, que trabalhou com Kalov no SchoolCuts . “Sabemos o bastante de programação para representar um perigo, mas não o suficiente sobre o assunto para ter algo relevante a dizer.” Seja como for, esse trabalho pode ser um belo trampo- lim para possíveis investigações jornalísticas. “Muito do trabalho que fazemos pode ser aproveitado por jornalis- tas”, acrescenta Derek Eder, que trabalhou tanto no Clear Streets como no Chicago Lobbyists. “Quando criamos um site, no fundo a meta é sempre essa.” Organizações jornalísticas estão de olho. Algumas já mostraram interesse em colaborar – ou em buscar alter- nativas para cultivar o ethos do hacking cívico na própria redação. EmChicago, o sucesso inicial do EveryBlock – o pai dos aplicativos cívicos na cidade e precursor de uma série de sites hiperlocais – ajudou a convencer o jornal Chicago Tribune a montar uma equipe de aplicativos de notícias em 2009. No ano passado, a editoria de política do Chicago Sun-Times colaborou com a empresa de Eder, a DataMade, na criação do CloutMeter, umaplicativo que classifica a influência política dos vereadores de Chicago. CraigNewman, editor-chefe do Sun-Times , espera que, no futuro, o jornal trabalhe emmais projetos como oClout Meter – que envolvemmuita programação. “Estamos bus- cando melhorar nossa capacitação nessa área”, informa. Como o jornal ainda não tem como combinar programa- ção com jornalismo de dados, explicaNewman, a saída foi recorrer a hackers cívicos. Eles “nos ajudaram a chegar a esse ponto rapidamente e em toda a reflexão ao longo do caminho”, conta. MasNewman faz uma ressalva: “Todomundo está apos- tando em dados hoje em dia, pois a recompensa pode ser grande.Mas [ esses dados ] têmde corresponder ao que que- remos fazer e àquilo que importa para nossos leitores”. Encontro marcado São poucomais de 6 da tarde de uma terça-feira e a sala de reuniões da incubadora 1871, emChicago, já está lotada. O grupo está ali para o Open Gov Hack Night, um encontro semanal organizado pela Open City desde 2012. Os parti- cipantes são uma mescla de programadores, web desig- ners, acadêmicos, ativistas, educadores, estudantes e jor- nalistas – unidos por um interesse comum na ciência de dados. Depois das apresentações e dos avisos, a turma se divide empequenos grupos de desenvolvimento de aplica- tivos. Umdeles, liderado por Josh Kalov e ElnazMoshfe- ghian, trabalha num projeto ligado à educação. Outro se debruça sobre dados colhidos de câmeras de monitora- mento de trânsito. Um terceiro busca criar um aplicativo que gere uma lista de edifícios residenciais que ignoram diretrizes de reciclagem. AHackNight (e encontros parecidos) já produziumui- tos casos de sucesso – incluindo o SchoolCuts. Outro grupo de hacking cívico, o Smart Chicago Collaborative, quer ampliar ainda mais a comunidade. Ele montou um grupo de usuários comcentenas demoradores de Chicago para ajudar a testar e aprimorar aplicativos em desen- volvimento. O Smart Chicago também vem fazendo um levantamento de quem utiliza dados para prestar algum serviço público com a meta de dimensionar o “ecossis- tema de dados” da cidade. A esperança é que a iniciativa identifique lacunas no ecossistema que possam ser pre- enchidas por hackers cívicos. O Smart Chicago simboliza a institucionalização do movimento do hacking cívico. A entidade, sem fins lucra- tivos, nasceu de uma atípica colaboração entre o municí- pio de Chicago e dois importantes grupos filantrópicos locais, o Chicago Community Trust e aMacArthur Foun- dation. Liderado por Daniel X. O’Neil, um dos criadores do EveryBlock , o grupo funciona como uma espécie de incubadora para hackers cívicos, ajudando a ampliar o que fazem – e, com sorte, a criar um negócio viável a par- tir disso. “Estamos buscando promover o alinhamento de todos os atores domovimento, para que seu trabalho gere produtos e serviços que as pessoas realmente precisem”, afirma O’Neil. “Quando passa a [ focar em ] ‘produtos’ em vez de ‘projetos’, a pessoa pode ter impacto. E pode sus- tentar seu trabalho.” Esse senso comercial é algo que distingue muitos apli- cativos cívicos do típico projeto jornalístico. “São mais focados no usuário”, explica Juan-Pablo Velez, colabo- rador do Open City que trabalhou com jornalismo na extinta Chicago News Cooperative. Nos últimos anos, no entanto, essa mentalidade vem ganhando força em círculos jornalísticos, diz John Bra- cken, vice-presidente de inovação em mídia da John S. and James L. Knight Foundation. “Vemos (...) organiza- ções jornalísticas [ adotando ] abordagens cada vez mais parecidas para entender como o público está escolhendo a informação”, relata. “Estamos competindo com todos
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