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revista de jornalismo ESPM | cJR 23 Os hackers estão mais preocupados com os dados em si do que com a depuração das informações e sua inserção em um contexto narrativo os demais produtos – seja um PlayStation, um Game of Thrones ou uma reprise de Magnum – pela atenção das pessoas no mundo digital. Logo, já não basta lançar algo e esperar que as pessoas vejam.” O EveryBlock virou um produto – e popular o bastante para que o canal a cabo americano MSNBC o comprasse em 2009 e o levasse a outras 19 cidades do país. Em 2013, a NBC News (que assumiu o controle do msnbc) subi- tamente fechou o site — que foi relançado no começo de 2014 em Chicago. Agora, a iniciativa volta a ser expan- dida para outras cidades. O EveryBlock iniciou a carreira como ChicagoCrime.org em2005 –muito antes da febre dos “dados abertos”. Nele, o usuário podia visualizar o total de crimes registrado num determinado bairro. O nome mudou para EveryBlock em 2007 e o site foi virando uma coletânea de reportagens na imprensa, fotos postadas no Flickr, resenhas de empresas locais, classificados no Craigslist e dados do município – informação que, então, podia ser customizada. Dados e mais dados Para reunir isso tudo lá atrás, o EveryBlock simplesmente ligava para funcionários da prefeitura e solicitava os dados, diz O’Neil. “Quando eu trabalhava no EveryBlock , não havia mais ninguém pedindo dados cívicos [ a prefeitura ] de um jeito totalmente sistematizado, estruturado e orga- nizado como nós”, lembra. O engenheiro de software Bret Walker vem tentando reproduzir o trabalho do EveryBlock em Louisville, no Kentucky. Até aqui, o Louie Watch teve fácil acesso a dados do município, que adotou uma política de dados abertos em outubro de 2013. Já a relação com a adminis- tração do Condado de Jefferson é outra coisa. Em abril, quando pediu dados sobre imóveis ao condado, Walker ouviu que teria de desembolsar US$ 17 mil. O engenheiro recorreu à Procuradoria-Geral doKentu- cky, mas a decisão do condado acabou prevalecendo – sob a tese de que o LouieWatch não é umveículo jornalístico que estaria isento da taxa à luz da Lei de Dados Abertos do Kentucky. Walker ainda está avaliando se insiste ou não. “Determinar um tanto arbitrariamente o que é jor- nalismo e o que não é, e usar isso para impedir que o cida- dão tenha acesso a seus dados, é preocupante”, afirma. Para Schneider, da Sunlight Foundation, o que hackers cívicos como Walker estão vivendo hoje lembra o debate travadoanos atrás para saber seblogueiros eramjornalistas. “Basicamente, [ esses hackers ] estão fazendo certasmodali- dades de jornalismo”, diz ela. “Podem não estar gastando sola de sapato nem caçando um vereador para conseguir uma boa declaração, mas estãousando odomínioda tecno- logia para divulgar a informaçãode uma forma distinta, tal- vez mais acessível para umpúblico totalmente diferente”. Demodo geral, a comunidade de hackers cívicos deChi- cago foi poupada disso tudo, já que omunicípio está acima da curva na adoção da filosofia de dados abertos. Até aqui, contudo, nenhumexemplar da safra atual de startups cívi- cas reproduziu o alcance do EveryBlock . À medida que a comunidade cresce e amadurece, será interessante ver se seu trabalho será associado a organizações jornalísticas maiores ou se achará um público por conta própria. De um jeito ou de outro, a troca entre a comunidade do hacking cívico e a do jornalismo vai continuar, aposta Joe Germuska, diretor de engenharia de software e “nerd- -mor” do Knight Lab (parte da Medill School of Journa- lism) na Northwestern University. “A meu ver, o aspecto realmente interessante do hacking cívico é que o domí- nio tecnológico, o conhecimento e as ferramentas estão se democratizando a uma velocidade incrível”, salienta Ger- muska, que antes de ir para o laboratório atuou na equipe inicial de aplicativos do Chicago Tribune . “Hámuita coisa que se pode conseguir de graça, e é possível aprender a fazer isso sem ter de estudar por anos a fio. Isso vai bene- ficiar o jornalismo também.” ■ rui kaneya é correspondente do United States Project, uma iniciativa da CJR , nos estados americanos de Illinois e Indiana. Foi editor de projetos investigativos da Chicago Reporter . Texto originalmente publicado na edição de novembro/dezembro de 2014 da CJR.

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