RJESPM 12

26 janeiro | Fevereiro | marÇo 2015 na internet pública –mas, por estarem criptografados, não havia problema. Sem a senha que tínhamos trocado emnosso chat tambémcriptografado, ninguém poderia fazer nada com a informação, que estava embaralhada. Minha fontenãodescuidavadasegu- rança operacional, a chamada opsec . Quando acessava um servidor – para visualizar os e-mails da Síria ou para falar comigo, usava o Tor, uma rede privada de código aberto que oculta o endereço IP do usuário. Não havia como saber de onde estava se conec- tando. Por ser a parte identificada na conversa, eu não precisava usar o Tor. Seaquiloacabasse levandoaumamaté- ria, meu nome provavelmente estaria nela. Já se houvesse a necessidade de ocultar queminha fonte estava falando com uma jornalista, teria escolhido o Tor para a tarefa. Arquivos em segurança Baixei o arquivo do site público e descriptografei o material. Desco- nectada da internet, examinei um punhado de e-mails. Era tudo sólido; ele tinha o que dissera ter. Não sabia qual a proximidade da minha fonte com o governo sírio ou o tamanho do perigo que estava correndo. Nos meses que se seguiram, minha fonte e eu nos falamos com frequência pelo Jabber. Fomos nos conhecendo melhor, mas sempremantendo a cau- tela. Revelar muito poderia colocá- -lo em perigo, pois do mesmo jeito que ele vinha bisbilhotando os ser- vidores das embaixadas, o compu- tador de um de nós poderia ter sido invadido. Era muito cuidadosa com os arquivos; nunca mexia neles se estivesse online nem abria PDFs no meu computador. Podiammuito bem ter algummecanismo que, acionado, mandaria aos sírios um alerta, infor- mando que estavam comigo. Precisava de um parceiro jorna- lístico que soubesse a um só tempo agir comsegurança e lidar comdados. Decidi procurar o ProPublica . Tinha estado várias vezes na redação em Nova York e sempre saíra impressio- nada com a equipe de dados e aplica- tivos, conhecida internamente como “nerd cube”. Mandei um e-mail para o Scott Klein, chefe do grupo e amigo meu, perguntando se podia fazer uma visita para discutir um assunto.. Logo depois, estava na redação con- tando a Scott que tinha acesso a servi- dores de correioeletrônicodogoverno sírio. Scott ouviu comumar pensativo – atéme interromper. Chamou outros dois integrantes da equipe, Jeff Lar- son e Dafna Linzer (que mais tarde foi para aMSNBC), até a sala e, então, pediu que eu explicasse tudo detalha- damente. Disseramque estavam inte- ressados e pediramque eu voltasse na semana seguinte para discutir nova- mente o assunto. Naquelemesmo dia, contei a minha fonte que estava con- versando com o ProPublica . A reunião seguinte não foi como eu havia esperado. Cheguei com uma mochila pendurada no ombro e roupas informais. Tinha saído com a minha família no fim de semana e vinha cansada por causa da longa viagem a Nova York, feita durante a noite. Dessa vez, não estavam só o Scott, o Jeff e a Dafna. A mesa estava cheia de sujeitos de camisa social e gravata, alguns já grisa- lhos nas têmporas. Depois de apa- nhar uma xícara de café e viver um momento de pânico, sentei e expli- quei o padrão que se estabelecera entre mim e minha fonte. Falava com ele por meios seguros; eleme passava documentos criptografados; eu adi- cionava o material a meu crescente arquivo de correspondência diplo- mática síria. Precisava que todos ali na mesa entendessem como a ques- tão da segurança era séria. Proteger minha fonte era minha maior prio- ridade. Mas também era importante que nem o ProPublica nem eu fizés- semos algo que pudesse levar a fonte a perder o acesso aos servidores – ou seja, ninguém devia sequer cogitar examinar os arquivos num compu- tador conectado à internet.

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