RJESPM 12
28 janeiro | Fevereiro | marÇo 2015 mera verificação do hash no arquivo que compartilhamos. Depois de entregar o primeiro lote de arquivos ao ProPublica , deixeiNova York. A cada duas semanas aproxi- madamente – no máximo quatro –, dependendo da nossa agenda, eu e minha fonte mantínhamos contato via Jabber, e ele me passava o link de um arquivo criptografado que se encontrava em algum site público. Usávamos três ou quatro sites dis- tintos, aleatoriamente. Numa con- versa criptografada, definíamos de antemão uma senha. Em seguida, eu baixava o arquivo criptografado, o descriptografava e verificava o hash. Minha fonte confirmava se os hashes daminha cópia e da dele batiam. Crip- tografava de novo o arquivo e criava a senha com base no hash de um dos seis arquivos compartilhados inicial- mente como ProPublica . Emseguida, entrava em contato comScott ou Jeff pelo Skype. O Skype não é seguro – mas não precisava ser. Para nós, usar o Skype para trocar arquivos era uma solução mais fácil do que a transferência por sites públicos que eu e minha fonte adotávamos. Em geral, limitava-me a dizer “oi” (às vezes, dava o perío- do que o material cobria) e a infor- mar o número entre 1 e 6 que indi- cava o arquivo que tinha usado para gerar a senha. Quando recebiamomaterial, Scott e Jeff o descriptografavame, emgeral, me passavam o hash por outra ses- são criptografada no Jabber. Compa- rava a sequência como primeiro hash que recebera daminha fonte – e, com isso, sabíamos que o arquivo perma- necera inalterado ao longo de todo o processo. Não era toda vez que fazía- mos isso. Se alguém tivesse violado o processo, seria quase impossível des- criptografar e descompactar os arqui- vos corretamente. Mas era bom ter essa garantia. Quando recebia o conteúdo, o Pro- Publica o colocava num computador mais antigo, desconectado da inter- net. Aliás, a única finalidade daquele computador era guardar esses arqui- vos. Isso impedia que algummalware que o material pudesse conter aler- tasse os sírios ou causasse qualquer estrago à rede do ProPublica . Frustração O jornalismo de dados é difícil até na melhor das circunstâncias – e esse nem de longe era o caso. O material era desestruturado, emárabe, repleto de anexos, imagens, conversas infor- mais. O Scott contou que tiveram de abandonar depressa a ideia da tradu- ção automática, pois simplesmente nãodava certo. Acabaramcontratando uma pessoa que falava o árabe da Síria para ler os documentos. Seguimos nessa por um tempo. Eu entregavamais arquivos eperguntavaa quantas andava a investigação sobre o conteúdo.Meuscontatosno ProPublica diziamque o tradutor ainda não tinha achado nada de interesse jornalístico. Muitos dos e-mails eram clippings de notícias, em geral matérias que res- paldavam a linha do governo. Outros relatavamondealguémestiveraeoque comprara. Interessante, mas não para publicar. Contava as descobertas – ou a falta delas – a minha fonte. Estávamos todos frustrados. Nenhum de nós sabia se o tradu- tor estava deixando passar algo ou se simplesmente não havia nada de valor jornalístico nos dados. Seria uma bela decepção depois de tudo aquilo – embora, em se tratando de dados hoje emdia, fosse normal. Uma fonte anônimamais umamontanha de documentos emgeral é igual a decep- ção. O acesso a rios de dados trazia toda a dificuldade de proteger um delator tradicional e nada da garantia ou da clareza de lidar com um mate- rial garimpado por um informante experiente. A coisa seguiu assim até que Jeff começou ele mesmo a examinar os documentos. Em anexos de e-mails em inglês, encontrou manifestos de voos. A carga relacionada em alguns
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