RJESPM 12

revista de jornalismo esPm | cjr 37 zemos foi um código em linguagem JavaScript, que permi- te que cada atualização no site da Sabesp esteja sincroniza- da com nossa base de dados. A visualização utiliza a biblioteca D3 (Data Driven Docu- ments),quetambémébaseadaemJavaScript.Elapermitetam- béma filtragemdos dados por períodos específicos de tempo. O trabalho foi inspirado pela visualização realizada pelo es- túdio Jurema há duas semanas. Nossa contribuição é exata- mente permitir uma análise da série histórica dos dados so- bre os reservatórios. Segue aqui o código-aberto da aplica- ção: https://github.com/oeco/mananciais. Outro exemplo é o trabalho realizado por alguns jor- nalistas e um hacker de dados que desconfiavam da fata- lidade dos incêndios que ocorriam em favelas da cidade de São Paulo. Fatos que aparentemente estavam isolados poderiam indicar omissão do poder público, armações do setor imobiliário, enfim, era preciso investigar. Avisualiza- ção espacial dos incêndios, ano a ano, permite uma com- preensão que dificilmente poderíamos ter olhando fria- mente linhas e colunas. O projeto Fogo no Barraco 11 é colaborativo e conta com a participação dos cidadãos. O que não foi possível saber é se existe uma checagem das informações inseridas pelos colaboradores. Todavia, a apu- ração dos dados dos incêndios para coletivos dedicados e para empresas de comunicação é uma atividade possível e plenamente viável. O jornalismo pode utilizar o potencial de hiperlinkagem da rede para melhorar os contextos de suas publicações. Textos de jornais podemtrazer as informações do seu con- texto, da sua origem e dos seus objetivos iniciais. Ao utili- zaremuma base de dados, ela deveria estar disponível aos leitores, em formato aberto e legível por máquinas, para que os cidadãos-leitores realizassem outros cruzamen- tos, muitas vezes mais interessantes do que aqueles por nós realizados. Caso utilizem scripts ou pequenos progra- mas para obter ou manipular dados, eles deveriam ter seu código-fonte inserido em um repositório como o GitHub. Sem a lógica hacker, o jornalismo de dados pode ser apenas uma versão mais sofisticada do velho jornalismo de grupo e dos interesses corporativos. O jornalismo em uma esfera pública interconectada continuará não sendo neutro, mas poderá ampliar os compromissos com a ver- dade sem abandonar suas posições políticas. “A informa- ção quer ser livre” e “privacidade para os fracos, trans- parência para os poderosos” são os princípios da cultura hacker que podem melhorar a qualidade do jornalismo e ampliar a sua legitimidade. ■ sérgio amadeu da silveira é sociólogo e professor da Universidade Federal do ABC (UFABC). Integrou o Comitê Gestor da Internet no Brasil. É autor, entre outros artigos e livros, de “Ciberativismo, Cultura Hacker e o Individualismo Colaborativo” ( Revista USP , 2010). 11 Disponível: http://fogonobarraco.laboratorio.us/ Acesso 26/01/2015. CARLO GIOVANI

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