RJESPM 12
revista de jornalismo ESPM | cJR 41 em que a população branca se afasta cada vezmais da cidade àmedida que as famílias negras começama chegar, e então “organiza incorporações e zone- amentosparamanter osnegros longe”. Emumamatériachamada “Why the Fires in Ferguson Won’t End Soon” (“Por que as Fogueiras em Fergu- son Não Vão Se Apagar Tão Cedo”), Jamelle Bouie, da revista Slate , foi além e abordou outras práticas divi- sionistas, como o policiamento desi- gual, a segregação nas escolas e a seg- mentação do crédito imobiliário de risco (o subprime ). Bouie, Coy, Balko e outros jornalistas que expuseram a estrutura por trás da divisão racial da região de Saint Louis têmuma carac- terística em comum: eles estudaram o trabalho do historiador Colin Gor- don, cujo livro Mapping Decline: St. Louis and the Fate of theAmericanCity ( Mapeando o Declínio: Saint Louis e o Destino da Cidade Americana ) mostra as leis locais e as práticas que os bran- cos adotaram nos últimos cem anos para morar longe dos negros. Gor- don diz que uma parte da segrega- ção começou comos requisitos vagos nas leis do Missouri para a criação de municípios. “Vocês têm seis casas e um nome registrado? Muito bem, vocês são um município”, esclarece. O estudo apresenta o funciona- mento de uma dinâmica racial nacio- nal. Como os imóveis têm um papel fundamental para a formação de patrimônio, faz tempo que os bran- cos considerama integração racial em uma vizinhança um risco financeiro – quer admitam seu preconceito ou não. Mas o mais importante na obra de Gordon – aquilo que os jornalis- tas locais devem desenvolver – é o foco nas forças regionais . Quando as comunidades brancas defendem seu investimento, as coisas caminhamdo mesmo modo; o que Gordon mostra são os detalhes de como cada gera- ção de Saint Louis ajustou o passo nessa jornada. Um pouco de história Na Saint Louis de 1916, uma lei impe- diu a distribuição racial da cidade ao classificar determinados bolsões como “zonas negras” (apalavra inglesa empregada na lei é “negroes”, termo considerado extremamente racista hoje). Quando a Suprema Corte dos Estados Unidos derrubou uma lei semelhante em 1917, os corretores de imóveis que vendiam para negros nas zonasdesignadasanteriormentecome- çaram a ser acusados de má conduta profissional. Depois surgiram os con- tratos racistas: as escrituras dos poten- ciais compradores incluíamcláusulas que proibiama venda e o aluguel para negros. Saint Louis também estava na zona de perigo nos mapas que classi- ficavam diferentes bairros segundo o risco do crédito imobiliário: presença deminorias e risco financeiro estavam relacionados. Peter Coy, da Businessweek , chegou ao trabalho de Gordon ao deixar de lado a coberturamais recente, que ele considerava “muito tingida pelo tom dos acontecimentos”. Coyqueria saber “o que as pessoas estavam pensando antes de Michael Brown ser morto”. Os meios de comunicação locais não ignoravam totalmente a questão racial. Em2010, a emissora pública de rádio de Saint Louis reuniu cinco anos de entrevistas e as colocou na inter- net com o título “St. Louis History in Black and White” (“A História de Saint Louis emPreto e Branco”), uma narrativa que examinou dois casos importantes da Suprema Corte que começaram em Saint Louis – Dred Scott vs Sandford e Shelley vs Krae- mer, que em 1948 declararam ilegais os contratos racistas de moradia – e foi até o governo Obama. A repórter freelance Sarah Kendzior cobre os acontecimentos regionais atuais pela perspectiva das questões raciais e de classe. Em 2011, o documentário The Pruitt-Igoe Myth mostrou a demoli- ção de umgrande conjunto habitacio- nal como parte do resultado de déca- das de políticas públicas de exclusão, comoousode leis de zoneamentopara vetar projetos demoradia popular e o desenvolvimento dos subúrbios como uma forma de subsídio para as clas- ses média e operária brancas. Algumas leis americanas não só proíbem a discriminação como determinam medidas para eliminar a as disparidades étnicas
Made with FlippingBook
RkJQdWJsaXNoZXIy NDQ1MTcx