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46 JANEIRO | FEVEREIRO | MARÇO 2015 Senso de missão Ex-advogado e nova estrela do canal MSNBC, o apresentador Ari Melber não quer só falar de problemas – quer buscar soluções por alyson krueger numa tarde de quarta-feira no final de julho, durante o programaqueapresentanocanal acaboamericanoMSNBC, Ari Melber falava com dois senadores a seu lado na ban- cada, Rand Paul e Cory Booker. Melber conseguira reunir duas figurasmuito disputadas para entrevistas naTVame- ricana e se esbaldava com o assunto em pauta – o projeto de reforma da justiça juvenil lançado pouco antes pelos dois senadores. Ciente de que tinha somente 12 minutos e 34 segundos para a entrevista, Melber foi logo ao assunto: “Senador Paul, o projeto reverteria parte da lei bipartidária (...) de 1996 promulgada pelo presidente [ Bill ] Clinton, a mesma que retirou ‘food stamps’ [vale-alimentação] e benefí- cios sociais de gente condenada por crimes. Por que essa medida – e o que o senhor diria a quem considera que a lei [ de 1996 ] era justa?” Pouco depois, o apresentador voltou à carga: “Senador Booker, o modo como definimos o problema infuencia a abordagem que adotamos. O senhor considera [ o sistema atual ] acidentalmente racista ou explicitamente [ racista ]?” Quemassistia ao programa talvez tenha parado nomeio para ir buscar, noGoogle, o significadode expressões como “pathway for expungement” [ mecanismo para zerar a ficha criminal de alguém ] oudetalhes debolsas de estudo federais (numa reunião antes do programa,Melber teve demostrar cada pergunta aos produtores para garantir que o público daquele horário fosse entender o tema). “E aí, isso émuito cifrado?”, foi o mantra da reunião. Na reunião de pauta, Melber mostrava tanto interesse em discutir detalhes da justiça penal – a rede de prote- ção social, a prática do confinamento solitário, questões processuais, verificação de antecedentes, o estigma que cerca o criminoso – que quando uma produtora sugeriu que perguntasse a Paul se ele consideraria um compa- nheiro de chapa negro caso se candidatasse a presidente, Melber fuzilou a ideia: “Isso iria parar em 50 sites, mas o teor informativo seria zero”. Aliás, qualquer coisa ligada à disputa à Presidência nos Estados Unidos em 2016 é tabu para ele. “Quero lançar luz”, é algo que sempre repete. O noticiário daquele dia estava cheio de especulação sobre o avião daMalaysia Airlines derrubado naUcrânia e sobre o uso do Twitter pela Nasa para comemorar o aniversário do pouso da Apollo 11 na Lua – o típico “ruído branco” que Melber abomina. O apresentador temmenos de dois anos de TV. Veio do escritório de advocaciaCahill Gordon&Reindel – onde foi braço direito do advogado Floyd Abrams, umdosmaiores especialistas em casos que envolvem a Primeira Emenda da Constituição americana (a que trata da liberdade de expressão, entre outros direitos). Desde sua estreia, sub- verteu a pauta regular do jornalismo na TV a cabo – um misto de especulação política, insultos e cobertura factual
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