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48 JANEIRO | FEVEREIRO | MARÇO 2015 outros canais a cabo no mesmo horá- rio. No entanto, é difícil saber o quanto disso atribuir aMelber, pois há outros três âncoras – e, quando o apresenta- dor está sozinho na bancada de outro programa, os índices disparam. Numa entrevista exclusiva com o então procurador-geral dos Estados Unidos, Eric Holder, Melber estava em plena forma. Questionou Holder sobre Edward Snowden, a legalização da maconha e a política do medo nos EstadosUnidos.Assentiucomveemên- cia quando Holder articulou a visão que o próprioMelber tem da reforma da justiçapenal: precisamos “reconhe- cer que [ qualquer um ] pode cometer umerro, se reabilitar e voltar a ser um cidadão produtivo”, ressaltouHolder. Melber pode até ser mais irides- cente do que os colegas de bancada do TheCycle ,mas todos dividemuma sala longa, retangular, commesas cercadas de araras com vestidos e ternos. Nas paredes, hádesenhos de gatos, homen- zinhos depalitoeoutros rabiscos inde- cifráveis queMelber fazduranteopro- grama e passa aos colegas nos inter- valos comerciais. A idade média dos “ciclistas”, como são carinhosamente chamados ali dentro, é 34 anos. A fase atual seria uma espécie de incubadora para o estrelato futuro, embora todos ali também representem uma nova abordagemànotícia–abordagemcon- cebida para fazer diferença real. Em vez de apenas informar, essa geração incentiva o telespectador a partir para a ação. Emvez de perguntar ao entre- vistado o que está acontecendo no mundo, questiona o que está fazendo para resolver o problema. Os ciclistas parecemestar a anos-luz dos estoicos comentaristaspolíticosdo passado. Durante intervalos comer- ciais, quando não estão jogando Pic- tionary, ficam tirando sarro da roupa um do outro. “Nesse caso específico, a MSNBC está experimentando com a contratação de apresentadoresmais jovens”, informa JesseHolcomb, pes- quisador sênior de meios de comuni- cação no Pew Research Center. “E dá para inferir que esse seria ummeio de tentar atrair um público mais jovem.” Um rosto bonito, um dos traços mais prezados num âncora no pas- sado, já não basta. Toda emissora pre- cisa de gente que entenda de verdade daquilo que está falando. Frank Sesno, um antigo produtor da CNN que hoje dirige a School of Media and Public Affairs daGeorgeWashingtonUniver- sity, diz: “Quemtemumconhecimento reflete esse conhecimento no ar. Tem uma dimensão adicional, não só uma personalidade agradável”. Esse “jornalismode especialização” é uma ideia que extrapola o estúdio de emissoras. Em 2012, a University of Colorado em Boulder começou a exigir de estudantes de jornalismo a especializaçãonuma segunda áreaque não o jornalismo. “Uma das bandeiras que empunhamos é a do jornalismode especialização”, dizChristopher Brai- der, diretordoprogramadeJornalismo eComunicação deMassa da universi- dade. “Tão importante quanto ser um jornalista competente no plano téc- nico é ter a capacidade crítica neces- sária para uma profunda pesquisa e umverdadeiro domínio das áreas que se está cobrindo.” OapresentadorLawrenceO’Donnell concorda: “Achoqueapior coisaaestu- dar para conseguir umempregono jor- nalismo é jornalismo, pois você vai se apresentar paraumpúblico semdomí- niodenenhum[ assunto ].Melhor seria estudar economia”. Ponto de vista A necessidade de um conhecimento profundo é aindamaior no jornalismo de opinião praticado em emissoras a cabo. E, se for incentivar seus apre- sentadores a ter voz, tomar posição e defender uma causa, a emissora pre- cisa achar gente qualificada para tal. Poderia ou não ser alguémcomum diploma de jornalismo, embora defi- nitivamente pudesse ser um advo- gado que foi assessor parlamentar e trabalhou em campanhas políticas antes de virar apresentador de TV. Ou seja, Melber. O interesse de Melber na Justiça vemdesde os tempos de escola. Numa apresentação no terceiro ano do fun- damental, em Seattle, ele foi autor, diretor e ator de uma peça na qual a Exxon era processada por um derra- mamento de petróleo. Havia um ofi- cial de justiça comuma pistola d’água, um peixe encharcado de óleo num saco plástico e umgaroto de 9 anos na pele de um sisudo juiz de toga preta. “Você decide se era ‘nerd’ ou bacana, mas era definitivamente estranho”, declara Melber das primeiras aven- turas teatrais. “Tinhamuito interesse nomundo e o desejo de estar no palco, de ser parte disso.” No colégio onde fez o ensinomédio, Melber foi eleito presidente da turma com uma plataforma que descreve como levemente nacionalista. Depois, fez faculdade na University ofMichi- gan. Dali, rumoupara oCapitólio, des- tinode tanta gente que estuda ciências políticas no país. Pouco depois de começar a traba- lhar para a senadora Maria Cantwell, no entanto, Melber descobriu que o Congresso não é o lugar para mudar o mundo. Teve – para ficarmos num exemplo – o dia em que os senado- res abandonaramos trabalhos na casa
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