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revista de jornalismo ESPM | cJR 49 para ir declarar sua devoção aDeus na esteira de uma decisão judicial sobre o juramento à bandeira. Para Melber, que queria resultados, aquilo era um ato de puro simbolismo. Foi para Iowa trabalhar na campanha de JohnKerry: “Achei que, pelo menos, fazer cam- panha com uma meta finita e tentar mudar quem ocupava a Casa Branca poderia fazer uma grande diferença”. Treze meses mais tarde, quando Kerry perdeu,Melber caiunumchoro tãohistéricoque, navoltaàcasada sede da campanha, teve de parar o carro no acostamento. Em seguida, a vida o levou à Cornell Law School, onde conseguiu um estágio na Defensoria Pública de Manhattan e foi parar no escritório do lendário advogadoFloyd Abrams, especialista em casos envol- vendo a liberdade de expressão. Foi na Defensoria que Melber se embrenhounas falhas da justiça penal americana. Todas as manhãs, rumava para a seção do fórum onde detidos aguardavama audiência (chamada de “arraignment”)naqual seriamnotifica- dos das acusações que pesavamcontra cadaum. Atrásdas grades, a suaespera, Melber encontrava negros em sua maioria. “Não é [ um lugar ] limpo, não é agradável, não parece lá tão seguro e não é assimque deviam ser tratados seres humanos que, até prova emcon- trário, são inocentes”, diz. Jornalista ou advogado No trabalho com Abrams, Melber aprendeuhabilidades necessárias não sópara o sucessona advocacia,mas no jornalismo também. Do ex-funcioná- rio, Abrams diz: “Apuração de fatos, redação clara, foco absoluto no tema em pauta. O Ari teria se saído muito bem se tivesse permanecido na advo- cacia, mas está usando isso tudo para se tornarumextraordinário jornalista”. O rapaz vinha atuando em casos de alta visibilidade e escrevendo colunas sobre política para veículos como as revistas The Nation e The Atlantic , a agência Reuters e o site Politico . Um dia, a MSNBC o chamou para apre- sentar umprograma, como convidado. Chamou de novo outro dia – e mais outro. Quando o canal finalmente o sondou para um posto permanente, Melber aceitou sem titubear. A probabilidade de um jornalista exercer impactopode sermuitomaior do que a de um advogado. Segundo o PewResearchCenter, toda noite cerca de 3 milhões de pessoas nos Estados Unidos assistemaalgumprograma jor- nalístico na TV a cabo, o que significa que um apresentador pode influen- ciar a opinião de muita gente sem ter de esperar que umprocesso espetacu- lar, de alta visibilidade, caia em suas mãos. “No jornalismo, você temaopor- tunidade de chegar amuita gente com argumentos contundentes, instanta- neamente”, detalhaMelber. “Se [ essas pessoas ] respondemouconcordam, ou se acontece alguma coisa, é discutível, masesseacessoimediatoeesseimpacto são, a meu ver, algo extraordinário”. Arquivo CJR Ari Melber, ao lado dos colegas Krystal Ball e Touré. O âncora pertence a uma nova safra de apresentadores da TV a cabo americana
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