RJESPM 12
52 JANEIRO | FEVEREIRO | MARÇO 2015 à primeira vista, o daily growl parece a típica reunião de pauta do pessoal dedicado a emplacar vídeos de bichos fofos na internet numa startup de mídia digital cheia de dinheiro para torrar. Localizadas atrás demonitores – “no estilo [ do site de entretenimento ] TMZ ”, diz a editora-chefe, Lisa Keller –, fileiras de jovens motivados ouvem a chefe pedir memes e “ganchos” para engrossar o conteúdo já programado no calendário editorial da equipe. Os com- putadores exibem feeds do Twitter e o trabalho em curso no Photoshop. Na equipe, cada “gerente de comunidade” (dez no total) e cada designer (são oito) podem produzir até dez posts por dia. Nessa conta não entra a interação constante com fãs, seguidores e simples desconhecidos – parte considerável do trabalho. O ambiente é bem ilumi- nado e, apesar da pesada expectativa de produtividade, aparentemente sem estresse. É algo que me impressiona – e olha que já estive em muita redação na qual era pal- pável a sensação de que a indústria da mídia, para não dizer o país e a raça humana, está à beira de um abismo. O Daily Growl é o ritual matutino da equipe de marke- ting de conteúdo da Purina PetCare, o braço de ração ani- mal da Nestlé. Nem o Daily Growl, nem sua versão sema- nal, o Weekly Meow, são reuniões de pauta de verdade. Mas o trabalho ali na Purina é, de certa forma, mais pare- cido com o de uma redação do que muito jornalista gos- taria de admitir. Como sugere o nome do projeto – The Feed –, a equipe produz informações e entretenimento em ritmo constante para a divulgação em plataformas sociais. Faz isso comagilidade, preza a exatidão das infor- mações e está permanentemente consciente das necessi- dades do leitor. A diferença mais óbvia entre o trabalho do projeto The Feed e o de uma redação comum é que a equipe está abertamente alinhada com os interesses da segunda maior fabricante de ração para bichos de esti- mação do mundo. Vale lembrar, a fronteira entre edito- rial e comercial nas redações de órgãos de imprensa não é mais o que já foi. Na Time Inc., os editores hoje estão subordinados a gestores da área comercial. Uma série de e-mails vazados tempos atrás sugeremque executivos da Vice querem ser avisados com antecedência da publica- ção de qualquer coisa que cite um anunciante ou a marca de outra empresa. O fato de o conteúdo preparado para a Purina ser abertamente produzido por uma empresa é, sem dúvida, um gol para a transparência. O projeto The Feed é voltado a servir o consumidor – com a meta final de dar dinheiro. Cartazes espalhados pelo local – com os motes “Engage”, “Business Impact Now”, “Convert”, “Results” – não deixama equipe esque- cer de que é preciso engajar o cliente, produzir impacto imediato nos negócios, converter o público e dar resulta- dos. Que diferença há entre esses lembretes da realidade do capitalismo e certos indicadores de popularidade (trá- O lobo à espreita Na briga pelo consumidor, vale tudo. A bola da vez é o marketing de conteúdo, responsável pela edição de material que bem poderia ser publicado como reportagem por michael meyer
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