RJESPM 12

revista de jornalismo ESPM | cJR 61 material publicado com frequência temcara de release de relações públi- cas. Umamatéria paga pelaEpson, por exemplo, tinha como título “Epson leva impressoras para lugares remo- tos e prova conveniência da Ecotank [ uma linha de produtos da empresa ]”. Além disso, os veículos brasilei- ros há muito tempo publicam mate- rial comaspecto jornalístico empági- nas e até cadernos especiais sob o aviso “informe publicitário”. Quase sempre, porém, o conteúdo não tem grande relevância jornalística; com frequência os textos são mal escri- tos. As supostas reportagens destoam tanto do resto do jornal em tom, cui- dado gráfico e padronização que o lei- tor fica involuntariamente protegido de qualquer risco de confusão. A per- gunta, porém, é esta: e se esses tex- tos passassem a ser produzidos por bons jornalistas, com experiência e talento emreportageme edição, como propõem os defensores da publici- dade nativa? Mais do que isso: quan- tos de nós, premidos antes de tudo pela necessidade de pagar as contas, deixaríamos de aceitar convites finan- ceiramente vantajosos para produ- zir pautas de interesse corporativo? Em desacordo A discórdia precisa ser dividida em dois pontos. Número um: é aceitável que empresas utilizem técnicas jor- nalísticas – reportagens, emresumo – para fortalecer suasmarcas? Número dois: devem os jornais, devidamente remunerados, aceitar o encargo de produzir e publicar tais conteúdos? A resposta para a primeira pergunta parece mais fácil. A técnica jornalís- tica não é nem deve ser propriedade de ninguém. Se há alguma esperança para o futuro dessa profissão, aliás, ela reside justamente no fato de acre- ditarmos que as ferramentas do jor- nalismo – apuração ampla; redação clara, equilibrada e saborosa; edição cuidadosa e voltada para o leitor – são úteis para a sociedade. Se uma grande corporação quiser contratar uma equipe de bons jornalistas para editar conteúdos que valorizem sua marca, o que há para questionar? Pode até soar estranho ouvir alguém dizer que é “repórter do Itaú” ou “editor da Ambev”, mas a existência de tais vagas em corporações abastadas não deixa de ser um alívio para os profissionais da nossa combalida área. Alémdisso, não é de hoje que grandes empresas e assessorias de comunicação contra- tam jornalistas experientes e talen- tosos, embora atualmente mais para funções de assessoria de imprensa do que de reportagem. A existência potencial de um mercado de “jorna- lismo empresarial”, por mais que tal expressão possa assustar ou ofender os colegas mais críticos ao mercado, em nada afeta a existência dos jor- nais como conhecemos e gostamos. jean galvão

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