RJESPM 12
revista de jornalismo ESPM | cJR 65 fins lucrativos é irrelevante. O jorna- lismoéumamistura incomum: umbem público fornecido pelo setor privado. Quando umveículo se arrisca e intro- duz sua narrativa no diálogo público, ele não consegue capturar todo o seu valor econômico – porque seus con- correntes vão resumi-la e comentá-la em outras matérias –, menos ainda o seu valor intangível para a sociedade. Então por que os cidadãos engajados nãopoderiamajudar a cobrir essadife- rença, entre o custo de gastar sola de sapato com a reportagem e tudo que ela pode gerar? “No início eu tive uma reaçãonegativa instintiva: por queuma empresa bilionária pediria doações para um projeto de 40 mil dólares?”, afirma Ari Rabin-Havt, o apresenta- dor do Agenda , um programa no ser- viço de rádio via satélite SiriusXM , e ex-vice-presidente executivodaMedia Matters for America, um centro de pesquisa e informaçãona internet fun- dado em 2004 cujo objetivo é “moni- torar, analisar e corrigir informações incorretas da mídia conservadora”. “Mudei de ideia. Pessoas ricas e fun- dações financiaram o jornalismo por décadas: o ProPublica [ redação inde- pendente e semfins lucrativos dedicada a jornalismo investigativo ]; o Center for Public Integrity [ organização sem fins lucrativos ou filiações partidárias, voltada para o jornalismo investiga- tivo ]; o Schuster Institute for Investi- gative Journalism at Brandeis [ dedi- cado ao jornalismo investigativo, sem fins lucrativos, na Universidade Bran- deis, em Massachusetts ]; o American Independent [ que financia projetos de jornalismo tendo emvista sua relevân- cia ]. O jornalismo éumserviçopúblico financiado por empresas particula- res, muitas delas corporações bilioná- rias. O ProPublica faz umartigo para o New York Times e ninguém surta por causa disso.” Meios de arrecadação O ProPublica nãoconcorda coma ideia de que seumodelo é igual ao do finan- ciamento coletivo do Huffington Post , pois seus doadores não estão finan- ciando diretamente os veículos que utilizam seu trabalho. Contribuindo para o ProPublica , eles apoiamo obje- tivo de fazer reportagens investigati- vas que tenhamimpacto na sociedade, e publicar essas reportagens em um veículo importante é umamaneira de realizar a segundametade desse obje- tivo. “A missão da AOL é gerar lucro para seus acionistas no longo prazo. Meu compromisso é totalmente dife- rente disso”, diz Richard Tofel, CEO do ProPublica . Existemveículos, porém, queman- têm sua cobertura por meio de doa- ções, como revistas sem fins lucra- tivos de esquerda ( Mother Jones , revista bimestral editada pela orga- nização homônima sem fins lucra- tivos especializada em jornalismo investigativo; The American Pros- pect , revista trimestral apartidária voltada para justiça social, política e políticas públicas; The Washington Monthly , dedicada a análises políti- cas), da direita liberal ( Reason , revista mensal dedicada a notícias, análises e artigos sobre política, cultura e ten- dências) e da direita neoconserva- dora ( Commentary , revista mensal fundada pelo Comitê Judeu Ameri- cano, focada em questões relativas à democracia, ao judaísmo e à cultura judaica). Embora a maioria dependa de recursos de fundações mantene- doras, todas elas aceitam doações de leitores. Essa não é a primeira vez que doações foramfeitas para publicações com fins lucrativos: a Nation , embora seja legalmente uma empresa privada com fins lucrativos, cobre boa parte de seus prejuízos comdoações de lei- tores (este autor já contribuiu regu- larmente para a Nation , fez trabalhos como freelance para a American Pros- pect e o WashingtonMonthly , e atual- mente está empregado no Grigst.org , uma publicação sem fins lucrativos de jornalismo ambiental, que aceita doações de seus leitores). Ainda assim, pedir doações para o Huffington Post parece diferente. Ele é parte de uma companhia de capital
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