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66 JANEIRO | FEVEREIRO | MARÇO 2015 aberto, comfins lucrativos, e seu obje- tivo é ganhar dinheiro. Se a cobertura sobreFerguson feitapor Stewart atrair milhões de leitores e gerar uma boa renda a partir dos anúncios na página, os acionistas da AOL – e não os doa- dores – ficarão com os rendimentos. Em teoria, isso se aplicaria também ao grupo de ricos liberais proprietá- rios da Nation . Mas a Nation , diferen- temente do Huffington Post , não tem como objetivo ganhar dinheiro. Seus donos estão preparados para sofrer prejuízos, mas, nas raras ocasiões em que a renda é maior que os gastos, o dinheiro é reinvestido – e sembancar cobertura séria com conteúdo boni- tinho e baratinho. Enquanto isso, o Huffington Post paga por seu jorna- lismo sério cercando as matérias de fotos de famosas expondo os peitos, dematérias de outros portais, de con- teúdo fraco com títulos caça-cliques e com as reflexões gratuitas de webce- lebridades mal-informadas. “Se você é um leitor do Huffington Post , você concorda que as galerias de fotos com flagras de celebridades e amaluquice de JennyMcCarthy, com sua campa- nha antivacinação associando vaci- nas a casos de autismo, são o preço a pagar paramanter a coberturadoCon- gresso feita por Ryan Grim”, informa Mark Schmitt, diretor do programa de reforma política do New America Foundation, instituto sem fins lucra- tivos ou filiações partidárias para o estudo de políticas públicas, e ex-edi- tor executivo da American Prospect . Sob pressão Tofel não vê nada errado nos pedidos de doação do Huffington Post , espe- cialmente quando o veículo não está sendo lucrativo. “Quando você pre- cisa lucrar e não consegue, fica sob muita pressão”, explica. Rentabili- dade parece uma medida razoável, mas pode sermais complicada se ana- lisada detalhadamente. A AOL não diz se um determinado site é lucra- tivo, embora a empresa como umtodo seja. Uma matéria da Business Insi- der publicada em dezembro de 2013 estimou que o Huffington Post teria um prejuízo de cerca de 6 milhões de dólares com uma receita de 100 milhões de dólares. Mas os execu- tivos da AOL explicaram que o site investiu em seu crescimento, e que ele deve começar a gerar lucro (pro- curada por e-mail, Arianna Huffing- ton se recusou a dar detalhes sobre os rendimentos do site). Mas muitas organizações, comou semfins lucrati- vos, gastammuito dinheiro emcoisas que poderiam ser cortadas em nome demais jornalismo. Por exemplo, Tim Armstrong, da AOL, recebeumais de 12 milhões de dólares de indeniza- ção em 2012. Armstrong pode se importar ounão com a cobertura de Ferguson. Mas Arianna Huffington, que ficou com umaparte significativados 315milhões de dólares que a AOL pagou pelo site, certamente se importa. “Estamos determinados a usar todos os meios a nosso alcance para continuar con- tando a história de Ferguson”, garante ela. Será que isso incluiria botar amão no próprio bolso – e não no dos lei- tores? Eis a resposta de Arianna: “O HuffingtonPost é uma empresa global de comunicação com um orçamento anual, e não meu blog pessoal, que eu mantenho à minha custa”. A ideia de publicar matérias finan- ciadas por doadores emveículos com fins lucrativos, mesmo que de forma indireta, está se tornandomais comum recentemente. O modelo do ProPu- blica , de compartilhar seu conteúdo comgrandes canais, alguns deles com fins lucrativos, já foi incomum. Hoje, ele é usado por vários grupos de jor- nalismo investigativo, como o Cen- ter for Public Integrity e o InsideCli- mateNews , uma organização vence- dora do Pulitzer, sem fins lucrativos e apartidária, dedicada à cobertura de temas como energias limpas e renová- veis (ou não) e questões ambientais. Em certo sentido, fazer os leitores contribuírem financeiramente em troca de mais cobertura de assun- tos relevantes para eles está em uma A possibilidade de que veículos passem a arrecadar dinheiro para pagar salários e reportagens é uma preocupação crescente
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