RJESPM 12
74 JANEIRO | FEVEREIRO | MARÇO 2015 para ler e para ver leão serva fotografia Fotos de guerra revelam o efeito do tempo Um dos eventos culturais mais incensados da temporada de inverno europeu é “Conflict – Time – Photography”, no museu Tate Modern, em Londres, uma exposição do que há de melhor na foto- grafia de guerra, de seu surgimento no século 19, na Crimeia, até hoje (a foto mais recente é de 2013). A mostra fica em cartaz até 15 de março, mas para quem não puder visitá-la há um livro com todas as fotografias e um ensaio do curador. A exposição ocupa meio andar do grande prédio da Tate, com- pondo uma espécie de linha do tempo da fotografia de guerra. As imagens mais antigas são duas cenas compostas por Roger Fenton em 1854, no lugar onde dois meses antes havia ocorrido a batalha conhecida como “Carga da Brigada Ligeira”, na qual forças britâni- cas foram dizimadas pelos russos na Guerra da Crimeia (1853-56). Como mostrou Phillip Knight- ley, em sua clássica história do jornalismo de guerra, The First Casualty , antes da Crimeia jor- nais publicavam histórias de segunda mão, com base em relatos de pessoas envolvidas no conflito. Aquela guerra en- tre Inglaterra e Rússia marcou o envio do primeiro repórter, William Howard Russell, pelo jornal The Times , e do primei- ro fotógrafo, Fenton, pago pe- lo Exército britânico para docu- mentar a campanha. O que chama a atenção na exposição, mais até que sua magnitude, é o conceito inédi- to que a orienta: fascinado por uma obra do escritor america- no Kurt Vonnegut, escrita 20 anos depois da Segunda Guer- ra Mundial, em que o autor se revela ainda assombrado pelas memórias, com dificuldade de olhar para trás e incapaz de pas- sar a mirar o futuro, o curador Simon Baker decidiu juntar os instantâneos conforme o tem- po que os separa dos conflitos que retratam. Assim, as salas da mostra são classificadas por intervalos de tempo. O primeiro conjunto é de fotos feitas “Momentos Depois” de uma cena de guerra; em se- guida vem “Dias, Semanas, Me- ses Depois”; então, “Meses De- pois”; “1 a 10 Anos Depois” até “100 Anos Depois”. Nesta última sala estão as duas fotos mais re- centes (de Chloe Dewe Mathews, 2013), que mostram locais on- de, na Primeira Guerra Mundial, os exércitos aliados (Inglaterra, França e Bélgica) fuzilaram co- mo traidores soldados que tive- ram medo de ir para o front. Embora o tempo seja um componente fundamental da realização da fotografia (tem- po de abertura do obturador, de exposição da placa sensível à luz; tempo de revelação do fil- me químico etc.) e frequente- mente também sirva de parâ- metro para organizar fotos (de um mesmo período do passado ou que cobrem ummesmo fato), aqui o curador tratou de criar um novo paradigma de tempo para associar as fotos. Trata-se de uma dimensão temporal que não é a de seu conteúdo (inde- pende da época em que foi re- tratado o tema ou objeto), nem RICHARD PETER / Latinstock A destruição em Dresden, Alemanha, provocada pelo ataque aliado durante a Segunda Guerra Mundial
Made with FlippingBook
RkJQdWJsaXNoZXIy NDQ1MTcx