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80 JaneirO | fevereiro | março 2015 credencial Eduardo Matarazzo Suplicy A transparência, as CPIs e a imprensa A livre circulação de informações sobre governos favorece a investigação de irregularidades e a relação com a sociedade após ter sido deputado estadual pelo MDB, 1979-83; deputado fede- ral pelo PT, 1983-87; candidato não eleito a prefeito e a governador de São Paulo em 1985 e 1986; ter voltado a ser professor de economia emtempo integral na Fundação Getulio Vargas; eis que o PT me sugeriu ser candi- dato a vereador para ajudar a eleger uma boa bancada e a nossa candidata a prefeita, Luiza Erundina. Aceitei. Percorrendo a cidade, com um Jeep Willys 1953, que amigos me empres- taram, pintado de branco, com uma estrela vermelha, o número 13 e o slo- gan “Pintou Limpeza” – sugestão de meu amigo Carlito Maia –, me elegi com 201 mil votos, cinco vezes mais que o segundo colocado. Fui então eleito Presidente da Câmara Muni- cipal de São Paulo. Ao assumir, coloquei em prática o mote “A transparência em tempo real é a melhor maneira de prevenir irregularidades”. Assim, passei a ter uma relação diária com a imprensa. Diferentemente do que ocorria antes, tudo de relevante na Câmara era rela- tado aos jornalistas. Determinei que as reuniões da mesa fossem taquigra- fadas e seu conteúdo colocado à dis- posição na presidência e na biblio- teca. Quando veio a notícia de que o conserto do heliporto havia sido pago duas vezes, instalou-se uma comis- são para apurar o caso, com apoio do Ministério Público. Decidi que as reu- niões da mesa diretora fossem trans- mitidas ao vivo pelo sistema de som da casa. A relação completa dos servi- dores, respectivas funções e remune- rações passaram a ser divulgadas no Diário Oficial . Inúmeras irregularida- des foram desvendadas e corrigidas. Em função da repercussão do traba- lho, o PT indicou-me para ser sena- dor por São Paulo. Primeiro senador eleito pelo PT, em 1990, com4,2milhões de votos, 30%do total, dei grande importância à trans- parência na administração pública. No Senado, fui o primeiro senador a acessar os dados de receita e des- pesas do Sistema de Administração Financeira da União (Siafi). Diversos jornalistas interagiram com os servi- dores de meu gabinete. Com o apoio da imprensa passei a divulgar gastos, tais como as compras realizadas pelos palácios do Planalto e da Alvorada, as distorções detectadas na Legião Bra- sileira de Assistência em vários Esta- dos, como Alagoas, e as despesas rea- lizadas pela Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da Repú- blica. Quando divulguei essas infor- mações, o governo Fernando Collor interrompeu o acesso ao Siafi. No segundo semestre de 1991, duas vezes por semana solicitava que se restabe- lecesse a conexão. Somente cem dias depois, após o apelo do presidente do Senado, Mauro Benevides, ao minis- tro da Fazenda, Marcílio Marques Moreira, que se encontrava acordando emTóquio às 6h30damanhã, o acesso ao Siafi foi restabelecido. Noprimeiro semestrede 1992, Pedro Collor deMello, irmão do presidente FernandoCollor, deu uma entrevista à Veja relatando as atividades de Paulo César Farias, tesoureiro da campanha presidencial. PC Farias exercia extra- ordinária influência sobre as deci- sões governamentais, aproveitando- -se para enriquecer ilicitamente, com vantagens para o presidente. Consi- derei tão relevante que fui conversar com Pedro Collor. Convidei o depu- tado José Dirceu para ir comigo ao Hotel Maksoud Plaza, em São Paulo, onde Pedro estava hospedado, e lá falamos por cinco horas. Ficamos tão impressionados que viemos à minha casa escrever o requerimento de uma Comissão Parlamentar de Inquérito. Recolhemos assinaturas em número suficiente para que no Senado e na Câmara se instaurasse a CPI Mista para apurar o tráfico de influências de PC Farias envolvendo autorida- des governamentais e as denúnciasdo irmão do presidente. Numa parceria com os jornalistas, que se destacaram no levantamento de informações e no aprofundamento das investigações, como os depoimen- tos domotorista Eriberto França e da secretária Sandra Fernandes de Oli- veira, a CPMI teve um resultado alta- mente positivo. Aampliação das inves- tigações acabou resultando nos esfor- ços por “Ética na Política”. Depois da campanha por “Diretas Já”, de 1983- 4, aquela se tornou o mais impor- tantemovimento cívico, comenormes manifestações pacíficas em todas as cidades, as quais culminaram com o afastamento do presidente Fernando Collor em 30 de dezembro de 1992. ■ eduardo matarazzo suplicy é economista, professor e secretário municipal de Direitos Humanos e Cidadania de São Paulo.

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